terça-feira, 26 de abril de 2016

A Ideologia do Cuspe


Abreu abriu em abril
a nova ideologia
que vai encher o Brasil
de uma suja cusparia.

Tu me cospes, eu te cuspo
e assim trocamos ideia.
Se com teu cuspe me assusto
o meu te acerta na veia.

A minha mão nunca solte
nem ande fora da pista.
Fora isso tudo é golpe
e o outro é sempre fascista.

A nova ideologia
é o fino da tolerância:
quem meu tom não assobia
cospe noutra militância.

Na pátria educadora
divino país de todos
até o lixo se doura
dos mais canalhas engodos.

Recife, 24 de abril 2016.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

No Mural do Facebook XII


O Tédio Vital

O que farei de mim quando acabar
a crise que a tudo dá sentido?
Meu tempo, que não tinha onde gastar,
agora é um excitante quente e vivo.

O dia já clareia no esgoto
que vai da Alvorada ao Congresso
é tanto que o tempo que esgoto
acaba enquanto durmo e tempo peço.

Meu Deus, que vou fazer da minha vida
no dia em que a crise acabar?
O tédio, a vida nula e sem saída
sem crise podem logo me matar.

Por isso vou moendo a roda viva
fazendo desse circo um auto de fé
pois temo que sem essa outra vida
de tédio e solidão hei de morrer.
(Postado no Facebook, 14 de abril 2016).

As armas da luta

Desarme o seu coração
na hora de argumentar.
Desarme o braço e a mão
se a tentação é brigar
matar, ajustar as contas.
Justiça nunca foi obra
de loucos, baratas tontas.

Arme o senso e a razão
na hora de refutar
quem corre na contra-mão
do que você quer mudar.
Lute fiel ao que é
a regra limpa do jogo.
O fim, seja o que vier,
começa tudo de novo.
(Postado no Facebook, 16 de abril 2016).

quarta-feira, 20 de abril de 2016

No Mural do Facebook XI


O Circo do Atraso:

A votação no congresso (com c minúsculo, por favor) comprova o que todo brasileiro consciente está cansado de saber. À parte o refrão que já não suporto (corrupção, golpe, defesa da democracia...) o discurso torto, grotesco e repetitivo desses congressistas é a cara do nosso atraso. Como dizia Caio Prado Jr., o Brasil é muito atrasado. É atrasado à esquerda e à direita, dentro e fora do congresso, no conjunto das nossas instituições, práticas e valores sociais.
Uma das evidências mais fortes do que acima escrevi consiste no apelo grotesco à família como instituição matriz pairando acima do que deveria ser a estrutura de uma República. Não é à toa que Lula retoma o refrão do pai dos pobres, Dilma a de mãe dos pobres. Trocaram o trabalhador, categoria de classe, pela figura do pobre, mito infalível do populismo latino-americano. À direita e à esquerda, se cabe ainda usar essas categorias rotas, o que fica exposto é um Brasil de família que anexa o Estado, absorve suas funções e deixa os cofres abertos para o saque e a privatização do bem público.
Assistindo a essa sessão circense, de resto previsível para quem vê o Brasil isento da fumaça ideológica que o desfigura, é desolador comprovar o quanto é poderosa a força da tradição neste país que ninguém sabe quando ingressará efetivamente na modernidade. Por isso, é necessário ler ainda Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Os donos do poder, de Raimundo Faoro, que em registros distintos traçam a genealogia do nosso atraso social e mental. Quero Dilma, Lula e o PT desalojados do poder, mas seria um tolo se me iludisse supondo que isso muda muita coisa. O Brasil tem um mundo de coisas para mudar e elas não mudarão se nós brasileiros não mudarmos. Isso vai dos palácios do poder ao meio-fio das cidades. Em suma, enquanto as reformas profundas não forem gradualmente enfrentadas e postas em movimento, continuaremos sendo o país da esperança, dos órfãos do pai Estado.
(Postado no Facebook, 17 abril 2016).

