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Fosse outra a festa, não essa
Que a gente bebe e até dança
Gesto ideal, não a pressa
Ferindo nossa esperança.
Fosse outro o sonho, outro arcano
Vestindo nossa paisagem
Outro o Ano Novo, outro o engano
Iluminando a viagem.
Fosse outro o som, um piano
Tecendo o acorde, harmonia
Enlace de tantos anos
Na luz do mais puro dia.
Fosse essa festa a razão
De um outro modo de ser
Outro o ideal de união
Outra a expressão de prazer.
O que por fim restaria
Imaginar e escrever?
A falta é o gen da poesia
Razão de ser e viver.
A falta figura a praça
Num gesto de pura dança
E a mão que toca e abraça
Vê na miragem que passa
O sonho que nunca alcança.
Fernando da Mota Lima.
Recife, 31 de dezembro de 2002.