sexta-feira, 6 de maio de 2016

No Mural do Facebook XIV


A Política e o espírito de rebanho:

As pessoas acreditam espontaneamente, até porque essa crença conforta nosso ego inseguro, que praticam o livre arbítrio, que agem de acordo com sua cabeça e convicções. Nada mais ilusório. A verdade é que a maioria diz sim. Dizemos sim porque não é fácil pensar e escolher com a própria cabeça. Esta, o que nela é introjetado através de um infindável processo de socialização, é no geral um emaranhado de preconceitos, lugares comuns, crenças induzidas pela nossa experiência social.
Um universitário, por exemplo, tende a compartilhar as ideias instituídas no meio. Pensa as ideias da maioria, aprecia a arte da maioria, etc. Como no entanto é formalmente ideologizado, critica o eleitor ignaro, o que vota por interesse, conveniência ou qualquer outra razão condenável.
Já ouvi muita gente esclarecido dizer que a desgraça da nossa política é a ignorância do povo. Confesso que endossei esta opinião. No entanto, ao atentar para os momentos de grandes embates partidários e ideológicos, concluí que a maioria segue o trote do rebanho. Nâo há nada que ilustre isso melhor do que a história dos intelectuais durante o século xx. O trote do rebanho já neste século, embora o Brasil continue largamente paralisado no século xix, confirma o enredo. Perdi minha crença no discernimento e superioridade humanista dos intelectuais depois que examinei o culto e colaboração ativa que muitos dos maiores intelectuais do mundo emprestaram a ditaduras, tiranos e atrocidades que chegam ao limite do mal praticado na história da humanidade.
Outra verdade que deduzo na contracorrente do que acima expus é o isolamento ou perseguição movida contra quem de muitos modos ousa dizer não, ousa seguir seu próprio caminho inspirado na voz do que Kant chama de imperativo ético categórico. Até no país mais civilizado e de mais admirável tradição liberal que conheço, a Inglaterra, Bertrand Russell perdeu posições, praticamente todos os amigos e purgou um áspero isolamento quando escreveu The Practice and Theory of Bolshevism. É uma obra pioneira e profética, pois foi publicada em 1920. Fruto de sua viagem à Rússia, no auge da Revolução de 1917, nela Russell ressalta o caráter totalitário do comunismo e qualifica Lenin como um fanático. Como membro de uma delegação importante de políticos ingleses, Russell foi pessoalmente recebido por Lenin, com quem conversou durante cerca de uma hora.
Concluindo, se você depende da companhia de amigos dentro ou fora do Facebook, recomendo que siga o trote do rebanho. Duvido da qualidade desses amigos que nos desprezam quando a eles nos opomos, seguimos nosso caminho irredutível, optamos pela consciência antes da conveniência ou malabarismo militante, mas essas razões são irrelevantes, quando não inconscientes, para o boi de rebanho. Lembrando uma canção de Chico Buarque dos tempos em que ele tinha a coragem de dizer não à ditadura, embora hoje diga sempre sim ao PT e a todos os regimes que supostamente correspondem às suas convicções, "vence na vida quem diz sim". E logo lembro outra canção que responde: "Não diga não, não me deixe sozinho..."
(Postado no Facebook, 28 de abril de 2016).

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