Balanço do Brasil:
A essa altura, restando ainda 98 votantes no cugresso (sorry!) nacional, atrevo-me a confirmar a bola de cristal do desfecho óbvio. Houve golpe, sim. Mas as vítimas foram as pessoas inteligentes, honestas e sensatas deste país de chanchada. Vou processar o cugresso (sorry again!) por crime de indução ao alcoolismo. Não sei quem mais é vítima desse circo patético. Sei que eu sou. Há mais de um mês não tomava uma dose de uísque. Não por virtude, se é que há virtude na abstinência, mas por reação alérgica. Nietzsche serviu-me ao menos para isso: para me afastar do álcool, da família e do cristianismo. Quinze minutos de circo no cugresso (sorry etc) foram suficientes para me levar de volta à garrafa e à gramática. Essa gente assassina a língua portuguesa com uma inconsciência desconcertante.
Juntando os cacos do país, vislumbro no fundo do túnel a solução que aparentemente escapou a todos os mercadores de partidos políticos. Ora, o Brasil tem mais de trinta (são quantos mesmo?), mas nenhum publicitário teve a luminosa ideia de criar o partido mais óbvio, autêntico e majoritário do Brasil: o DFP (Deus, Família e Propriedade). Se há algo que sintetiza a catatonia mental e ideológica dos nossos congressistas, esse algo está condensado num deus de bordel, numa família parasita do Estado e na propriedade sem função social, a não ser salvaguardar a desigualdade brutal da sociedade brasileira.
(Postado no Facebook, 17 abril 2016).

terça-feira, 19 de abril de 2016

No Mural do Facebook X


Fim de papo, PT!

Os poucos que leem meus posts sabem que sempre opinei movido pelo propósito de modestamente contribuir para civilizar nossa política. Ninguém pode acusar-me de intolerância ou crítica infundada. Durante todo esse tempo li e até discuti educadamente com militantes e sectários que defendem intransigentemente Lula, Dilma e o PT. Também me coloquei sempre acima de qualquer maniqueísmo ou partidarismo sectário. Por isso defendi e defendo a investigação irrestrita de qualquer denunciado.
O anúncio da nomeação de Lula, que vai ser governante efetivo dessa desmiolada e incompetente Dilma Rousseff, muda radicalmente minha posição.
Jamais desejei a radicalização da luta política, mas já não tenho dúvida de que é isso o que querem Lula e o PT. Para sustar as investigações que o levariam à cadeia, Lula já provou que é capaz de qualquer coisa. Não tenho mais o que dialogar com pessoas que o seguem nessa trilha cujo desfecho é imprevisível. Mas uma coisa é certa: ela nos empurra para a afronta às instituições democráticas e portanto para a luta política suja e a intolerância.
Dilma desceu a um grau de impotência tão desprezível que já não se refere a seu criador como presidente por mero ato falho. Hoje ela deixou claro seu servilismo referindo-se a ele repetidamente como o presidente Lula. Para mim o PT precisa ser varrido da luta democrática. Quem quiser insistir aqui no diversionismo ideológico que tenho denunciado; quem quiser defender o indefensável esmagando os princípios éticos fundamentais da democracia e das relações civilizadas, que vá fazê-lo no terreiro de Lula e seus comparsas. Para mim chega. Façam o favor de remover meu nome da sua lista de amigos todos que assim decidirem proceder. Aliás, nunca vi neste país tamanha rendição dos intelectuais e das universidades, que ou silenciam em defesa dos corruptos ou se pronunciam apenas em nome do servilismo intelectual e ideológico. Os que assim procedem desprezam os princípios éticos da verdadeira inteligência, que consistem na liberdade de pensar de acordo com a própria consciência e não subordinar os ideais da verdade aos interesses espúrios de partidos e ideologias que afrontam tais princípios.
(Postado no Facebook, 16 de março 2016).

