quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Letícia Teles Sampaio


Letícia Teles Sampaio
Caiu sobre mim assim:
Como se fosse um raio
Sopro suspiro desmaio
Me desavindo de mim.

Letícia Teles Sampaio
Entrou sem pedir licença
Como soluço, doença
Facho de luz e demência
Flor no frescor da inocência
Verão num jardim de maio.

Letícia Teles Sampaio
Que faço agora de mim?
Não sei se entro, se saio
Se no teu gozo desmaio
Se sol no teu céu ou raio
E eis-me perdido de mim.

Recife, junho 1994.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Marcela Viaja


Eu vou pra Serra Talhada
Sozinha pela estrada
Em noites de solidão
E ao mundo aceno meu lenço
Retendo o que muda penso
E sinto na escuridão.

O mundo dá tantas voltas
E em suas águas revoltas
Drena o amor e o sonho
Drena o que fui e queria
Mas resta o sopro, a poesia
No que perdida reponho.

A estrada é longa e comigo
Vou viajando e sigo
As curvas do meu caminho.
Há tanto que viajar
Mas o que busco é achar
A rota de um outro ninho.

Às vezes na madrugada
Na estrada silenciada
Choro saudades da vida
Que foi tão outra e enganosa
Mas coloria na prosa
A dor de uma flor traída.

Mas sei que a estrada amanhece
E outra paisagem floresce
No chão da viagem só.
Outras cidades virão
Cantar comigo a canção
Que varre a sombra e o pó.

E já não canto sozinha
Traçando as curvas da linha
Que segue pro litoral.
Sei de outros modos de canto
Feitos de riso e de pranto
De fado meu, tropical.

Recife, 04 / 06 / 2007

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Se nos oriente


Valéria, o que valeria
o metro desta poesia
que à luz da tarde improviso?
Como moldar, traduzir
esse desejo de ir
além do que já preciso?

Preciso dar luz e forma
à prosa que vai e torna
a enredar-te com Freyre.
Essa viagem tão linda
vai do Oriente a Olinda
do latifúndio ao alqueire.

É variante de ensaio
novena em noite de maio
essa confessa pulsão
que faz de Freyre e de ti
um sonho de ir e vir
doutro Brasil à paixão

que arde em teu coração
fundindo afeto e razão
o Outro e seu Ocidente.
Tudo mal feito e transcrito
o que aqui vai e dito
tão pouco é que desmente

o que intentei versejar
entre te ler, te amar
nas linhas da amizade
que há tanto nos concilia.
Mas onde a arte, a poesia
no sopro, na luz do dia
que nos irmana em saudade?

Recife, 2 de dezembro de 2011.