Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 12 de junho de 2017

No mural do Facebook XXXI


Os males do Facebook:
Os poucos que me concedem atenção no Facebook por certo já notaram que deixei de falar de política, o assunto dominante na rede. Confesso que a maior parte do que vejo, há muito deixei de ler, não tem nenhum sentido para mim. Antes que me acusem de omissão, como já o fizeram, não acho que tagarelar compulsivamente sobre toda essa lama, essa bandidagem que afunda o Brasil, seja participar da política no sentido de orientá-la positivamente.
Os poucos que me leram, e no geral convergem com minha perspectiva política, assim como no modo de praticá-la na rede, sabem muito bem o que penso. Já postei aqui com nitidez o que penso de todo esse processo de degradação da política e do país. Tanto é verdade, que perdi vários "amigos" ou oponentes ideológicos. Também fui com frequência incompreendido por opinar isento de qualquer vinco de intolerância ou partidarismo.
Sempre concebi e usei o Facebook como uma tribuna de livre opinião, um exercício de reflexão pública. Em suma, queria doar meu grão de civilidade à barbárie na qual vivo sitiado. Por isso não acho que a linha dominante do que falam, denunciam e até caluniam concorra em nada para melhorar nossa interação e o estado inqualificável da nossa crise política cada vez mais degradada e degradante.
Isso tudo que há de negativo tornou-se apenas conversa de salão no pior sentido do termo, isto é, tagarelice dos que se associam para verter o que a realidade e eles próprios têm de pior. Aliás, muitos assim procedem por não saberem o que fazer de suas vidas, do seu tempo diluído em aridez e futilidade.
Ao escrever isso, e sobretudo declarar meu distanciamento ainda maior (continuarei lendo e ocasionalmente comentando apenas o que corresponde à escolha da minha liberdade ética e subjetiva), estou me tornando ainda mais isolado socialmente. Privado de viver uma vida normal, a rede virtual era (é) meu vínculo principal com as poucas pessoas que são parte da minha vida.
Mas que fazer? Quem escolhe sua liberdade possível, cada vez mais difícil, escolhe também o preço que ela implica. Enfim, amigos do Facebook, estou saindo ainda mais. De resto, poucos notarão esse fato e aceito que assim seja.
(Publicado no Facebook, 27 de maio de 2017).

O reinado da psicologização:
No início dos anos 1960 Philip Rieff escreveu sobre a emergência da cultura terapêutica, ou do homem psicológico. Sua antevisão é hoje incontestável. Hoje tudo parece ser explicável ou diagnosticável pela psicologia. A evidência orgânica da doença, comprovada por exames sofisticados, não isenta o paciente de ouvir este diagnóstico fatal: seu problema é de cabeça, ou emocional. Os médicos também incorrem nesse diagnóstico, sobretudo quando não sabem o que fazer com o paciente e seus males. Afinal, apesar da soberania profissional e cultural que passaram a exercer, sua suposta ciência é bem mais inexata do que presumem muitos dos seus críticos.
Tenho um amigo sofrendo de problemas orgânicos inquestionáveis. Como a doença alterou radicalmente sua vida, hábitos, formas de convívio etc, é evidente que há no seu quadro clínico fatores psíquicos cuja apreensão depende apenas de bom senso. Mas o problema é que médicos, amigos, no geral com a intenção de o ajudar, invocam reiteradamente os fatores psíquicos. Tanto o fizeram que ele concordou em tomar um antidepressivo. Se estava mal, ficou ainda pior.
Saltando para outros contextos, já me cansei de ouvir amigos falando apreensivos da depressão de filhos ainda crianças. Hoje mesmo um me disse que a filha, com apenas 11 anos de idade, está tomando medicação antidepressiva. O sofrimento da perda de alguém que amamos também passou a ser diagnosticado como depressão. Poderia multiplicar os exemplos ao infinito. Vários presos da Lava Jato foram diagnosticados como padecendo de depressão, alegação usada por seus advogados para que fossem libertados. Enfim, Philip Rieff anteviu esta banalidade: a psicologização da nossa cultura, da doença em geral, de estados emotivos que são simplesmente parte constitutiva da natureza humana. Quem perde um amor sofre, se entristece, pode até ficar deprimido. Mas agora a depressão tornou-se um conceito clínico que passou a recobrir e supostamente explicar todos esses sintomas. Como todo absoluto, acaba não tendo mais nenhuma operacionalidade. É como afirmar, como tantos já o fizeram, que tudo é político. Ora, como explicar a realidade na sua totalidade com um conceito de sentido absoluto? Uma coisa acaba anulando a outra.
(Publicado no Facebook, 07 de junho 2017).

O que é democracia?
A democracia não é apenas um regime regido por valores e práticas restritos às instituições políticas. Ela só existe verdadeiramente quando esses valores e práticas se tornam normas correntes balizando o conjunto das nossas relações sociais. É por isso que a Inglaterra, o país mais democrático que conheço, nunca teve uma Constituição formal. Ela é fruto de uma longa e complexa invenção coletiva.
É devido às razões acima grosseiramente esboçadas que insisto em dizer que não somos, nunca fomos uma democracia. Basta observar questões fundamentais como o exercício dos direitos humanos, a relação entre o Estado patrimonial e os direitos individuais, a relação essencial entre a realidade e o que prescrevem as leis do país. Estamos cansados de ler e ouvir os que falam do divórcio real entre o Brasil real e o Brasil legal. No papel somos, sim, uma democracia. Mas papel aceita tudo, como dizia Graciliano Ramos, que amargou de muitas formas o gosto da nossa democracia.
É também devido à definição grosseira de democracia aqui proposta que não me canso de citar os grandes intérpretes do Brasil, notadamente Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Se o faço, é porque tiveram fina percepção do país baseados nos princípios da história de longa duração, na relação entre as instituições sociais e a vida cotidiana. É nesta que melhor captamos nossa "democracia". Seremos uma democracia quando o povo for capaz de a inventar não apenas reformando radicalmente as instituições políticas, mas praticando-a nas práticas e valores cotidianos.
(Publicado no Facebook, 10 de junho de 2017).

quinta-feira, 1 de junho de 2017

No mural do Facebook XXX


A solidão da noite:
Acesso o Facebook porque neste momento me sinto muito sozinho, sofrendo um modo de solidão raro. Previa encontrar a tagarelice política de sempre. Também eu me indigno, me desolo assistindo a tudo isso que vai ao mais fundo esgoto do país. Mas essa obsessão com tudo que há de podre no que estamos vivendo não é também um sintoma da aridez das nossas vidas? Vejo tanta gente solitária e infeliz, tanta gente carente de amor, amizade, dos gestos de humanidade que dão sentido a nossas vidas. Mas quase todos se prendem a tudo que há de pior na nossa realidade, aos apelos de mudança e justiça abstratas enquanto nos ignoramos e mudamente acenamos para o vazio na solidão das ilhas que habitamos.
Queria simplesmente uma voz amiga, alguém em quem me reconhecesse e reconhecesse minha humanidade, um modo de vida e país que estão devastando. Estou nauseado de tanto ler ou ouvir falar dessa política suja, de todos esses bandidos que estão destruindo o que resta de vida bela e decente neste país. E assim, solitário e carente no deserto da cidade sem gente, me perco do meu senso de discrição e privacidade e assim desabafo sem esperança de um eco humano que replique: "Aqui, Fernando, aqui também fala no deserto da noite outra voz carente de humanidade, de um senso de presença e delicadeza que estamos suprimindo do solo quotidiano de nossas vidas".

Qual é a sua droga?
Drummond escreveu num poema que cada um tem sua droga. A dele, está no poema, é a poesia. Freud morreu viciado em charuto. Fumava uma média de 20 por dia mesmo sofrendo estoicamente de câncer na mandíbula e mais de 30 cirurgias durante seus últimos 16 anos de vida. Também ele dizia: o ser humano não pode viver sem algum tipo de droga. Qual é a sua?
Tenho as minhas e algumas são muito saudáveis. Sem elas, minha vida seria mais infeliz, ou menos tolerável. Portanto, deixemos que cada um viva de suas drogas. Mas escolho meus drogados.
Confesso que ando fugindo dos drogados pela política. Estes parecem ignorar que atacando, perseguindo, odiando todos esses bandidos incontáveis, os que convertem a grandeza da vida em esgoto e sarjeta, estes indignados obsessivos estão injetando o que a vida tem de pior no recesso da sua liberdade, naquela esfera única de nossas vidas onde podemos ser mais livres e saudáveis.
Jamais permiti nem permitirei que esse esgoto da vida contaminasse o melhor do que sou, vivo, penso, compartilho com os que elegi para fazer de minha vida algo melhor. Pense nas drogas que você injeta na sua subjetividade. Pense ainda em se curar ou pelo menos manter à distância tudo que você odeia e deforma sua percepção e vivência da realidade. Saiba que, se não fizer isso, a vítima maior será você. Por isso quero ser fiel ao cultivo do meu jardim,como diria Voltaire. Todos os dias rego algumas drogas preciosas. São elas que conferem sentido e beleza à minha vida.
(Publicado no Facebook, 20 de maio de 2017).

