segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
A velhice II
Os sintomas da velhice
São tantos que os desconheço
Por isso nunca te disse
Verdades que não mereço.
São tantas as suas dores
Tão vários os seus achaques
Que há quem em meio aos tremores
Não lhe resista aos ataques
De febre, temor, fraqueza.
Reumatismo e dor nas juntas
Torpor e vaga tristeza
Embrulham duras perguntas
Que a doença da idade
Espeta no corpo velho
E a crua realidade
Enquadra na luz do espelho.
Por isso agora me sento
Ora na cama, na rede
E quando não mais me aguento
Mato com vinho essa sede
De vida que me percorre
O corpo já fatigado
E se o desejo me corre
O corpo cai derreado.
Que bom chegar aos noventa
Assim como já me sinto
Sabendo que o corpo aguenta
Toda mentira que minto.
Um dia serei poeira
Cumprindo o que há muito sei:
Lavrei minha vida inteira
Pra merecer esse velho
Que a meu modo serei.
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