Nós que nos amávamos tanto:

Perdoem o título inapropriado e talvez impertinente em meio a uma realidade afogada em corrupção, anomia e desespero. A idade ensinou-me a policiar minhas emoções através da razão. Os estoicos e sobretudo Montaigne ensinaram-me a viver no presente. Portanto, espero que este não seja um post sentimental ou nostálgico.
Há pouco, voltando da praia na hora em que o lobo uiva e o coração estremece, esta frase, título de um filme quase esquecido, começou a rondar-me a cabeça e a memória: Nós que nos amávamos tanto. Chego em casa, ligo o notebook e leio uma mensagem de Fabianna Freire Pepeu. É uma amiga que não vejo há muito tempo e além disso diverge muito de mim. Ela me envia o recorte de um artigo sobre a relação entre a amizade e a política. Por coincidência, li o texto nesta manhã. Já não me lembro se simplesmente o curti ou comentei. Voltei a remoer a memória dos que se amavam tanto.
Por que nos prendemos tão obsessivamente à política? Quando acesso o mural do Facebook, e o mais grave é já não resisto a tentação de fazê-lo, sei de antemão o que vou ler. Houve um tempo em que até no Facebook lia posts sobre o amor e a amizade, transcrição de poemas e outras expressões da vida humana mais elevada. Minha amiga (ou ex) Maria De Fatima Duquesacordava minha memória poética transcrevendo sobretudo poemas do meu mais amado amigo: Daniel Lima. Hoje postamos apenas os trapos de um país que se desintegra entre disputas surdas ou desvairadas. Há os que denunciam a histeria sectária de Marilena Chauí, assim como os que denunciam a histeria de Janaína Paschoal. Ninguém aparentemente se dá conta de que a obsessão da política cindida (este é tempo de partido, tempo de homens partidos, Drummond) é antes de tudo sintoma das vidas mesquinhas que vivemos, vidas privadas e carentes de amor e convicção, vidas de náufragos num mar onde os ideais utópicos não passam de farsa e fantasia. Por isso, apesar da minha fidelidade a Montaigne e a meus estoicos muito acima da minha fraqueza moral, não suportei a dor de viver num tempo tão corrupto e mesquinho e tomei um uísque e me indaguei de mim para mim no fundo da minha desolação: o que fizemos do que amávamos tanto?
(Postado no Facebook, 6 de abril 2016).

A Candidez de Antonio Candido:

Acabo de reler Cândido ou o Otimismo, de Voltaire, entre encantamento e gargalhadas. E logo tomei conhecimento de mais uma enquete com grandes intelectuais brasileiros (que no geral posam como se fossem intelligentsia de fato) opinando sobre o Impeachment de Dilma. Como seria previsível, o eterno Candido brasileiro (o grande, sem ironia, Antonio) não é apenas contra, mas também exalta a "destemida Dilma". A candidez revolucionária de Antonio Candido me lembra uma ex-aluna justificando o fato de ainda ser comunista: "sou fiel à minha infância". Pergunto-me candidamente o que o destemor tem a ver com a legitimidade do governo de Dilma (perdão, Lula), no primeiro caso, e a fidelidade à infância com o comunismo (em qualquer sentido), no segundo.
Antonio Candido foi uma das influências seminais da minha vida. Por isso lamento escrever este post. Mas friso ressaltar a grandeza do crítico, não a candidez do político. Este, com integridade impecável, com comovente candidez, passou a vida defendendo o totalitarismo comunista e os regimes de esquerda latino-americanos. Alegando desde muito ser adepto do socialismo democrático, isentou-se de revisar o comunismo (ou o stalinismo, diria o insuspeito Leonardo Padura). Defensor intransigente do regime cubano, exaltou a luta armada na figura de Marighella, "o santo do socialismo brasileiro" (palavras suas).
Antonio Candido, a mais fina e refinada flor da inteligência paulista, modelo supremo do intelectual acadêmico brasileiro, carimba admiráveis e longevos 97 anos com a mesma candidez do menino encantado em Poços de Caldas pela experiência anarquista de Teresina. Ou será que seu real Dr. Pangloss foi seu amado Paulo Emílio Salles Gomes? Não importa. Antonio Candido vai morrer candidamente em paz com a sua consciência certo de haver emprestado sua integridade e elevado humanismo a líderes regeneradores da humanidade como Marx, Lênin, Stálin, Fidel Castro, Che, Marighella, Lula e a destemida Dilma Rousseau, que trata os brasileiros pobres como este tratou os próprios filhos.
Postado no Facebook, 10 de abril 2016).


