quarta-feira, 25 de maio de 2016

No Mural do Facebook XVII


A democracia petista:
Até eu, que não me meto nesse ninho de cobras e de resto não tenho nenhuma importância política, até eu já senti os ares tolerantes e civilizados da democracia petista after the fall. Respondo com lógica e fatos a acusações maniqueístas que me fazem e o resultado é o previsível: nem sequer curtem, ignoram por completo meu argumento. Em suma, desprezam uma norma implícita em qualquer debate democrático. Curtir o que o outro me escreve, seja quem for, é a evidência mais elementar de reconhecimento da humanidade de quem fala com ou contra mim.
Esquecem, ou simplesmente ignoram, a definição de liberdade que endosso e é insuspeita, pois procede de Rosa Luxemburgo: Liberdade é sempre e exclusivamente a liberdade de discordarem de nós.
Esse simples fato evidencia o que qualquer pessoa lúcida e isenta já está farta de saber: toda essa farsa de golpe contra a democracia, toda essa apologia dos sagrados princípios da democracia e das suas instituições, que o PT é o primeiro a agredir e desacreditar, é simplesmente guerra ideológica suja. Precisam corromper a língua portuguesa já tão maltratada porque não toleram a democracia real, porque são incapazes de subordinar a ideologia enquanto falsa consciência às provas imperativas da realidade.
(Postado no Facebook, 14 de maio de 2016).

Minc Money:
Eu nada espero e assim me poupo de desesperar. Fui e continuo favorável à queda do PT devido a fatos óbvios que não perderei tempo expondo e analisando. Fatos são de direita ou de esquerda? Fatos são fatos. Se dizem que são de direita ou de esquerda, aí já não falamos deles, mas de ideologia como falsa consciência. Quem me ensinou isso foi Marx, fato irrelevante para a esquerda que nada aprendeu com ele.
Eu nada espero e assim me poupo de desesperar. Por que me decepcionaria ao constatar que o governo Temer teme a poderosa guerra ideológica promovida pelos artistas brasileiros que amam o povo e a democracia, mas amam as tetas do Estado patrimonial acima de tudo? Há muito, ou desde sempre, há setores da cultura brasileira completamente desprezados por nossos governos. Nunca ouvi desses artistas consagrados ao bem do povo uma palavra de protesto. Agora, com o Estado patrimonial à beira do colapso, o desamparo da cultura é ainda mais evidente, fato que em nada altera o silêncio dos intelectuais e artistas.
Bastou, no entanto, suprimirem o Ministério da Cultura, que na verdade passaria a ser um braço subordinado ao Ministério da Educação, e logo a grita foi geral. Como salvar a cultura brasileira (isto é, os patrocínios lesa-cultura) sem a Lei Rouanet, cujos fins foram completamente corrompidos? Os protestos foram tantos, de Ipanema a Cannes, do sertão da Casa-Grande populista aos jardins paulistas, que Temer temeu por sua popularidade e afrouxou o nó. Voltam o Minc, a Lei Rouanet e o ganha-pão dos bravos artistas e intelectuais brasileiros que precisam de arrimo estatal para continuar lutando pelos pobres do Brasil. Outros ministérios voltarão, pois a troca de governo em nada altera a estrutura secular do nosso Estado patrimonial. O PT empurrou o Brasil para o buraco, mas o buraco real está ainda mais abaixo.
(Postado no Facebook, 21 de maio de 2016).

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Diadorim


Quando sonhar sonhe amor
Sonho sonhado sem fim
Campo coberto de flor
Florada Diadorim.

Quando amar faça o amor
Gemer de entrega e saudade.
A sobra e o vinco de dor
São perda e calo da idade.

Ame a loucura de amar
Um nome que foge assim:
Dói dia divino dar
Doado a Diadorim.

Diadorim, santo mito
Suspiro que sopro assim:
Voz que é silêncio, que é grito
Deus Demo Diadorim.


domingo, 15 de maio de 2016

No Mural do Facebook XVI


Apesar do PT
Dilma, apesar de você
Hoje não é o seu ontem
Bem pouco posso dizer
Outros que melhor lhe contem.

Se fato é narrativa
Como você inventou
Essa cadeia de intriga
Você e o PT levou.

Levou ao fundo do poço
Onde o Brasil foi jogado
E imenso será o esforço
Pra vê-lo alevantado.

Hoje é apenas um passo
De uma longa jornada.
Não tenho fé, não enlaço
Mentira em fava contada.

