Impermanência
Tudo é impermanência:
Eis tudo que é
permanente.
Mas nossa humana
demência
Sonha o eterno
presente.
Vaticínio realista
Ame e viva o presente
Porque o futuro será
muito pior.
Confissão
A confissão migrou do confessionário
para o divã, que é interminável e caro. Confiei sempre, até por ser pobre, na
confidência da amizade, relação de reciprocidade isenta de guichê e outros
interesses escusos. Como esta, a amizade, dissolveu-se em relação de mercado,
restou-me a literatura, que converte a confissão em ficção. Não sei de analista
melhor. Não cura nada, como a psicanálise, mas pelo menos não custa nada.
Alfabetização
No meu tempo, Ivo se
alfabetizava vendo a uva. Hoje Ivo come a uva, depois a viúva, mata a aposentada
e fica com a pensão.
Democracia
Quem diz que a
democracia é o governo do povo, não conhece o povo, muito menos o poder.
Verdade política
Se um político lhe
disser a verdade, ainda que baseado em provas, não acredite. Há sempre o risco
improvável de as provas serem verdadeiras.
Fidelidade
Era tão fiel que traía
duas vezes antes de falar.
Ambição
Sou tão ambicioso que
me iludo com a ilusão de me contentar com o que sou e tenho.
Dinheiro e felicidade
Se o dinheiro não traz
felicidade, como juram os que têm demais e os que não têm nenhum, preferiria
ser infeliz com muito dinheiro.
O criador e a criatura
Se Deus existe, como
explicar que tenha criado uma espécie tão imperfeita quanto a espécie humana?
Morrer
Morrer é provavelmente
nosso medo extremo. Mas tem uma vantagem: só acontece uma vez. A não ser que
você se chame Lázaro e tenha um amigo chamado Jesus.
Imitação da vida
A maioria dos seres
humanos não é socializada para ser livre, mas para imitar a maioria. Conheço
raros indivíduos fiéis à radicalidade libertadora do individualismo.
Acaso e azar
O brasileiro é tão
fatalista que confunde o acaso com o azar.
Recife, 4 de abril
2014.
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