A inconsciência nacional brasileira:
Quando Macunaíma perde Ci, a Mãe do Mato e único amor de sua vida, e em seguida a muiraquitã, pedra mágica presenteada pela amada, viaja para São Paulo à caça do Gigante Piaimã, que se apropriara da pedra. Antes, porém, deixa a consciência na ilha de Marapatá.
Segundo a lenda, os que iam para a floresta amazônica explorar os seringais deixavam a consciência na ilha antes de mergulhar na aventura em busca da riqueza. Aventurar-se voluntariamente sem consciência significa fazer qualquer coisa por dinheiro. Pensemos aqui nos "seringueiros" da nossa classe dirigente. Depois que mata o Gigante e retorna à floresta, Macu vai recolher a própria consciência, mas não a encontra. Então pega a de um hispano-americano e se dá bem do mesmo jeito. Sei que é possível ler o texto de muitos modos. O que ressalto é que também traduz a inconsciência do herói da nossa gente.
Precisei espremer o contexto do meu argumento para chegar ao presente que mais importa. Estamos mergulhados na mais grave crise da nossa história republicana, que aliás, nunca chegou a ser isso. Num país cujo povo tivesse consciência nacional, haveria no mínimo uma reação popular que forçaria uma mudança radical. Aqui, no entanto, a maioria, assiste ainda bestificada (como diz certa frase famosa sobre a Proclamação da República, que não passou de um golpe de Estado) à podridão sem precedente vazando dos esgotos e invadindo as ruas.
O povo continua bestificado. Imaginem como reagiriam os corinthianos, por exemplo, se o time caísse para a 2a. divisão, ou simplesmente fosse ameaçado por tamanha tragédia. O povo no Brasil continua constituindo unidade nacional se se trata de futebol ou carnaval. O que estamos vivendo é para mim uma prova de que estamos ainda longe de constituir, enquanto povo, uma entidade nacional.
(Publicado no Facebook, 24 de maio de 2017).

quarta-feira, 24 de maio de 2017

No Mural do Facebook XXIX:


A beleza pura:
A beleza que mais amo e cultuo é a beleza pura, isto é, isenta de adereços e artifícios. Ela é como é, transparente como a luz que a revela na pureza das linhas em que é moldada. Refiro-me antes de tudo à beleza da mulher, que é a forma suprema da beleza. Contemplá-la adormecida, ou acordando tocada pela primeira luz do dia, foi sempre um momento de mistério e emoção inefável na minha vida.
Produto e expressão da natureza, ela é mutável como tudo que é da ordem da natureza humana. Portanto, muda sem dissimular o seu ser mutável. Infelizmente, no mundo de simulacro em que vivemos, ela é cada vez mais rara. Hoje, até na plenitude do seu esplendor ela já não se contenta com sua forma de esplendor. Por isso quer sem além do que é e acaba sendo apenas simulacro, além de valer-se de todas as formas de artifício para ser o que apenas parece. Por isso nunca é.
(Publicado no Facebook, 30 de abril de 2017).


Relendo Macunaíma
Ci, ó Ci, ó Mãe do Mato
Gemia Macunaíma,
Imperador da Amazônia,
Amor primeiro, ó Ci
Nunca terá companheiro.
Seja no céu, seja aqui
És meu gozo e cativeiro.
(Publicado no Facebook, 7 de maio de 2017).

Nossa orfandade política:

Embora tão grande e velho, meu Deus, o Brasil continua sendo um país de órfãos políticos. Digo um porque o fenômeno é extensivo à América Latina. Não explicito as raízes históricas desse fenômeno (dissecado, entre outros, por Octavio Paz) porque aqui a gente tem que ser curto (não falta quem seja curto e grosso).
O mito do rei Dom Sebastião, lá dos fins do séc. 16, continua bem vivo no presente. O povão, o povo e até a maioria da nossa suposta intelligentsia aguarda ainda o salvador da pátria. Já houve muitos e outros virão, à esquerda quanto à direita.
E assim vamos à deriva variando do delírio otimista à perplexidade expressa em frases que deveriam ser gravadas na nossa bandeira cujo lema, aliás, deveria ser Desordem e Regresso. As frases? Por exemplo assim: Que país é este? Por que o Brasil não deu certo? Por fim há também as frases consoladoras do tipo: Deus é brasileiro; Brasil, país do futuro; Com jeito vai; Deus é fiel...
Nenhum país é fruto de um pai salvador. Nenhum país se constrói vivendo de ilusões consoladoras. O verdadeiro agente fundador de qualquer país é o seu povo. Portanto, o que precisa mudar é a nossa mentalidade, as nossas instituições, a consciência coletiva. Em suma, a conversão do órfão em sujeito da sua história.
(Publicado no Facebook, 9 de maio de 2017).

A história tem sentido?

Observo de passagem os posts em louvor da família, do dia das mães, de todos os valores típicos da sociedade burguesa que os rebeldes da minha geração queriam destruir. O auge dessa "onda revolucionária" (com as devidas aspas) foram os anos 1960 e 1970. Também joguei esse jogo com razões pessoais ponderáveis, pois minha família se desintegrou de fato. Mas conheci muita gente careta (como dizia a gíria da época) que não passava de rebelde financiado. Quanto a esses, nunca me enganei. Sabia que voltariam para casa e para o aconchego do mundo burguês tão logo a chuva passasse. Escrevi alguns artigos dizendo isso no jornal anarquista O Rei da Notícia. Aliás, era anarquismo patrocinado pelo Estado, o que é típico do Brasil.
Saltando para o presente, há muito noto que todo mundo se reacomodou com total inconsciência no mundo que negava radicalmente. Parece que a real herança daqueles anos loucos e inconsequentes foi o vale tudo em que passamos a viver. De fato, reduzimos a poeira os valores mais sólidos da família e das instituições integradoras dos indivíduos na sociedade, mas voltamos a celebrar a família e tudo que ela tradicionalmente representava como se tudo fosse como antes. Parafraseando Shakespeare, inconsciência, teu nome é Brasil.
(Publicado no Facebook, 16 de maio de 2017).

O Horror, o horror:

Sei que esta frase aparentemente banal já está mais do que banalizada. Ela condensa o sentido de O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, uma das obras fundamentais da literatura moderna. Corro os olhos pelos comentários do Facebook, quando o Brasil mergulha cada vez mais no abismo, e me desola a aceleração da histeria maniqueísta. Noutras palavras, tudo serve de munição para o Fla X Flu ideológico que já não suporto. Poucos vislumbram o horror perpetrado pela classe dirigente que governa este país há séculos garroteando e alienando o povo.
horror parece a muitos invisível ou até inexistente, fruto da imaginação de quem leu Conrad em excesso. Mas ele lateja e sangra nas ruas, nos hospitais, nos crimes inomináveis praticados por um Estado parasita e cruel. Ele depreda e impede qualquer processo efetivo e sustentável de reformas substanciais que nos libertariam da canga do passado, do horror que condena à miséria e ao desamparo um país rico onde a riqueza criminosa e a bandidagem nos condenam à condição de uma republiqueta de terceira classe. É esse o horror que governa o Brasil.
(Publicado no Facebook, 19 de maio de 2017).

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Aforismos


O aforismo é uma verdade que vai além da verdade, ou pelo menos excede o que o erro mascara.

A verdade factual é apenas um fato. Portanto, não se confunde com nenhuma forma de relativismo. Nossa condição relativa não autoriza a dedução de nenhum fato relativo. Quando um homem mata outro, a morte deste é um fato absoluto.

As coisas estão no tempo, não no espaço. Como nos engana a renitente ilusão que nos induz a buscar no espaço tudo que perdemos e ansiamos ao menos revisitar. Os mitos do passado individual ou coletivo que a nossa imaginação maquina, dissolveram-se no espaço ou sofreram mutações profundas. Tudo que retemos e em nós sobrevive radica na memória, substância imaterial do tempo. Não busques fora de ti um modo de realidade irredutivelmente subjetivo.

Nada nobilita tanto o mal quanto o fato de ele ser praticado em nome de um grande ideal. Por isso, muitos dos mais sinistros tiranos foram venerados como idealistas modelares.

Se a mentira tem pernas curtas, por que no Brasil ela se eleva a alturas tão vertiginosas? O mais inconcebível é que muitas se sustentam soberanas como verdades absolutas.

Um leitor maliciosos e iletrado perguntou-me com ar fingidamente pesaroso por que nunca publiquei meus poemas. Ora, por temor de ser esquecido antes que me lessem.

No Brasil, continuam fingindo que campanha educativa resolve crime policial. Aliás, o alvo não é a solução do crime, mas o imposto do contribuinte, que continua à mercê da impunidade e do Estado parasita e corrupto.

É fácil desmascarar um falso amigo. Basta você dizer que está doente. Os mais indiferentes deixam até de lhe telefonar.

Noel Nutels disse que no Brasil ninguém come ninguém por via oral. No entanto, a julgar pelo odor do matadouro, já é tempo de restaurar o canibalismo dos Tupinambás.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

No Mural do Facebook XXVI


Consciência e alienação:
Tudo já foi dito, mas importa repetir o que não deve ser esquecido ou é ignorado pela maioria. Esta é de Bernard Malamud: Não é a loucura que põe o mundo às avessas, mas a consciência. Revolucionou a minha quando eu era jovem e vi o filme O homem de Kiev, baseado no livro cujo título é The Fixer. Foi traduzido no Brasil pela Bloch Editores. É irônico que o marxismo, a ideologia cujo objetivo era dissolver a alienação humana através da consciência de classe, se tenha degradado numa religião secular. Portanto, numa farsa da religião. Por isso disse que o religioso sabe que crê, enquanto o ideólogo que crê que sabe. O Brasil está vivendo essa repetição da ideologia como farsa religiosa que não ousa dizer o seu nome. Melhor dizendo, é tão alienada que não sabe que é religião.
(Publicado no Facebook, 29 de dezembro 2016).