segunda-feira, 18 de abril de 2016

No Mural do Facebook IX


Chico Buarque e a traição dos intelectuais:

Raramente compartilho um post. A razão é simples: criei esta página no Facebook para os links dos artigos e poemas que escrevo, além de posts eventuais relativos a questões que me impelem a opinar publicamente. Compartilho este (Aludo ao post de José Ruy Gandra postado na sua página do Facebook, 2 de abril de 2016) por considerá-lo oportuno e verdadeiro, além de valer como evidência da traição dos intelectuais no momento da mais grave crise da República brasileira.
Não preciso dizer o quanto amo e admiro a obra musical de Chico Buarque. É também por isso que exponho o quanto ele merece ser criticado nos planos ético e político. Millôr Fernandes, o intelectual mais livre deste pais de intelectual servil, sintetizou a grande falha moral de Chico. Disse mais ou menos isto: "Desconfio de todo idealista que lucra com os seus ideais. Chico Buarque lucra com os seus. Ele não pode dizer o mesmo de mim". Isso está documentado na entrevista que Millôr concedeu ao programa Roda Vida, disponível no You Tube. Chico desfigurou ainda sua biografia, que já foi exemplar, quando apoiou um movimento vergonhoso, liderado por Roberto Carlos, visando censurar obras biográficas. É irônico que tantos que o admiram louvem sua integridade ética. Lamento escrever isso contra um artista que tanto admiro.
(postado no Facebook, 2 de abril 2016).

O que farão os que estão com o mal?
Excelente o seu post, Jairo José da Silva (aludo a um post de tema semelhante postado na sua página no Facebook, 31 de março 2016). Também já me perguntei o que farão os que seguem o mal ou o praticam, os que silenciam ou defendem de todos os modos aqueles que elevaram o mal na vida política brasileira a um grau sem precedente, quando a verdade definitiva e irrefutável se impuser? Sempre procurei compreender o funcionamento obscuro e tenebroso da irracionalidade humana nas esferas da religião, da política e do amor. À parte o último, fonte dos momentos de maior beleza, diria até epifania da minha vida, não tenho jeito para as duas primeiras. O que nelas mais me fascina e até atormenta é o modo complexo de manifestação da irracionalidade humana.
Tanto me indago sem resposta satisfatória que chego à seguinte conclusão: o ser humano é em princípio capaz de tudo, capaz de racionalizar, no sentido freudiano do termo, os horrores mais inconcebíveis.
Já tentei empatizar com o ser nazista (mon semblable, mon frère), nas suas zonas mais obscuras, para compreender como ele conseguia mover-se da "rotina do seu trabalho", incinerando judeus, para o seio da família, onde se comportava como um ser humano comum. Aliás, os mais refinados iam tocar Beethoven e Mozart, ler Goethe etc. Os mais afetuosos eram pais amorosos exemplares. Se eram capazes disso, de que não é o canalha brasileiro que hoje se cala ou fecha os olhos, protege corruptos, acoberta criminosos, etc? Ele dará um jeito de continuar vivendo bem com sua consciência repulsiva, Jairo José da Silva. Por isso há muito tento pensar na questão avessa: por que há felizmente os que dizem não, os que se recusam, os que amam quando o amor é aviltado, os que buscam a verdade num mundo corrompido pela mentira?
(Postado no Facebook, 01 de abril 2016).

