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Que estranha a memória do que foi
E em vão quero em remendos recompor
Memória que reluz e já não dói
Que foi, não é, talvez não mais amor.
Que estranha a memória, esse mundo
Mais vasto que o presente agora incerto.
Revem, mundo memória, e toca o fundo
De mim lavrando a alma e o ser deserto.
Que estranha a memória do amor
Da dor, da perda, do rastro de poesia
Que a noite convertia em esplendor
E o oco do que é ser não mais doía.
E o eco de outro som na noite vinha
Soprando entre o mar e a cidade
E tudo que sobrava, que eu retinha
Era rito de amor, felicidade.
Mas onde essa memória, onde se esconde
A vida que esvaída quis salvar.
Seu sítio, em que mapa, diga onde
O tempo do vivido, onde há?
A voz na noite vaga me responde:
O tempo é o presente e nada mais
Existe ou de tua busca já se esconde.
Memória é o que sobra nos anais
Jornais, diários, trapos da saudade;
Memória é a ilusão de reviver
O que vivido não será jamais.
O eco não é mais felicidade.
Recife, 23 de agosto de 2011.
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