A diferença entre o religioso e o ideólogo:
O religioso sabe que crê, enquanto o ideólogo crê que pensa. Como tudo já foi dito pelo menos desde o Eclesiastes, com certeza alguém escreveu isso antes de mim.
(Publicado no Facebook, 29 dezembro 2016).

A bondade dos estranhos:

Tenho um amigo que se diz afortunado por receber a bondade dos estranhos. Embora tenha ajudado a tantos amigos e conhecidos, nas horas adversas nunca esses lhe prestaram a ajuda de que precisava. Sua sorte, portanto, é quase sempre aparecer-lhe o estranho bondoso na hora da carência ou necessidade. A bondade dos estranhos é não-só imprevisível, mas também desinteressada. Feliz do necessitado que, desamparado pelos supostos amigos, encontra um ancoradouro na bondade dos estranhos. Mais que impagável, o bem que lhes deve, e para sempre guardará na memória da gratidão, renova sua precária confiança na imperfeita natureza da nossa condição.
(Publicado no Facebook, 20 dezembro 2016)

Vida, amizade e reciprocidade:
Comentando meu post mais recente, A bondade dos estranhos, alusivo à peça e filme escritos por Tennessee Williams, Heloisa Pait observou com razão que a vida não é feita de ações baseadas na reciprocidade. Relacionando a vida estritamente ao tema um tanto vago que aqui discuto, entendo a vida como uma rede complexa de ações e reações imponderável. Encurtando a rédea do meu galope toscamente filosófico, a ponderação ética que me ocorre ressaltar consiste no reconhecimento de que é insensato fazer o bem movido pela intenção de reciprocidade. O ideal seria praticá-lo como disse fazê-lo o estranho bondoso. Este, até por não conhecer a quem doa, faz o bem de forma desinteressada. Se no entanto consideramos a amizade neste contexto, suponho que ela implica reciprocidade. Não digo que isso esteja implicado no plano da intenção do amigo que faz o bem, mas na natureza da amizade. Se de fato sou amigo de alguém, este pode contar comigo na hora da necessidade, naquela ordem de circunstância que diferencia a amizade da mera relação de conveniência, interesse ou cálculo. Entendo, portanto, que a reciprocidade está necessariamente compreendida na amizade, não na vida compreendida no sentido genérico com que acima intentei caracterizá-la.

Declaração de omissão:

Que os militantes da minha geração me desculpem, mas declaro que optei pela omissão. Quero dizer, não quero e nunca quis envelhecer frequentando o Facebook e coisas semelhantes para desabafar minha revolta e impotência diante dos impasses insolúveis do Brasil. Já vivi e refleti o bastante (detestaria viver uma vida sem exame e revisão impiedosa da minha experiência e de minhas ilusões) para repetir o que há muito penso: o Brasil é inviável. Poderia expor evidências históricas e pessoais infindáveis para justificar esse juízo que para muitos não passa de pessimismo ou omissão. Para mim é apenas realismo. A história do Brasil nem chega a ser farsa, lembrando a frase célebre de Marx; é apenas a comprovação de que somos "the centre of paralysis", como escreveu o "apolítico' Joyce definindo a Dublin que imortalizou na sua obra.
O Brasil é um fazendão incivilizável. Falta-me o pessimismo (isto é, realismo) heroico de Antonio Callado e o otimismo delirante, também heroico, de Darcy Ribeiro. Fico com o primeiro, diante de quem me envergonho de propor qualquer comparação pessoal. Depois de tanto lutar para civilizar o fazendão, ele, que foi um modelo de civilidade e coragem, afirmou que o Brasil tinha apenas grandeza geográfica.
Melhor voltar a cultivar o meu jardim. Minhas flores não brigarão comigo como brigaram tantos "revolucionários, amigos, democratas, salvadores da pátria, órfãos da utopia, comissários do povo, viciados no otimismo a qualquer preço". Fico com a minha omissão, meu jardim voltariano, minha arrière boutique montaigniana.
Pena que tudo isso sequer nos ajude a reconhecer nossa intolerância, nossa indiferença à realidade iníqua que alegamos combater, nossa servidão voluntária, nossa sujeição eterna à esperança. Não foi à toa que, no auge da ditadura, um show intitulado "Brasileiro: profissão esperança" alcançou tanto sucesso. É a nossa cara. Vivemos de esperança, futebol, carnaval e retórica vazia. O Brasil perdeu o trem da modernidade de forma tão aberrante que nos restaram apenas as rodovias (obra de empreiteiras corruptoras associadas a políticos corruptos) e o inferno do trânsito nosso de cada dia. Espero que todos continuem brigando em paz.
(Publicado no Facebook, 10 de janeiro de 2017).

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Aforismos e desaforos VIII


A justiça é um cochilo da lei.
Não existem fatos nem versões, apenas aversões.
No Brasil, cada um interpreta a lei de acordo com as minhas inconveniências.
Existe até lei com prazo de validade. Aliás, muitas têm apenas prazo de nulidade.
No Brasil, jurisprudência é palpite. A prova consiste no fato de que todos confundem Constituição com hermenêutica.
A Nova Constituição Brasileira:
Parágrafo único: vale tudo.
Ficam revogadas todas as indisposições em contrário.

O passado continua governando o presente, enquanto o presente sonha o futuro como a realidade desejável. Por isso, se você liga a televisão, corre o risco de confundir o folhetim novelesco com a crônica político-policial.
Liberalismo – É um termo tão ambíguo e deslizante que começou como liberação do mercado, daí escancarou os costumes, que caíram completamente na vida e acabaram no bordel. Agora a puta liberal é a que faz tudo cobrando pelo serviço completo. Tornou-se, no plano dos costumes, o correspondente do humanista do Renascimento. Isso ilustra a trajetória perfeita do progresso humano.
Neoliberal – não confundir com “novo liberal” ou renovador dos ideais liberais. No Brasil, o neoliberal é todo propositor ou agente de privatização da atividade econômica. No ideologuês estatizante, é o espoliador do povo. Ah, é também o empresário que defende o mercado livre, contanto que o Estado financie seus empreendimentos sem risco.
Para os inconformados: relaxem, o Brasil já foi muito pior; para os otimistas: cuidado, amanhã pode ser ainda pior.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

No Mural do Facebook XXIV


O brasileiro e seus hábitos culturais:

Embora brasileiro já cansado de guerra e de tentar decifrar nossos códigos culturais, sou ainda e certamente morrerei como um aprendiz perplexo da minha própria cultura. Como ninguém consegue viver sem conferir sentido e expectativa às formas de convívio que estabelece com o semelhante, tento sempre traduzir certas atitudes básicas ou cotidianas, mas com frequencia me confundo ou sigo meu caminho solitário sem explicações convincentes. Espremo o assunto demasiado complexo num único item: a amizade.
Um dos mitos culturais do qual muito nos orgulhamos refere-se à facilidade com que fazemos amigos. Ora, essa facilidade já por si só diz muito do sentido da nossa amizade. Amizade é uma conquista rara e preciosa. No entanto, dela falamos como se fosse algo banal. Isso já me parece uma evidência do quanto somos volúveis e inconsequentes nas nossas relações afetivas. Há muitos anos, quando era idiota ao ponto de confundir amizade com coisas apenas semelhantes, disse a alguém que tinha quatro grandes amigos. Ele prontamente respondeu: então você tem muita sorte, pois não tenho nenhum. Achei isso estranho porque esse alguém é uma das pessoas mais queridas, sedutoras e engraçadas que conheço. Depois compreendi melhor sua resposta e, pior, a experiência dissolveu meus quatro amigos, reduzidos a um, que aliás morreu há alguns anos.
Como preciso concluir, antes que desistam de ler o que segue, somos demasiado gregários, demasiado presos aos vínculos de família, cujos valores contaminam nossas relações públicas, para construir amizades verdadeiras. Não nego que existam, claro, mas numa cultura tão familista e gregária como a nossa, tão afeita a resultados fáceis e imediatos, a amizade não é nada fácil como parece. Se parece tão comum num país onde estranhos se tratam calorosamente como "amigões" e "amigos do peito" é porque quase sempre a confundimos com outra coisa.
(Publicado no Facebook, 23 de agosto 2016).

Vítimas da democracia:

Sérgio Buarque de Holanda, que para a maioria dos brasileiros supostamente cultos é apenas o pai de Chico Buarque de Hollanda (tão mais importante que dobrou um l no sobrenome), disse que no Brasil a democracia não passava de um lamentável mal-entendido. Errou apenas no tempo verbal, isto é, a democracia continua sendo um mal-entendido. Acentuo apenas duas das múltiplas faces desse mal-entendido: o abuso da democracia e o culto da vitimização. Como a democracia nunca se entranhou de fato na nossa cultura, ela existe antes de tudo como institucionalização formal. Longe de mim depreciar a que temos. Antes ela do que nada ou a regressão a estados de exceção ou autoritarismo nu e cru.
Mas convenhamos: o que é mesmo que Dilma Rousseff, essa carpideira da história (ou da istória, como escrevia Millôr Fernandes), quer dizer quando clama contra o golpe de que é vítima em nome da democracia? Ela, seu criador e todos seus fieis sectários clamam contra um golpe político em curso perpetrado em nome da democracia. Martelam essa denúncia obsessiva ao mesmo tempo em que legitimam democraticamente todo o processo de impeachment, já que participam dele segundo todas as regras estabelecidas pela lei. Não desdobro a argumentação por saber que quem está do outro lado confunde, intencionalmente ou não, lógica argumentativa com fé dogmática.
Passando ao segundo ponto, a vitimização, não vou falar das vítimas da história recente, que são muitas. Abusando um pouco da imaginação histórica, já que hoje tantos abusam da imaginação histérica, fico pensando no que hoje seria o Brasil, se ele houvesse lutado nos campos de batalha como a Alemanha, Inglaterra, Rússia, Estados Unidos... Em suma, acho que estaríamos ainda carpindo nossas vítimas entre as ruínas literais da grande devastação. Como ninguém vive apenas de chorar, milhões estariam nas filas do INSS requisitando pensão de vítima da guerra. Fico por aqui porque vou pegar meu lugar na fila: vou requerer pensão por ser vítima da democracia. E ai do INSS se não acatar e remunerar substancialmente meus direitos. Afinal, sou também vítima da democracia, esse lamentável mal-entendido.
(Publicado no Facebook, 29 de agosto de 2016).