O Culpado é Sergio Moro:
A guerra ideológica que o PT, sob o comando de Lula e Dilma, está movendo contra os processos de investigação, notadamente a Lava-Jato, está se tornando tão implacável e suja que até parece que o culpado é Sergio Moro, que ele é quem deve ser sumariamente punido. Lula e sobretudo Dilma denunciam de forma sistemática e caluniosa o processo de impeachment. Para eles, ouvimos todos os dias, impeachment é golpe.
As refutações pertinentes e acima de tudo civilizadas de vários dos membros do STF, somadas à voz de muitos juristas e estudiosos, concorrem apenas para reforçar o suposto anti-golpismo do PT. Visando desacreditar as instituições legais que asseguram a estabilidade da democracia amparada nas leis competentes, Lula e Dilma, além de outras lideranças políticas de peso, estão de fato incitando a ilegalidade e, no limite, a violência e a convulsão social.
Recusando-se a reconhecer a autoridade constituída do STF, da Ordem dos Advogados do Brasil, que apoia quase por unanimidade o processo de impeachment, e outras instituições, Lula e Dilma incitam seus seguidores a reagir contra um suposto golpe. Como antes escrevi, são os únicos líderes políticos que promovem ostensiva e reiteradamente a ilegalidade e a rebelião coletiva contra as leis que regem nossa frágil democracia. Operando uma perversa inversão de valores, quem não está com eles é golpista e portanto inimigo da democracia. A julgar pelo trote da carruagem, acabaremos concluindo que os culpados de tudo isso são o Judiciário, Sergio Moro e a Polícia Federal. Direi mais: são também culpados todos os brasileiros que foram às ruas e continuam se manifestando em defesa do livre exercício das atribuições conferidas pela Constituição às instituições mencionadas e o juiz Sergio Moro, que a voz popular converteu em símbolo dos ideais de justiça que encarnam.
(Postado no Facebook, 27 de março 2016).

O ódio dos idealistas:
Freud, que conheceu como poucos o mal constitutivo da natureza humana, perguntou sabiamente o que os revolucionários russos fariam depois que matassem todos os burgueses. Vocês acaso já pensaram o quanto é sintomático que a ideologia (o comunismo) que prega a redenção da humanidade (abolição das classes sociais, justiça social universal etc) sempre agiu movida pela convicção de que a história humana é a história das lutas de classe? Já pensaram no fato de que sua ética autoriza o uso de qualquer meio (desde a calúnia e a difamação até a supressão de quem não está do lado dela) para que se atinja o ideal supremo: a revolução redentora?
Quem sabe um pouco de história (não é o caso da chamada esquerda brasileira) conhece o enredo dessa revolução redentora: o Estado "proletário" regido pelo partido único, a supressão de todas as garantias individuais (isso não passa de liberdade burguesa) e por fim a instituição do totalitarismo em nome dos mais belos ideais humanos.
Transpondo essa moldura ideológica para a crise política que vivemos, o PT vive clamando contra a intolerância, o golpismo, o Estado policial imposto pelo Judiciário. Faz isso e muito mais acionando um movimento de permanente guerra ideológica. Não ia mais perder tempo tentando discutir política civilizada neste mural. Sucede, porém, que acabo de ler um post denunciando a ação intolerante dos que impediram o juiz Sergio Moro de dar aula na Universidade Federal do Paraná. Pouco antes, como bem protestou Helga Hoffmann, José de Souza Martins, um dos mais ilustres sociólogos brasileiros, foi impedido de dar aula na USP. Ele incorreu no crime de conceder uma entrevista à revista Veja na qual procede a uma síntese analítica da história do PT e sua gradual dissolução ética. De passagem, esclareceu por que nunca se filiou ao PT, nem mesmo nos bons tempos: o intelectual crítico e o intelectual militante são incompatíveis. Correto.
Sei que meu protesto terá o destino habitual: o apoio de quem já pensa como eu e a indiferença ou o desprezo dos que aqui denuncio. Concluo afirmando que vivemos um momento de traição dos intelectuais, lembrando a obra-marco de Julien Benda, sem precedente na história intelectual brasileira. Os maiores responsáveis pelo silêncio cúmplice ou a defesa cega dos corruptos são os intelectuais acadêmicos. Essa casta não tem e nunca teve ideias; tem abstrações ideológicas na cabeça. Mas não esqueçam de que é ela quem educa os jovens. Isso também ajuda a explicar, pela primeira vez na história política do Brasil, o silêncio das universidades. Os poucos que se pronunciam o fazem em defesa do que precisa ser combatido. Concluindo, a corrupção não está apenas nos palácios e partidos. Ela corrói o conjunto da sociedade brasileira.
(Postado no Facebook, 23 de março 2016).

sexta-feira, 15 de abril de 2016

No Mural do Facebook - VIII


O lugar comum depois das manifestações:

