Ordem e progresso
Lembram o binômio
positivista inscrito no coração da bandeira brasileira? Nunca tivemos ordem,
muito menos progresso. Mas não duvido de que o Brasil marcha cada vez mais
determinado rumo ao progresso da desordem.
Moda
Força de pressão
mimética, a moda é a mais fugaz das glórias, pois é por definição passageira.
Na história da arte do século 20, as vanguardas pipocaram em cadeia movidas
pelo mito do progresso estético. Tudo que restou foi um terreno baldio, ou um
vão cemitério que nada guarda. Por isso acho que vanglória deveria ser sinônimo
de vanguarda.
Moderno
Ser moderno é ser o
ontem de amanhã. Como estranhar que um conceito tão infeliz seja ainda um mito
vivo do presente? Afinal, o presente, dentro e fora da arte, converteu a beleza
e o prazer estético em produto descartável. Mas a arte, liberta das prisões
temporais, continua soprando sua beleza aonde quer. Quem é capaz de
reconhecê-la sabe onde encontrá-la.
Moderno II
Ser moderno enquanto
fato é apenas ser contemporâneo. Ser moderno enquanto valor é um paradoxo, pois
quando o moderno tem o poder de se desatar do tempo deixa de ser moderno.
Arte experimental
O que me salvou da arte
experimental foi o tédio. Precisei de tempo, sobretudo de liberdade individual,
para conquistar a coragem de dizer que o progresso na arte é pura mistificação.
À parte os museus, única instituição que significativamente ainda patrocina os
herdeiros de Marcel Duchamp, resta apenas esta evidência: a arte experimental
morreu de excrementação.
Conservador
O presente tornou-se
tão pavoroso que até os revolucionários lúcidos converteram-se ao
conservadorismo. O bem que sobreviver no futuro será obra dos conservadores.
Juro que jamais me imaginei escrevendo essa verdade que o espírito do tempo no
qual me formei abominaria como tralha reacionária. No entanto, girando agora
nos cacos da história o relógio do eterno retorno, resigno-me a dizer que viver
é regredir. O único progresso previsível e fatal é o da idade em direção à
morte.
O futuro da vanguarda
Depois de tanta
diluição, o único futuro que resta à vanguarda é a morte.
Consolo da vanguarda
O grande consolo da
vanguarda é sempre acreditar que está além do seu tempo. Oswald de Andrade: A
massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico. Admirável como boutade, mas
desastroso como vaticínio. A massa continua deliciando-se com bolacha mofada,
quando tem o que morder, enquanto o biscoito fino de Oswald apodrece nas
prateleiras da padaria. Pobre consolo que continua merecendo da posteridade a
mesma indiferença dos contemporâneos.
Recife, 7 de abril
2014.
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