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Uma reflexão negativa sobre os intelectuais


Cresci num mundo assolado pela incultura intelectual. Um dia, sem que ninguém me guiasse, cheguei por acaso a uma estante de livros e esse fato mudou radicalmente minha vida. Através dos livros, dos autores que li e transfiguraram minha vida infeliz e corroída pela rotina e o tédio, passei a ver o mundo com outros olhos. Graças à literatura, expandi imaginariamente os horizontes de minha vida e a solidão, que até então fora uma fonte de sofrimento e carência, tornou-se um modo intraduzível de convívio simbólico com mundos remotos e sonhados, não obstante reais para o ser extraviado que eu era.
Mais tarde descobri a figura do intelectual como agente de transformação política da realidade e me persuadi de que ele era a consciência de um mundo alienado, um mundo no qual sempre me senti estrangeiro. Os intelectuais que então me pareciam modelares foram combatentes de ditaduras e tiranias, defensores, por conseguinte, da liberdade e de um mundo mais justo, quando não utopicamente além das formas de dominação que têm castigado a história humana através de milênios. No século XX, muitos desses intelectuais foram marxistas militantes, nas suas muitas e variáveis facções, ou pelo menos companheiros de viagem, com perfil ideológico igualmente variável.
Despertei para a política exatamente quando irromperam os anos de chumbo da última ditadura brasileira. Mero companheiro de viagem, eclético e cético por formação e talvez temperamento, nunca aderi ao marxismo. O mundo dividido pela guerra fria enfim desintegrou-se em 1989. Embora há muito fosse crítico com relação ao marxismo, foi depois disso que conheci as formas mais brutais das tiranias impostas em nome do comunismo ao longo do século XX.
Lendo a historiografia mais recente, renovada pela revelação de arquivos até então inacessíveis, notadamente no que foi a União Soviética, tomei consciência mais precisa dos horrores perpetrados em nome de belos ideais utópicos que marcaram de forma profunda a minha geração e algumas precedentes. Esse balanço crítico, também uma revisão de minhas ilusões humanistas, convenceu-me de que os intelectuais são antes cúmplices e agentes da tirania do que a consciência libertária da sociedade. Em suma, não mais me iludo com eles. O que me conforta na minha descrença é saber que são desmascarados também por intelectuais. De tudo resta, portanto, minha percepção do intelectual como figura ambígua.
No momento em que escrevo, assisto no Brasil a mais uma traição dos intelectuais, em especial os acadêmicos. A expressão “traição dos intelectuais” é uma alusão, claro, ao livro famoso de Julien Benda. No meu entender, e sigo aqui parcialmente a noção do intelectual adotada e defendida por Benda, o papel do intelectual é defender os valores universais do espírito orientados para a busca da verdade, ainda que esta seja sempre parcial e até enganosa. Por isso o intelectual sempre trai sua função quando se converte à militância em nome de uma causa ou ideologia particular. O exemplo mais catastrófico dessa traição consistiu na adesão do intelectual ao comunismo no século XX. Iludido pela crença de servir a uma concepção científica da história, ele negou a religião compreendida no seu sentido tradicional e sagrado para converter-se a uma religião secular que nunca ousou dizer o seu nome.
Muitos intelectuais continuam recusando veementemente essa noção de religião secular. Críticos impenitentes das formas tradicionais de religião, que para eles não passam de formas de conformismo político e alienação humana, teimam em defender e adotar teorias sociais teleológicas, ou indissociáveis de um finalismo utópico, como se fossem baseadas em fundamentos científicos e portanto puramente seculares. A matriz dessa concepção é, claro, a obra de Karl Marx. Marx e Engels, e no rastro deles uma infinidade de seguidores intelectualmente admiráveis, presumiam haver descoberto os mecanismos objetivos do desenvolvimento histórico das sociedades, redutíveis a leis científicas. O materialismo histórico e científico, formulado por ambos, seria a expressão da teoria soteriológica que, no frigir das fantasias revolucionárias, é apenas a transposição do céu judaico-cristão para este mundo.
Se esse suposto procedimento científico fosse de fato adotado pelos intelectuais que se supõem seguidores de uma concepção científica da história, seria muito fácil desmenti-la. Bastaria submeter a história do comunismo às leis postuladas por Marx e Engels. A primeira evidência que salta aos olhos é que nenhuma revolução comunista seguiu nem de longe a escrita traçada pela teoria marxista. Se ela se cumprisse, a revolução teria irrompido nas economias mais avançadas do capitalismo (Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos...). Ora, ela irrompeu precisamente na periferia do capitalismo, fato que em nada abalou a fé dos comunistas. Aliás, todos foram profetas malogrados. Marx, Engels, Lenin e Trotsky, entre tantos, nunca se cansaram de profetizar a revolução na Alemanha, na Inglaterra, nos Estados Unidos...
A história humana é tão indissociável da indeterminação e do imprevisível que a revolução alemã, tão ardentemente sonhada por Lenin e todos que comandaram a Revolução Russa, resultou na ascensão de Hitler e do nazismo, graças em parte às lutas autofágicas da esquerda alemã: comunistas, social-democratas e anarquistas. Enquanto se matavam, os primeiros seguindo fielmente a política imposta por Stalin, abriam o caminho para Hitler e suas tropas brutais chegarem ao poder. Enredo semelhante ocorreu na guerra civil espanhola, culminando na vitória de Franco e seus seguidores fascistas, que impuseram à Espanha uma longa ditadura. Também no contexto espanhol se repete o que aconteceu antes na Alemanha sob as ordens de Stalin: os comunistas suprimiram seus aliados anarquistas e socialistas facilitando assim a ascensão de Franco. Quem leu o livro de George Orwell com olhos livres, há muito sabe disso. Por pouco Orwell, combatente do grupo anarquista POUM, não foi assassinado. Desde então tornou-se inimigo intransigente de Stalin e do comunismo.
Em suma, as reviravoltas e desastres da história foram tão imprevisíveis que a teoria marxista da história teria sido completamente descartada, se de fato fosse concebida como formulação científica e submetida à prova dos fatos. Como acima observei, é apenas uma religião secular que não ousa dizer o seu nome. De resto, no Brasil continua fresca e renovável, ironicamente nos segmentos mais intelectualizados, sobretudo na universidade pública. Bastaria considerar a crise política e econômica que no momento sofremos. A esquerda tradicional, nas suas múltiplas facções, inventa narrativas golpistas e toda sorte de explicação delirante para justificar o injustificável. É inútil contrapor-lhe os argumentos racionais do tipo que acima intentei esboçar. Razão e fé são ontologicamente excludentes. Por isso desisti de argumentar.

sábado, 9 de julho de 2016

No Mural do Facebook XX


Marilena Chaui e a normalidade do fanatismo:

No frigir dos nervos, quando leio certas coisas cretinas aqui no Facebook, já afirmei que Marilena Chuá Chuá, vulgo Chaui, era uma desvairada. Não retiro o qualificativo, mas esclareço que o desvairismo dela é perfeitamente normal. A universidade brasileira, suposta consciência esclarecida do Brasil, age massivamente em defesa da "narrativa" conspiratória de Marilena. Aspeio a narrativa por se tratar de um termo de origem literária que hoje contamina a terminologia das chamadas ciências sociais, que no Brasil tornaram-se ideologia descarada.
Marilena narra uma conspiração que não me espanta porque conheço um pouco a história do comunismo no século XX. Perto das conspirações inventadas por Lenin, Trotsky, Stalin e outros tiranos, a historinha dela é até pouco imaginativa. O que a compromete é o contexto histórico, algo desconcertante numa pensadora marxista que muitos consideram a maior do Brasil.
A Santíssima Trindade da revolução era genial. Tiranos impiedosos, com perdão do truísmo, escreveram um capítulo fundamental da história sanguinária do século XX. Além disso, viveram num mundo de conflitos extremos, mais tarde desdobrados na guerra fria que dividiu o mundo em duas frações antagônicas e belicosas entredevorando-se durante mais de quatro décadas.
Marilena e grande parte da esquerda brasileira continuam tramando conspirações como se a gente vivesse ainda no contexto da guerra fria. Seu delírio é antes de tudo o delírio dos fanáticos, que nenhuma razão tem o poder de despertar. A esquerda brasileira sonha ainda as revoluções que outros já fizeram e a história dissolveu em ruína. É uma esquerda que não despertou ainda das ilusões sepultadas em 1989.
(Publicado no mural do Facebook, 5 de julho de 2016).