As manifestações contra a corrupção, Lula, Dilma etc, estão ainda em curso, inclusive a de São Paulo, que é a mais importante. Ainda assim, gravo aqui os lugares comuns que a observação da realidade me sugere:
A voz do povo não é a voz do PT.
A jararaca botou o rabinho entre as pernas.
A vontade espontânea do povo não quer esse poder sujo que está aí nem endossa as alternativas visíveis. A voz popular não quer o que está aí, mas também não sabe ainda o que quer. Melhor dizendo, recusa todos os partidos e alternativas constituídas. A única unanimidade positiva parece ser o apoio a Sérgio Moro e tudo que ele simboliza de novo na política e na sociedade brasileira.
Felizmente a militância petista criou um pingo de juízo, botou o pé no freio e não partiu para a porrada. Lula nunca foi paz e amor. A maioria do povo é.
Ou o povo já não está com o PT ou então o povo não está nas ruas. Se o povo não está nas ruas, então essa multidão é a elite que odeia o povo e o PT.
A cabeça da jararaca está ficando careca.
Tem mais não.
(Postado no Facebook, 13 de março 2016).

O culpado é Hegel:

Já vi aqui tanta postagem sobre o tropeço dos magistrados que confundiram Hegel com Engels que acabarei me convencendo de que o que está em jogo é Hegel, ou melhor, a ignorância dos promotores. Que tal a gente esquecer tudo que verdadeiramente importa e propor a Faustão ou qualquer desses educadores das massas brasileiras uma sabatina sobre o idealismo alemão, Hegel, Marx, Engels, Lenin (não confundir com o cantor), etc?
Já disse que sou contra a entrevista dos promotores e as medidas que recomendaram à autoridade competente. Portanto, posso criticar esse show de hegelianismo vulgar como mero diversionismo ideológico. No mais, é estranho que os petistas tanto se encrespem e malhem a ignorância de um grupo de promotores que com razão lhes inspiram ódio. Mas isso não condiz com quem tem como líder um político que sempre brandiu com orgulho sua ignorância e nunca mediu palavra nem grosseria quando se pronunciou publicamente. Para quem não tem memória, e hoje no Brasil parece que toda memória está se tornando sectária, basta lembrar o que ele disse no Instituto Lula logo que saiu da condução coercitiva. Não se corrige uma "menas" a verdade com ignorância, muito menos com mentiras arrogantes.
(Postado no Facebook, 11 de março 2016).

A Ética da Guerra Ideológica II:

Ontem li aqui no mural do Facebook uma denúncia caluniosa contra o juiz Sergio Moro. Lamento declarar que a denúncia procede de Marcos Costa Lima, pessoa querida e muito respeitada no meio acadêmico. Segundo a denúncia, o juiz seria filiado ao PSDB. Marcos acrescenta que o juiz não dissimula sua filiação partidária e seu ódio a Lula e Dilma. Mas a coisa não para por aí, pois acrescenta faltar vergonha e isenção ao juiz cuja filiação partidária explicaria o tratamento leniente ou cúmplice que concede a FHC, Aécio e outros.
Acabo de comprovar, depois de ler um post refutando as acusações feitas por Marcos Costa Lima, que a pessoa em questão é outra, não o juiz. Saltando para os comentários ao post de Marcos, Eduardo de Alencar esclarece que a página não é do juiz Moro, como em próprio comprovei antes de vir digitar este post. Marcos agradece o esclarecimento, mas reitera tudo que escreveu contra o juiz. Também o aluno que lhe forneceu a informação caluniosa, Amarílio Neto, identifica-se rindo sem se desculpar ou admitir qualquer falsidade. Isso é o que chamei aqui de ética da guerra ideológica.
(Postado no Facebook, 8 de março 2016).