Apesar do PT
Amanhã há de ser
Outra história alvorada.
E eu vou morrer de rir
Pois a farsa siri
Foi por lei golpeada.

(Postado no Facebook, 12 de maio 2016).

terça-feira, 10 de maio de 2016

No Mural do Facebook XV


Brazilian Banana:

Acho patético e insultante, para não dizer odioso, esse circo interminável da crise política brasileira. Enquanto os piores bandidos da classe dirigente ou indigente brasileira tramam toda sorte de patifaria, ficamos brigando, virando todas as casacas éticas desse país deplorável, hermeneutizando (céus!) o esgoto verbal e legal que escorre à luz do dia das nossas instituições corrompidas.
Enquanto isso, a crise econômica, em recessão progressiva (aviso que o paradoxo é da realidade brasileira, não fruto da minha ignorância) arrasta para o rés do chão o povo brasileiro garroteado por bandidos que querem esticar a corda dos conflitos e paralisar o sistema legal e produtivo até que ela arrebente, quem sabe com uma guerra civil que seria mais uma farsa tardia das catastróficas soluções revolucionárias desmoralizadas pelo século XX. Mas que fazer, se tanto e tantos desse bananão continuam atolados no século XIX?
Estamos sem governo desde que Dilma Russelfie foi empossada para o seu segundo mandato. Não manda nem sai de cima. E todos os que amam os pobres aplaudem e esticam a corda. Que ela arrebente, contanto que as hienas da pseudoesquerda não larguem o osso roído do poder depredado. E viva o bananão Brasil! Viva a carnavalização do atraso e da escória que luta com todas as armas para impedir que esse gigante de pés tortos ingresse no reino da modernidade e da democracia moderna.
(Postado no Facebook, 9 de maio de 2016).

sexta-feira, 6 de maio de 2016

No Mural do Facebook XIV


A Política e o espírito de rebanho:

As pessoas acreditam espontaneamente, até porque essa crença conforta nosso ego inseguro, que praticam o livre arbítrio, que agem de acordo com sua cabeça e convicções. Nada mais ilusório. A verdade é que a maioria diz sim. Dizemos sim porque não é fácil pensar e escolher com a própria cabeça. Esta, o que nela é introjetado através de um infindável processo de socialização, é no geral um emaranhado de preconceitos, lugares comuns, crenças induzidas pela nossa experiência social.
Um universitário, por exemplo, tende a compartilhar as ideias instituídas no meio. Pensa as ideias da maioria, aprecia a arte da maioria, etc. Como no entanto é formalmente ideologizado, critica o eleitor ignaro, o que vota por interesse, conveniência ou qualquer outra razão condenável.
Já ouvi muita gente esclarecido dizer que a desgraça da nossa política é a ignorância do povo. Confesso que endossei esta opinião. No entanto, ao atentar para os momentos de grandes embates partidários e ideológicos, concluí que a maioria segue o trote do rebanho. Nâo há nada que ilustre isso melhor do que a história dos intelectuais durante o século xx. O trote do rebanho já neste século, embora o Brasil continue largamente paralisado no século xix, confirma o enredo. Perdi minha crença no discernimento e superioridade humanista dos intelectuais depois que examinei o culto e colaboração ativa que muitos dos maiores intelectuais do mundo emprestaram a ditaduras, tiranos e atrocidades que chegam ao limite do mal praticado na história da humanidade.
Outra verdade que deduzo na contracorrente do que acima expus é o isolamento ou perseguição movida contra quem de muitos modos ousa dizer não, ousa seguir seu próprio caminho inspirado na voz do que Kant chama de imperativo ético categórico. Até no país mais civilizado e de mais admirável tradição liberal que conheço, a Inglaterra, Bertrand Russell perdeu posições, praticamente todos os amigos e purgou um áspero isolamento quando escreveu The Practice and Theory of Bolshevism. É uma obra pioneira e profética, pois foi publicada em 1920. Fruto de sua viagem à Rússia, no auge da Revolução de 1917, nela Russell ressalta o caráter totalitário do comunismo e qualifica Lenin como um fanático. Como membro de uma delegação importante de políticos ingleses, Russell foi pessoalmente recebido por Lenin, com quem conversou durante cerca de uma hora.
Concluindo, se você depende da companhia de amigos dentro ou fora do Facebook, recomendo que siga o trote do rebanho. Duvido da qualidade desses amigos que nos desprezam quando a eles nos opomos, seguimos nosso caminho irredutível, optamos pela consciência antes da conveniência ou malabarismo militante, mas essas razões são irrelevantes, quando não inconscientes, para o boi de rebanho. Lembrando uma canção de Chico Buarque dos tempos em que ele tinha a coragem de dizer não à ditadura, embora hoje diga sempre sim ao PT e a todos os regimes que supostamente correspondem às suas convicções, "vence na vida quem diz sim". E logo lembro outra canção que responde: "Não diga não, não me deixe sozinho..."
(Postado no Facebook, 28 de abril de 2016).

segunda-feira, 2 de maio de 2016

No Mural do Facebook XIII


A Ideologia do Cuspe

Abreu abriu em abril
a nova ideologia
que vai encher o Brasil
de uma suja cusparia.