Uma reflexão negativa sobre os intelectuais

Cresci num mundo assolado pela incultura intelectual. Um dia, sem que ninguém me guiasse, cheguei por acaso a uma estante de livros e esse fato mudou radicalmente minha vida. Através dos livros, dos autores que li e transfiguraram minha vida infeliz e corroída pela rotina e o tédio, passei a ver o mundo com outros olhos. Graças à literatura, expandi imaginariamente os horizontes de minha vida e a solidão, que até então fora uma fonte de sofrimento e carência, tornou-se um modo intraduzível de convívio simbólico com mundos remotos e sonhados, não obstante reais para o ser extraviado que eu era.
Mais tarde descobri a figura do intelectual como agente de transformação política da realidade e me persuadi de que ele era a consciência de um mundo alienado, um mundo no qual sempre me senti estrangeiro. Os intelectuais que então me pareciam modelares foram combatentes de ditaduras e tiranias, defensores, por conseguinte, da liberdade e de um mundo mais justo, quando não utopicamente além das formas de dominação que têm castigado a história humana através de milênios. No século XX, muitos desses intelectuais foram marxistas militantes, nas suas muitas variáveis facções, ou pelo menos companheiros de viagem, com perfil ideológico igualmente variável.
Despertei para a política exatamente quando irromperam os anos de chumbo da última ditadura brasileira. Mero companheiro de viagem, eclético e cético por formação e talvez temperamento, nunca aderi ao marxismo. O mundo dividido pela guerra fria enfim desintegrou-se em 1989. Embora há muito fosse muito crítico com relação ao marxismo, foi depois disso que conheci as formas mais brutais das tiranias impostas em nome do comunismo ao longo do século XX.
Lendo a historiografia mais recente, renovada pela revelação de arquivos até então inacessíveis, notadamente no que foi a União Soviética, tomei consciência mais precisa dos horrores perpetrados em nome de belos ideais utópicos que marcaram de forma profunda a minha geração e algumas precedentes. Esse balanço crítico, também uma revisão de minhas ilusões humanistas, convenceu-me de que os intelectuais são antes cúmplices e agentes da tirania do que a consciência libertária da sociedade. Em suma, não mais me iludo com eles. O que me conforta na minha descrença é saber que são desmascarados também por intelectuais. De tudo resta, portanto, minha percepção do intelectual como figura ambígua.
No momento em que escrevo, assisto no Brasil a mais uma traição dos intelectuais, em especial os acadêmicos. A expressão “traição dos intelectuais” é uma alusão, claro, ao livro famoso de Julien Benda. No meu entender, e aqui sigo tendencialmente a noção do intelectual adotada e defendida por Benda, o papel do intelectual é defender os valores universais do espírito orientados para a busca da verdade, ainda que esta seja sempre parcial e até enganosa. Por isso o intelectual sempre trai sua função quando se converte à militância em nome de uma causa ou ideologia particular. O exemplo mais catastrófico dessa traição consistiu na adesão do intelectual ao comunismo no século XX. Iludido pela crença de servir a uma concepção científica da história, ele negou a religião compreendida no seu sentido tradicional e sagrado para converter-se a uma religião secular que nunca ousou dizer o seu nome.

Recife, 5 de julho 2016.



sábado, 2 de julho de 2016

No Mural do Facebook XIX


O exemplo de Drummond:

Penso que Drummond é o maior poeta brasileiro. Por isso leio seus poemas rotineiramente. Sua obra é a minha bíblia que não tenho e por isso não rezo. Quando irrompeu talvez a mais extrema crise da civilização nos anos 1930 e 1940, com o mundo dilacerado por totalitarismos de direita e esquerda, Drummond se engajou engajando também sua poesia. Disso resultou A Rosa do Povo, a obra poética que melhor harmonizou a estética e a política. Não tardou para que se desiludisse com o Partido Comunista Brasileiro e desistisse da política militante. Continuou participando enquanto cidadão e escritor público. Como todo intelectual liberto de fantasias ideológicas, foi sempre tentado pelo ceticismo e até o niilismo. Os exemplos contidos na sua obra poética são muitos. Cito o primeiro que me vem à memória: o belo Cantiga de enganar.
Um dia ele escreveu num poema: "meu verso é minha cachaça".
Também Freud, modelo no qual igualmente me inspiro, afirmou que o ser humano não suporta viver sem algum tipo de droga. O mundo é uma sucessão de desastres porque poucos são capazes de inventar um modo criativo de droga, o tipo de droga que concorre para melhorar o mundo ou pelo menos frear nossas pulsões destrutivas. Muitos dos que militam na política, notadamente os intelectuais, confundem-na com uma forma secular de religião. São idealistas, arrogantes portadores de ideologias libertadoras do povo oprimido e alienado. Não há como avaliar as devastações que provocaram ao longo da história humana, sempre, claro, em nome dos mais belos ideais. Confesso que a experiência ensinou-me a fugir desses idealistas. Aprendi a fugir deles, também a temê-los, pois sei que seus ideais sempre acabam em banhos de sangue e opressão.
Há quem louve a falta de convicção e caráter da maioria dos brasileiros. Alegam que isso nos imuniza contra a tentação das soluções extremas. Será que têm razão? Será que os males de formação do nosso povo nos poupam de males ainda maiores? Ainda que isso seja verdade, não me conformo em viver num país tão injusto e cruel ao ponto de me obrigar a reconhecer que o instituto da delação premiada, por exemplo, é um mal necessário. Quer dizer, o bandido faz carreira e fortuna corrompendo e roubando, depois grava tudo que conversa com os cúmplices, entrega todos à polícia e é premiado com prisão domiciliar numa mansão com garagem para dez carros, quadra de tênis e outros privilégios. Pensando bem, não vale a pena seguir o exemplo de Drummond.
(Postado no Facebook, 29 de junho de 2016).

Do Petrolão ao Safadão

Dizem que o Ministério Público e a Polícia Federal começaram a escavar o esquema de corrupção no poço dos megashows que se tornaram rotina em cidades interioranas. Se os serviços já são o que são nas capitais, imagine-se nos grotões que hoje fornecem circo eletrônico ao povo faminto. Espero que escavem o poço, todos os poços da bandidagem e depredação do Estado que vai do Petrolão ao Safadão. Logo ficará claro por que tantos artistas militam em defesa do PT alegando belas razões ideológicas. É claro que a corrupção também envolve os outros partidos, todos os partidos e o conjunto da sociedade brasileira.
Quem pensa que a podridão do reino da Dinamarca é obra do PT, nada sabe do país onde vivemos. Se brincarem, a única alma honesta que vai sobrar será a minha, não a de Lula. A culpa não é minha, mas de quem não tentou me corromper.
Por fim, já que tantos andam clamando contra a cultura do estupro, lembro que muito mais grave é o estupro da cultura. Só Deus sabe o que ela sofre todos os dias neste país de artistas safadões e políticos que reafirmam a genial criatividade brasileira. Sem serem cineastas (o Brasil tem algum?), os políticos inventaram um novo gênero cinematográfico: o da Política Mafiosa. Está em cartaz 24 horas por dia em todo o noticiário midiático. Censura livre, almoço grátis e delação premiada.
Como diria Macunaíma, o Safadão da cultura brasileira, tem mais não. Isto é, digo eu, tem ainda: ou os políticos acabam com a Lava Jato ou esta transformará o Brasil no país da da prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Quem sobrará para jogar bola e batucar o samba no pé no país do futebol e do carnaval?
(Postado no Facebook, 24 de junho 2016).


sexta-feira, 3 de junho de 2016

No Mural do Facebook XVIII


O Brasil não existe

Antes, bem antes de ser brasileiro, eu já queria nascer no Brasil. Quem não gostaria de viver num país de povo amante da diversidade, isento de preconceitos, festivo como o carnaval, inventivo como o futebol e as escolas de samba, sensual como a mulata que passa requebrando com o pudor de quem anda nua, como disse um dos cultores das nossas virtudes?
Pensei nessas tolices porque ando relendo as memórias de Stefan Zweig, o judeu errante que disse noutras e célebres palavras o que rabisquei acima. Zweig cativou os brasileiros, sempre mais nacionalistas do que outros nacionalistas, quando ventilou profecias paradisíacas sobre o nosso futuro. Brasil, país do futuro, ou coisa parecida. Nasci, tornei-me brasileiro, estou agora bem mais perto da morte do que do futuro e no entanto o futuro paradisíaco nunca chegou. O Brasil que sonhamos, assim como o de Zweig, é sempre o Brasil de amanhã.
O problema do futuro, não importando quanto seja paradisíaco, é este: não é nunca hoje. Hoje é o único tempo real. Portanto, até quando nos consolaremos com um país que será sempre amanhã? Amanhã, já cantava o outro, que acabou cantando o pior do presente, amanhã vai ser outro dia. A frase, que nos apaixona por ser uma metáfora, é sempre uma promessa adiada, sempre uma esperança: o bem que se quer e não se tem. Nenhum país que inventou seu presente precisa consolar-se com um futuro improvável. Como não sabemos o que fazer do que somos coletivamente, conspiramos, insultamos e nos intoleramos (com perdão do dilmês) quando os males que tramamos caem sobre nossas delirantes cabeças. Como não nos sabemos, nem nos queremos como somos, penduramos a consciência na ilha de Marajó, seguindo o exemplo de Macunaíma, herói da nossa gente, e culpamos o outro. O culpado é sempre o outro.
Ah, antes que me esqueça: Stefan Zweig, coitado, não pôde viver o Brasil do futuro porque se suicidou no presente. Aliás, tudo é sempre o presente. Brasileiros, acordem para o presente. Desconfio de que não falei do exclusivismo político que colonizou a vida dos chamados brasileiros conscientes, politicamente esclarecidos e responsáveis. O que subjetivamente sei é que me sinto como Stefan Zweig isento da queda no suicídio. Quero dizer, sinto-me estrangeiro no país do amanhã, solitário no país do hoje. E com franqueza: não acredito nessas maravilhas que vemos espelhadas na imagem nacionalista que cultuamos. Será que algum dia aprenderemos a conjugar nossa realidade (este princípio imperativo, como diria Freud) no presente do indicativo?
(Postado no Facebook, 23 de maio de 2016).