A Ética da Guerra Ideológica:

Quanto mais nos avizinhamos do próximo domingo, com manifestações previstas por todo o país, e quanto mais o processo da Lava Jato progride, mais se exacerba a guerra ideológica nas redes sociais. Quem de fato quer passar o Brasil a limpo, quem quer preservar e fortalecer nossas frágeis instituições democráticas não entra nesse jogo sujo da guerra ideológica. Mais do que denúncias infundadas, acusações sem comprovação e até a pura montagem mentirosa, como o vídeo que acabo de ver no qual Paul McCartney supostamente exalta Lula numa entrevista coletiva que prevê a volta deste em 2018, há um clima de crescente promoção da intolerância e da violência.
Lula tem uma grave responsabilidade em tudo isso, pois foi o único líder político de peso que veio a público radicalizar esse clima. A quem serve tudo isso? Serve evidentemente aos extremistas da esquerda e da direita, a todos que lutam para manter o Brasil da intolerância, da impunidade e do atraso. Quem quer um Brasil mais justo e civilizado, defende sem restrições a investigação e punição de todas as denúncias fundadas e comprovadas. Isso deve servir para Lula, FHC, Aécio Neves, Dilma, Eduardo Cunha, todos que cometeram crime contra a democracia e as instituições que a sustentam. Promover guerra ideológica é concorrer para o agravamento da intolerância, da violência, da manutenção do Brasil dos privilégios e da impunidade.
(Postado no Facebook, 8 de março 2016).

A alma honesta:

A alma honesta jamais louva a si própria, muito menos alardeia sua virtude, já que a arrogância é inconciliável com qualquer virtude. Sua natureza consiste na ação, não na fala. A alma honesta não precisa dizer o que é.
Antipascaliana:
A razão tem razões tão ciente
Que o cego coração nem pressente.
Wittgenstein - melhorar o mundo:
Certa vez um discípulo de Wittgenstein perguntou-lhe o que deveria fazer para melhorar o mundo. Melhore a si próprio, respondeu o filósofo, pois isso é tudo que você pode fazer para melhorar o mundo.
(Postado no Facebook, 1 de março 2016).
Oposição política etc:

Faz algum tempo que resisto à tentação de digitar algum post sobre o bananão político brasileiro. Defendo todas as investigações e punições legais, mas não aposto um centavo na oposição que temos, não aposto um centavo na classe dirigente brasileira. Já disse aqui que nossa chamada elite, conceito mais extenso do que o de classe dirigente, não é elite, mas clientela. A frase é de Evaldo Cabral de Mello, historiador que conhece nossa história como poucos.
Volto a escrever porque li alguns posts bebendo uísque. Aí fica bem mais difícil conter meu desejo continuamente refreado de opinar. Quando a oposição começa a se agitar, isso é sintoma de que a vaca há muito está no brejo, assim como Minas, que não tem mar, corre o risco de não ter mais rio. Quase todos são oportunistas e raros podem apontar o dedo contra a bandidagem que está depredando o Brasil em todos os sentidos. Onde estão Marina e Aécio depois de toda a água podre que já rolou sob e sobre as pontes e cidades e palácios e estatais etc e tais? Que líderes alternativos são esses que se apagam na hora em que os verdadeiros líderes se impõem?
Por mais que diga que não mais me decepciono, pois esgotei minha cota de crença, admito que me decepcionei mais uma vez. Não com a bandidagem do PT, já que nunca fui petista nem votei em petista. Decepcionei-me (shame on me!) com intelectuais que nos anos 1970 e 1980 inspiravam-me admiração e respeito. Eles estão aí rastejando aos pés de Lula. Usando a linguagem que todo marxista compreende, não passam de lacaios do PT. E eu que durante tantos anos acreditei que os intelectuais eram a consciência da sociedade. Shame on me!
Mais uma vez me repetindo, quem tem a esquerda que temos não precisa de direita. Essa lenga-lenga sectária que acusa todos os críticos do PT e associados como direitista, fascista, neoliberal et caterva, diz muito da miséria ideológica e moral do Brasil. O buraco é tão mais embaixo que só me resta reiterar meu ceticismo. Defendo integralmente a faxina possível, mas não tenho mais idade nem experiência para me enganar sobre o Brasil. Seria consolador acreditar que nossos males são apenas Lula-Dilma, PT e associados. Como cantava Cazuza, um cantor que nunca ouvi, Brasil, mostra a tua cara. Quando?
(Postado no Facebook, 24 de fevereiro 2016).