Tu me cospes, eu te cuspo
e assim trocamos ideia.
Se com teu cuspe me assusto
o meu te acerta na veia.

A minha mão nunca solte
nem ande fora da pista.
Fora isso tudo é golpe
e o outro é sempre fascista.

A nova ideologia
é o fino da tolerância:
quem meu tom não assobia
cospe noutra militância.

Na pátria educadora
divino país de todos
até o lixo se doura
dos mais canalhas engodos. (Postado no Facebook, 25 abril 2016).

A Religião da Política:

Já que Dilma Gaga não se cansa de repetir disparate, vou também me repetir. Melhor dizendo, vou repetir uma citação, o que me isenta de dizer besteira depois de ler tanta. Chesterton: quando as pessoas deixam de acreditar em Deus, passam a acreditar em qualquer coisa. A partir do Iluminismo, iluminado pela fé na razão e no progresso humano, o processo de secularização, característica fundamental da modernidade, varreu do céu a tradição religiosa que norteou o processo da civilização ocidental durante séculos. Mas logo tornou-se patente que o ser humano não suporta o peso de um céu sem deuses. Daí uns divinizaram a ciência, é o caso do cientificismo enquanto perversão ideológica da ciência, outros a Arte (com A) e tanto descemos ladeira que as massas acabaram divinizando Papai Noel, Xuxa e os ídolos da música e do futebol. Mas o maior e mais catastrófico substituto da religião tradicional é a ideologia política que ironicamente promove a crítica radical da religião para converter-se em religião secular. O exemplo emblemático é o marxismo. É fácil assinalar as correspondências teológicas ou místicas entre a religião tradicional e essa religião que não ousa dizer o seu nome. Por isso, meus amigos, desisti de argumentar contra militantes de ideologias que são de fato metamorfoses seculares da religião.
Fé e razão são categorias irredutíveis. A primeira remete antes de tudo à religião, a segunda à ciência e ao saber fundamentado na evidência testada e comprovada, ao saber que se vale apenas da argumentação racional. Portanto, é pura perda de tempo argumentar contra quem ainda acredita na desalienação universal do ser humano, na transposição do céu para a terra, na mentira que corrompe a verdade, na tortura e no cuspe que suprimem a liberdade de opinião e pensamento.
(Postado no Facebook, 23 de abril de 2016).

Homem versus Mulher:

No voo entre Curitiba e Recife assisti a uma entrevista muito interessante com a antropóloga Miriam Goldenberg. Há muito ela pesquisa as relações amorosas entre homem e mulher, com tudo que implicam de instabilidade e desorientação. Acho que ela faz observações muito sensatas sobre as diferenças entre homem e mulher, notadamente no que se refere às expectativas amorosas. Por exemplo: ela critica as mulheres por investirem em demasia na realização amorosa ou por reduzirem todas as outras ordens de realização à realização amorosa. Adicionalmente, descreve um tipo de homem muito diferente do clichê que as mulheres amorosamente frustradas pintam. Exemplifico novamente: ela ressalta, acho que com razão, que essa imagem do homem sedutor cafajeste é minoritária. No entanto, a imagem oposta parece dominar o imaginário erótico brasileiro. Talvez por isso seja sintomático o ressentimento da mulher contra o sedutor cafajeste. No mais, espanta-me que tantas mulheres ressentidas com o homens tendam a comportar-se como adolescentes retardadas. Refiro-me, claro, a mulheres de meia idade, quando não idosas, com perdão do palavrão, que se comportam movidas pelo desejo insensato e impossível de recuperar o tempo perdido. O tempo é irreversível. Quero dizer, há certas coisas que a gente faz quando tem certa idade. Tudo que estou afirmando assim sumariamente me parece pura matéria de bom senso. Se hoje precisamos de especialistas para ditar regras sobre essas obviedades, a razão é assim simples: perdemos nosso senso elementar de autogoverno.
(Postado no Facebook, 23 abril 2013).