Culto da personalidade:
Quem conhece a história do comunismo, em particular o stalinismo, sabe do que falo. Stálin, um dos maiores tiranos da história, foi objeto de culto, inclusive de intelectuais que se supõem a consciência da humanidade. A verdade, que o próprio PC soviético passou a admitir desde o Congresso de 1956, é ainda ignorada por alguns comunistas retardados, que não suportam o choque doloroso da verdade. Enquanto suprimia ou tiranizava a vida de milhões de soviéticos e inimigos externos, Stálin era celebrado por escritores como Jorge Amado e Pablo Neruda (cito apenas os dois comunistas latino-americanos mais célebres) como pacificador dos povos e benfeitor da humanidade.
Observando a sociedade das massas e o culto desvairado que milhões devotam a ídolos do rock e do futebol, não é difícil compreender porque serem humanos que nada fizeram de humanamente significativo ou não sabem que são poeira da história, antes de tudo por aceitarem essa condição, cultuam delirantemente esses ídolos. Freud estudou as bases psicológicas desse fenômeno cada vez mais corrente na sociedade das massas no seu ensaio "Psicologia das Massas e Análise do Ego" (entre nós erradamente traduzido como Psicologia de Grupo, etc). Embora neste parágrafo refira-me até aqui ao culto dos ídolos da cultura de massas, o fenômeno estende-se igualmente para a esfera da política, tanto que comecei aludindo a Stálin como objeto de culto da personalidade.
Sem nem de longe comparar o culto a Stálin com o culto a Chico Buarque (pois seria uma analogia infame, coisa que leio petista fazendo todos os dias), quero protestar contra blogueiros servis, embora alguns sejam comprovadamente pagos, que diariamente infiltram na minha página posts de culto a Chico Buarque. Como o que acima escrevi já deixa implícito, não cultuo nenhum ídolo. Cultuar ídolos é algo indigno de um homem que luta para ser livre, na medida em que isso é possível. Esta é minha luta e minha ambição. Tenho compromisso com minhas convicções e com a minha consciência. Logo, não cultuo Chico Buarque nem ninguém. Uma coisa é admirá-lo como nosso maior compositor, segundo apenas para Tom Jobim; outra é isso que aqui critico. Ademais, há muito deixei de ter razões objetivas para admirar ética e politicamente o Chico Buarque que já admirei. Por isso tenho removido esses intrusos e intrusas que se enfiam na minha página para cultuar Chico Buarque. Alguns trazem o timbre "Patrocinado". Por quem, é a única coisa que gostaria de saber. Afastem-se de mim todos esses que carregam no lombo de escravo mental e moral todos os santos de pés de barro da política e da cultura de massas.
(Postado no Facebook, 29 de maio de 2016).

quarta-feira, 25 de maio de 2016

No Mural do Facebook XVII


A democracia petista:
Até eu, que não me meto nesse ninho de cobras e de resto não tenho nenhuma importância política, até eu já senti os ares tolerantes e civilizados da democracia petista after the fall. Respondo com lógica e fatos a acusações maniqueístas que me fazem e o resultado é o previsível: nem sequer curtem, ignoram por completo meu argumento. Em suma, desprezam uma norma implícita em qualquer debate democrático. Curtir o que o outro me escreve, seja quem for, é a evidência mais elementar de reconhecimento da humanidade de quem fala com ou contra mim.
Esquecem, ou simplesmente ignoram, a definição de liberdade que endosso e é insuspeita, pois procede de Rosa Luxemburgo: Liberdade é sempre e exclusivamente a liberdade de discordarem de nós.
Esse simples fato evidencia o que qualquer pessoa lúcida e isenta já está farta de saber: toda essa farsa de golpe contra a democracia, toda essa apologia dos sagrados princípios da democracia e das suas instituições, que o PT é o primeiro a agredir e desacreditar, é simplesmente guerra ideológica suja. Precisam corromper a língua portuguesa já tão maltratada porque não toleram a democracia real, porque são incapazes de subordinar a ideologia enquanto falsa consciência às provas imperativas da realidade.
(Postado no Facebook, 14 de maio de 2016).

Minc Money:
Eu nada espero e assim me poupo de desesperar. Fui e continuo favorável à queda do PT devido a fatos óbvios que não perderei tempo expondo e analisando. Fatos são de direita ou de esquerda? Fatos são fatos. Se dizem que são de direita ou de esquerda, aí já não falamos deles, mas de ideologia como falsa consciência. Quem me ensinou isso foi Marx, fato irrelevante para a esquerda que nada aprendeu com ele.
Eu nada espero e assim me poupo de desesperar. Por que me decepcionaria ao constatar que o governo Temer teme a poderosa guerra ideológica promovida pelos artistas brasileiros que amam o povo e a democracia, mas amam as tetas do Estado patrimonial acima de tudo? Há muito, ou desde sempre, há setores da cultura brasileira completamente desprezados por nossos governos. Nunca ouvi desses artistas consagrados ao bem do povo uma palavra de protesto. Agora, com o Estado patrimonial à beira do colapso, o desamparo da cultura é ainda mais evidente, fato que em nada altera o silêncio dos intelectuais e artistas.
Bastou, no entanto, suprimirem o Ministério da Cultura, que na verdade passaria a ser um braço subordinado ao Ministério da Educação, e logo a grita foi geral. Como salvar a cultura brasileira (isto é, os patrocínios lesa-cultura) sem a Lei Rouanet, cujos fins foram completamente corrompidos? Os protestos foram tantos, de Ipanema a Cannes, do sertão da Casa-Grande populista aos jardins paulistas, que Temer temeu por sua popularidade e afrouxou o nó. Voltam o Minc, a Lei Rouanet e o ganha-pão dos bravos artistas e intelectuais brasileiros que precisam de arrimo estatal para continuar lutando pelos pobres do Brasil. Outros ministérios voltarão, pois a troca de governo em nada altera a estrutura secular do nosso Estado patrimonial. O PT empurrou o Brasil para o buraco, mas o buraco real está ainda mais abaixo.
(Postado no Facebook, 21 de maio de 2016).

domingo, 15 de maio de 2016

No Mural do Facebook XVI


Apesar do PT
Dilma, apesar de você
Hoje não é o seu ontem
Bem pouco posso dizer
Outros que melhor lhe contem.

Se fato é narrativa
Como você inventou
Essa cadeia de intriga
Você e o PT levou.

Levou ao fundo do poço
Onde o Brasil foi jogado
E imenso será o esforço
Pra vê-lo alevantado.

Hoje é apenas um passo
De uma longa jornada.
Não tenho fé, não enlaço
Mentira em fava contada.

Apesar do PT
Amanhã há de ser
Outra história alvorada.
E eu vou morrer de rir
Pois a farsa siri
Foi por lei golpeada.

(Postado no Facebook, 12 de maio 2016).

terça-feira, 10 de maio de 2016

No Mural do Facebook XV


Brazilian Banana:

Acho patético e insultante, para não dizer odioso, esse circo interminável da crise política brasileira. Enquanto os piores bandidos da classe dirigente ou indigente brasileira tramam toda sorte de patifaria, ficamos brigando, virando todas as casacas éticas desse país deplorável, hermeneutizando (céus!) o esgoto verbal e legal que escorre à luz do dia das nossas instituições corrompidas.
Enquanto isso, a crise econômica, em recessão progressiva (aviso que o paradoxo é da realidade brasileira, não fruto da minha ignorância) arrasta para o rés do chão o povo brasileiro garroteado por bandidos que querem esticar a corda dos conflitos e paralisar o sistema legal e produtivo até que ela arrebente, quem sabe com uma guerra civil que seria mais uma farsa tardia das catastróficas soluções revolucionárias desmoralizadas pelo século XX. Mas que fazer, se tanto e tantos desse bananão continuam atolados no século XIX?
Estamos sem governo desde que Dilma Russelfie foi empossada para o seu segundo mandato. Não manda nem sai de cima. E todos os que amam os pobres aplaudem e esticam a corda. Que ela arrebente, contanto que as hienas da pseudoesquerda não larguem o osso roído do poder depredado. E viva o bananão Brasil! Viva a carnavalização do atraso e da escória que luta com todas as armas para impedir que esse gigante de pés tortos ingresse no reino da modernidade e da democracia moderna.
(Postado no Facebook, 9 de maio de 2016).

sexta-feira, 6 de maio de 2016

No Mural do Facebook XIV


A Política e o espírito de rebanho:

As pessoas acreditam espontaneamente, até porque essa crença conforta nosso ego inseguro, que praticam o livre arbítrio, que agem de acordo com sua cabeça e convicções. Nada mais ilusório. A verdade é que a maioria diz sim. Dizemos sim porque não é fácil pensar e escolher com a própria cabeça. Esta, o que nela é introjetado através de um infindável processo de socialização, é no geral um emaranhado de preconceitos, lugares comuns, crenças induzidas pela nossa experiência social.
Um universitário, por exemplo, tende a compartilhar as ideias instituídas no meio. Pensa as ideias da maioria, aprecia a arte da maioria, etc. Como no entanto é formalmente ideologizado, critica o eleitor ignaro, o que vota por interesse, conveniência ou qualquer outra razão condenável.
Já ouvi muita gente esclarecido dizer que a desgraça da nossa política é a ignorância do povo. Confesso que endossei esta opinião. No entanto, ao atentar para os momentos de grandes embates partidários e ideológicos, concluí que a maioria segue o trote do rebanho. Nâo há nada que ilustre isso melhor do que a história dos intelectuais durante o século xx. O trote do rebanho já neste século, embora o Brasil continue largamente paralisado no século xix, confirma o enredo. Perdi minha crença no discernimento e superioridade humanista dos intelectuais depois que examinei o culto e colaboração ativa que muitos dos maiores intelectuais do mundo emprestaram a ditaduras, tiranos e atrocidades que chegam ao limite do mal praticado na história da humanidade.
Outra verdade que deduzo na contracorrente do que acima expus é o isolamento ou perseguição movida contra quem de muitos modos ousa dizer não, ousa seguir seu próprio caminho inspirado na voz do que Kant chama de imperativo ético categórico. Até no país mais civilizado e de mais admirável tradição liberal que conheço, a Inglaterra, Bertrand Russell perdeu posições, praticamente todos os amigos e purgou um áspero isolamento quando escreveu The Practice and Theory of Bolshevism. É uma obra pioneira e profética, pois foi publicada em 1920. Fruto de sua viagem à Rússia, no auge da Revolução de 1917, nela Russell ressalta o caráter totalitário do comunismo e qualifica Lenin como um fanático. Como membro de uma delegação importante de políticos ingleses, Russell foi pessoalmente recebido por Lenin, com quem conversou durante cerca de uma hora.
Concluindo, se você depende da companhia de amigos dentro ou fora do Facebook, recomendo que siga o trote do rebanho. Duvido da qualidade desses amigos que nos desprezam quando a eles nos opomos, seguimos nosso caminho irredutível, optamos pela consciência antes da conveniência ou malabarismo militante, mas essas razões são irrelevantes, quando não inconscientes, para o boi de rebanho. Lembrando uma canção de Chico Buarque dos tempos em que ele tinha a coragem de dizer não à ditadura, embora hoje diga sempre sim ao PT e a todos os regimes que supostamente correspondem às suas convicções, "vence na vida quem diz sim". E logo lembro outra canção que responde: "Não diga não, não me deixe sozinho..."
(Postado no Facebook, 28 de abril de 2016).

segunda-feira, 2 de maio de 2016

No Mural do Facebook XIII


A Ideologia do Cuspe

Abreu abriu em abril
a nova ideologia
que vai encher o Brasil
de uma suja cusparia.

Tu me cospes, eu te cuspo
e assim trocamos ideia.
Se com teu cuspe me assusto
o meu te acerta na veia.

A minha mão nunca solte
nem ande fora da pista.
Fora isso tudo é golpe
e o outro é sempre fascista.

A nova ideologia
é o fino da tolerância:
quem meu tom não assobia
cospe noutra militância.

Na pátria educadora
divino país de todos
até o lixo se doura
dos mais canalhas engodos. (Postado no Facebook, 25 abril 2016).

A Religião da Política:

Já que Dilma Gaga não se cansa de repetir disparate, vou também me repetir. Melhor dizendo, vou repetir uma citação, o que me isenta de dizer besteira depois de ler tanta. Chesterton: quando as pessoas deixam de acreditar em Deus, passam a acreditar em qualquer coisa. A partir do Iluminismo, iluminado pela fé na razão e no progresso humano, o processo de secularização, característica fundamental da modernidade, varreu do céu a tradição religiosa que norteou o processo da civilização ocidental durante séculos. Mas logo tornou-se patente que o ser humano não suporta o peso de um céu sem deuses. Daí uns divinizaram a ciência, é o caso do cientificismo enquanto perversão ideológica da ciência, outros a Arte (com A) e tanto descemos ladeira que as massas acabaram divinizando Papai Noel, Xuxa e os ídolos da música e do futebol. Mas o maior e mais catastrófico substituto da religião tradicional é a ideologia política que ironicamente promove a crítica radical da religião para converter-se em religião secular. O exemplo emblemático é o marxismo. É fácil assinalar as correspondências teológicas ou místicas entre a religião tradicional e essa religião que não ousa dizer o seu nome. Por isso, meus amigos, desisti de argumentar contra militantes de ideologias que são de fato metamorfoses seculares da religião.
Fé e razão são categorias irredutíveis. A primeira remete antes de tudo à religião, a segunda à ciência e ao saber fundamentado na evidência testada e comprovada, ao saber que se vale apenas da argumentação racional. Portanto, é pura perda de tempo argumentar contra quem ainda acredita na desalienação universal do ser humano, na transposição do céu para a terra, na mentira que corrompe a verdade, na tortura e no cuspe que suprimem a liberdade de opinião e pensamento.
(Postado no Facebook, 23 de abril de 2016).

Homem versus Mulher:

No voo entre Curitiba e Recife assisti a uma entrevista muito interessante com a antropóloga Miriam Goldenberg. Há muito ela pesquisa as relações amorosas entre homem e mulher, com tudo que implicam de instabilidade e desorientação. Acho que ela faz observações muito sensatas sobre as diferenças entre homem e mulher, notadamente no que se refere às expectativas amorosas. Por exemplo: ela critica as mulheres por investirem em demasia na realização amorosa ou por reduzirem todas as outras ordens de realização à realização amorosa. Adicionalmente, descreve um tipo de homem muito diferente do clichê que as mulheres amorosamente frustradas pintam. Exemplifico novamente: ela ressalta, acho que com razão, que essa imagem do homem sedutor cafajeste é minoritária. No entanto, a imagem oposta parece dominar o imaginário erótico brasileiro. Talvez por isso seja sintomático o ressentimento da mulher contra o sedutor cafajeste. No mais, espanta-me que tantas mulheres ressentidas com o homens tendam a comportar-se como adolescentes retardadas. Refiro-me, claro, a mulheres de meia idade, quando não idosas, com perdão do palavrão, que se comportam movidas pelo desejo insensato e impossível de recuperar o tempo perdido. O tempo é irreversível. Quero dizer, há certas coisas que a gente faz quando tem certa idade. Tudo que estou afirmando assim sumariamente me parece pura matéria de bom senso. Se hoje precisamos de especialistas para ditar regras sobre essas obviedades, a razão é assim simples: perdemos nosso senso elementar de autogoverno.
(Postado no Facebook, 23 abril 2013).



terça-feira, 26 de abril de 2016

A Ideologia do Cuspe


Abreu abriu em abril
a nova ideologia
que vai encher o Brasil
de uma suja cusparia.

Tu me cospes, eu te cuspo
e assim trocamos ideia.
Se com teu cuspe me assusto
o meu te acerta na veia.

A minha mão nunca solte
nem ande fora da pista.
Fora isso tudo é golpe
e o outro é sempre fascista.

A nova ideologia
é o fino da tolerância:
quem meu tom não assobia
cospe noutra militância.

Na pátria educadora
divino país de todos
até o lixo se doura
dos mais canalhas engodos.

Recife, 24 de abril 2016.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

No Mural do Facebook XII


O Tédio Vital

O que farei de mim quando acabar
a crise que a tudo dá sentido?
Meu tempo, que não tinha onde gastar,
agora é um excitante quente e vivo.

O dia já clareia no esgoto
que vai da Alvorada ao Congresso
é tanto que o tempo que esgoto
acaba enquanto durmo e tempo peço.

Meu Deus, que vou fazer da minha vida
no dia em que a crise acabar?
O tédio, a vida nula e sem saída
sem crise podem logo me matar.

Por isso vou moendo a roda viva
fazendo desse circo um auto de fé
pois temo que sem essa outra vida
de tédio e solidão hei de morrer.
(Postado no Facebook, 14 de abril 2016).

As armas da luta

Desarme o seu coração
na hora de argumentar.
Desarme o braço e a mão
se a tentação é brigar
matar, ajustar as contas.
Justiça nunca foi obra
de loucos, baratas tontas.

Arme o senso e a razão
na hora de refutar
quem corre na contra-mão
do que você quer mudar.
Lute fiel ao que é
a regra limpa do jogo.
O fim, seja o que vier,
começa tudo de novo.
(Postado no Facebook, 16 de abril 2016).

quarta-feira, 20 de abril de 2016

No Mural do Facebook XI


O Circo do Atraso:

A votação no congresso (com c minúsculo, por favor) comprova o que todo brasileiro consciente está cansado de saber. À parte o refrão que já não suporto (corrupção, golpe, defesa da democracia...) o discurso torto, grotesco e repetitivo desses congressistas é a cara do nosso atraso. Como dizia Caio Prado Jr., o Brasil é muito atrasado. É atrasado à esquerda e à direita, dentro e fora do congresso, no conjunto das nossas instituições, práticas e valores sociais.
Uma das evidências mais fortes do que acima escrevi consiste no apelo grotesco à família como instituição matriz pairando acima do que deveria ser a estrutura de uma República. Não é à toa que Lula retoma o refrão do pai dos pobres, Dilma a de mãe dos pobres. Trocaram o trabalhador, categoria de classe, pela figura do pobre, mito infalível do populismo latino-americano. À direita e à esquerda, se cabe ainda usar essas categorias rotas, o que fica exposto é um Brasil de família que anexa o Estado, absorve suas funções e deixa os cofres abertos para o saque e a privatização do bem público.
Assistindo a essa sessão circense, de resto previsível para quem vê o Brasil isento da fumaça ideológica que o desfigura, é desolador comprovar o quanto é poderosa a força da tradição neste país que ninguém sabe quando ingressará efetivamente na modernidade. Por isso, é necessário ler ainda Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Os donos do poder, de Raimundo Faoro, que em registros distintos traçam a genealogia do nosso atraso social e mental. Quero Dilma, Lula e o PT desalojados do poder, mas seria um tolo se me iludisse supondo que isso muda muita coisa. O Brasil tem um mundo de coisas para mudar e elas não mudarão se nós brasileiros não mudarmos. Isso vai dos palácios do poder ao meio-fio das cidades. Em suma, enquanto as reformas profundas não forem gradualmente enfrentadas e postas em movimento, continuaremos sendo o país da esperança, dos órfãos do pai Estado.
(Postado no Facebook, 17 abril 2016).

Balanço do Brasil:
A essa altura, restando ainda 98 votantes no cugresso (sorry!) nacional, atrevo-me a confirmar a bola de cristal do desfecho óbvio. Houve golpe, sim. Mas as vítimas foram as pessoas inteligentes, honestas e sensatas deste país de chanchada. Vou processar o cugresso (sorry again!) por crime de indução ao alcoolismo. Não sei quem mais é vítima desse circo patético. Sei que eu sou. Há mais de um mês não tomava uma dose de uísque. Não por virtude, se é que há virtude na abstinência, mas por reação alérgica. Nietzsche serviu-me ao menos para isso: para me afastar do álcool, da família e do cristianismo. Quinze minutos de circo no cugresso (sorry etc) foram suficientes para me levar de volta à garrafa e à gramática. Essa gente assassina a língua portuguesa com uma inconsciência desconcertante.
Juntando os cacos do país, vislumbro no fundo do túnel a solução que aparentemente escapou a todos os mercadores de partidos políticos. Ora, o Brasil tem mais de trinta (são quantos mesmo?), mas nenhum publicitário teve a luminosa ideia de criar o partido mais óbvio, autêntico e majoritário do Brasil: o DFP (Deus, Família e Propriedade). Se há algo que sintetiza a catatonia mental e ideológica dos nossos congressistas, esse algo está condensado num deus de bordel, numa família parasita do Estado e na propriedade sem função social, a não ser salvaguardar a desigualdade brutal da sociedade brasileira.
(Postado no Facebook, 17 abril 2016).

terça-feira, 19 de abril de 2016

No Mural do Facebook X


Fim de papo, PT!

Os poucos que leem meus posts sabem que sempre opinei movido pelo propósito de modestamente contribuir para civilizar nossa política. Ninguém pode acusar-me de intolerância ou crítica infundada. Durante todo esse tempo li e até discuti educadamente com militantes e sectários que defendem intransigentemente Lula, Dilma e o PT. Também me coloquei sempre acima de qualquer maniqueísmo ou partidarismo sectário. Por isso defendi e defendo a investigação irrestrita de qualquer denunciado.
O anúncio da nomeação de Lula, que vai ser governante efetivo dessa desmiolada e incompetente Dilma Rousseff, muda radicalmente minha posição.
Jamais desejei a radicalização da luta política, mas já não tenho dúvida de que é isso o que querem Lula e o PT. Para sustar as investigações que o levariam à cadeia, Lula já provou que é capaz de qualquer coisa. Não tenho mais o que dialogar com pessoas que o seguem nessa trilha cujo desfecho é imprevisível. Mas uma coisa é certa: ela nos empurra para a afronta às instituições democráticas e portanto para a luta política suja e a intolerância.
Dilma desceu a um grau de impotência tão desprezível que já não se refere a seu criador como presidente por mero ato falho. Hoje ela deixou claro seu servilismo referindo-se a ele repetidamente como o presidente Lula. Para mim o PT precisa ser varrido da luta democrática. Quem quiser insistir aqui no diversionismo ideológico que tenho denunciado; quem quiser defender o indefensável esmagando os princípios éticos fundamentais da democracia e das relações civilizadas, que vá fazê-lo no terreiro de Lula e seus comparsas. Para mim chega. Façam o favor de remover meu nome da sua lista de amigos todos que assim decidirem proceder. Aliás, nunca vi neste país tamanha rendição dos intelectuais e das universidades, que ou silenciam em defesa dos corruptos ou se pronunciam apenas em nome do servilismo intelectual e ideológico. Os que assim procedem desprezam os princípios éticos da verdadeira inteligência, que consistem na liberdade de pensar de acordo com a própria consciência e não subordinar os ideais da verdade aos interesses espúrios de partidos e ideologias que afrontam tais princípios.
(Postado no Facebook, 16 de março 2016).

Nós que nos amávamos tanto:

Perdoem o título inapropriado e talvez impertinente em meio a uma realidade afogada em corrupção, anomia e desespero. A idade ensinou-me a policiar minhas emoções através da razão. Os estoicos e sobretudo Montaigne ensinaram-me a viver no presente. Portanto, espero que este não seja um post sentimental ou nostálgico.
Há pouco, voltando da praia na hora em que o lobo uiva e o coração estremece, esta frase, título de um filme quase esquecido, começou a rondar-me a cabeça e a memória: Nós que nos amávamos tanto. Chego em casa, ligo o notebook e leio uma mensagem de Fabianna Freire Pepeu. É uma amiga que não vejo há muito tempo e além disso diverge muito de mim. Ela me envia o recorte de um artigo sobre a relação entre a amizade e a política. Por coincidência, li o texto nesta manhã. Já não me lembro se simplesmente o curti ou comentei. Voltei a remoer a memória dos que se amavam tanto.
Por que nos prendemos tão obsessivamente à política? Quando acesso o mural do Facebook, e o mais grave é já não resisto a tentação de fazê-lo, sei de antemão o que vou ler. Houve um tempo em que até no Facebook lia posts sobre o amor e a amizade, transcrição de poemas e outras expressões da vida humana mais elevada. Minha amiga (ou ex) Maria De Fatima Duquesacordava minha memória poética transcrevendo sobretudo poemas do meu mais amado amigo: Daniel Lima. Hoje postamos apenas os trapos de um país que se desintegra entre disputas surdas ou desvairadas. Há os que denunciam a histeria sectária de Marilena Chauí, assim como os que denunciam a histeria de Janaína Paschoal. Ninguém aparentemente se dá conta de que a obsessão da política cindida (este é tempo de partido, tempo de homens partidos, Drummond) é antes de tudo sintoma das vidas mesquinhas que vivemos, vidas privadas e carentes de amor e convicção, vidas de náufragos num mar onde os ideais utópicos não passam de farsa e fantasia. Por isso, apesar da minha fidelidade a Montaigne e a meus estoicos muito acima da minha fraqueza moral, não suportei a dor de viver num tempo tão corrupto e mesquinho e tomei um uísque e me indaguei de mim para mim no fundo da minha desolação: o que fizemos do que amávamos tanto?
(Postado no Facebook, 6 de abril 2016).

A Candidez de Antonio Candido:

Acabo de reler Cândido ou o Otimismo, de Voltaire, entre encantamento e gargalhadas. E logo tomei conhecimento de mais uma enquete com grandes intelectuais brasileiros (que no geral posam como se fossem intelligentsia de fato) opinando sobre o Impeachment de Dilma. Como seria previsível, o eterno Candido brasileiro (o grande, sem ironia, Antonio) não é apenas contra, mas também exalta a "destemida Dilma". A candidez revolucionária de Antonio Candido me lembra uma ex-aluna justificando o fato de ainda ser comunista: "sou fiel à minha infância". Pergunto-me candidamente o que o destemor tem a ver com a legitimidade do governo de Dilma (perdão, Lula), no primeiro caso, e a fidelidade à infância com o comunismo (em qualquer sentido), no segundo.
Antonio Candido foi uma das influências seminais da minha vida. Por isso lamento escrever este post. Mas friso ressaltar a grandeza do crítico, não a candidez do político. Este, com integridade impecável, com comovente candidez, passou a vida defendendo o totalitarismo comunista e os regimes de esquerda latino-americanos. Alegando desde muito ser adepto do socialismo democrático, isentou-se de revisar o comunismo (ou o stalinismo, diria o insuspeito Leonardo Padura). Defensor intransigente do regime cubano, exaltou a luta armada na figura de Marighella, "o santo do socialismo brasileiro" (palavras suas).
Antonio Candido, a mais fina e refinada flor da inteligência paulista, modelo supremo do intelectual acadêmico brasileiro, carimba admiráveis e longevos 97 anos com a mesma candidez do menino encantado em Poços de Caldas pela experiência anarquista de Teresina. Ou será que seu real Dr. Pangloss foi seu amado Paulo Emílio Salles Gomes? Não importa. Antonio Candido vai morrer candidamente em paz com a sua consciência certo de haver emprestado sua integridade e elevado humanismo a líderes regeneradores da humanidade como Marx, Lênin, Stálin, Fidel Castro, Che, Marighella, Lula e a destemida Dilma Rousseau, que trata os brasileiros pobres como este tratou os próprios filhos.
Postado no Facebook, 10 de abril 2016).