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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Eduarda no Piano


O carnaval sempre tarda
E logo além se dissipa
Mas algo vem, algo fica
Na aparição de Eduarda.

Talvez a lembrança arda
Ou seja como se fosse
Algo tão lindo, tão doce
Como a visão de Eduarda.

Talvez apenas trapaça
Pois tudo na vida passa
Passa Eduarda também.

Um sopro porém repica
Dizendo que algo fica
Além de tudo, algo além...

Fernando da Mota Lima
Recife, 06 de março 2009.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Aforismos e desaforos


O Brasil já teve um Ministério da Desburocratização. Realizou a obra que alguns brasileiros ajuizados previram: burocratizou ainda mais o país. Por que não renovamos essa experiência extraordinária fundando agora o Ministério do Funcionamento? Tenho certeza de que faria o país parar de vez.
O Brasil é ruim, mas comigo é pior.
O Brasil deu à incivilidade moderna duas grandes contribuições: o carnaval e o futebol. Um povo capaz de tal façanha não precisa ser governado a pão e circo. O circo é suficiente.
Carnaval é regressão tribal. Como suportar o peso, a responsabilidade suposta na condição do indivíduo moderno? As massas precisam refugiar-se em algum abrigo tribal, que tanto pode ser o carnaval quanto a adesão ao nazismo. Ruim por pior, antes o carnaval.
Sou do tempo em que paralelepípedo era palavrão.
Sou do tempo em que o trânsito transitava e carro era meio de transporte. Agora, levando a regência verbal ao pé da letra, o trânsito tornou-se intransitivo.
Sou do tempo em que engarrafamento era uma grande quantidade de garrafas, geralmente esvaziadas durante o carnaval.
Sou do tempo em que masturbação era doença.
Masturbação é a prática sexual mais universal que existe, inclusive na velhice. Até os impotentes vingam-se com a masturbação imaginária.
Sou do tempo em que as pessoas tinham pudor e as mulheres enrubesciam. Hoje constrangimento moral é pó de ruge.
Sou do tempo em que gala era outra coisa. Não era o que se vestia, mas o que se vertia.
Sou do tempo em que a lança-perfume era liberada e o carnaval acabava na Quarta-feira de Cinzas. Agora, traduzindo apropriadamente a propaganda oficial do governo de Pernambuco, vivemos em estado de permanente anarquia.
O Brasil vive num estado de violência que beira a guerra civil. Por isso ninguém mais o percebe. A guerra no trânsito, a violência endêmica, rebeliões de todos os tipos, a começar pelas da polícia, banalizaram os conflitos ao ponto de torná-los imperceptíveis. Como estranhar que nos vejamos como um povo amável e cordato?
Sou do tempo em que a mulher não gozava, apenas submetia-se aos ditames cristãos da preservação da espécie.
Sou do tempo em que jogador de futebol era apenas jogador de futebol e fazia o que sabe fazer com um par de chuteiras. Agora inventaram de fazê-lo falar, entre outras impropriedades, e assim a chuteira lhe subiu à cabeça.
Já há quem faça na televisão o que não fui capaz de fazer nem no bordel.
A televisão é o único eletrodoméstico que emburrece e corrompe.
Se eu acreditasse em reencarnação, gostaria de voltar ao mundo como cachorro, ainda que vira-lata. Além de muito complicado, o ser humano se tornou demasiado dispendioso. É tão descaradamente traidor que transferiu o peso da fidelidade para Deus.
O etnocentrismo é uma doença tão incurável quanto a rinite alérgica.
Para o bairrista, qualquer acampamento urbano é a melhor cidade do mundo, contanto que seja a sua.
Amor é a mercadoria que mais vende, embora jamais ouse declarar o seu preço. Aliás, sequer admite sua redução ao fetiche da mercadoria.
Como ter polícia com a polícia que temos?
Não é fácil ser adulto. Sei de muita gente que não apenas vive da nostalgia da infância, mas também nunca saiu dela.
Misericórdia pelo outro e por mim próprio. Somos pequenos e vulneráveis demais para merecer algo melhor.
Recife, fevereiro de 2013.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Máximas e Mínimas VIII


A revolução tecnológica tornou a mentira factualmente inviável. No entanto, nunca se mentiu tanto, assim como nunca houve tanto crédulo imbecil. Definitivamente, o ser humano não suporta a verdade.
A renúncia do papa, em pleno carnaval, não teve o poder de silenciar um só tamborim, um só grito de folião, uma nota de frevo nas ruas. O país de maior população católica do mundo deu livre curso ao seu carnaval indiferente à renúncia da autoridade suprema do catolicismo. O fato é excepcional, mas os exemplos da irrelevância normativa da religião no mundo secularizado são apenas uma banalidade. Embora não falte especialista que fale em reencantamento do mundo, fico com minha convicção de ignorante: o que há é desencantamento do reencantamento. Trocando em miúdos, Deus continua sendo objeto de fé, mas de uma fé semelhante à que temos num protetor secularizado e rebaixado à nossa medida humana. Deus se tornou menos normativo do que o guarda de trânsito.
O pernambucano não é solidário nem no carnaval.
Há pessoas mesquinhas até no gozo da nossa maior orgia coletiva, o carnaval. Precisam suprimir o prazer do outro para viver a ilusão narcisista do prazer exclusivo e absoluto.
Não posso definitivamente levar a sério um país que sopra aos quatro ventos do universo, com absoluta razão, que faz e é o melhor carnaval do mundo.
Somos tão vulneráveis que em princípio qualquer coisa pode nos matar. Podemos morrer de amor. Podemos morrer por falta de amor, causa provavelmente mais frequente. Mais frequente ainda é morrermos de fome. Portanto, antes um prato cheio do que um coração amante e amado.
Se tivesse ainda alguma ilusão acerca da humanidade, sentaria durante dez minutos diante de uma televisão ligada.
Tive compaixão do homem arrastado pela corrente ruidosa do carnaval. Sequer gostava do carnaval; sequer ensaiava um passo de frevo ou entoava uma marchinha. Debateu-se na corrente, que o empurrou à deriva da massa, simplesmente por já não saber de si, de sua solidão, de sua carência de amor. No delírio que o possuía, acreditou que o amor, produzido por um feliz acaso, o abraçaria em plena folia. Seria uma mulher de linhas e traços opacos, mas belos, sensuais e inconfundíveis. Tudo que sabia era que desceria sobre ele como um milagre, um marco zero refundando sua vida árida e vil.
Na Quarta-feira de Cinzas, mais exausto que a massa ébria, mais esvaído do que o carnaval, cujos últimos clarins vibravam no ar tórrido do asfalto, tombou na sarjeta e perdeu os sentidos. Dizem uns que foi recolhido por uma ambulância do Samu; outros, que seu corpo afundou nas águas sujas do Capibaribe. Por fim, um louco ou visionário, que há muito vaga pelas ruas, jura que o viu ascender aos céus de braço dado com a Virgem Maria, que doravante será apenas Maria.
Qual é o prato mais servido na mesa do pobre? O vazio.
Qual é o melhor carnaval do mundo? O que acabou.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Carnaval de Olinda


Carne a carne
Città di carne
Farol de Olinda falling down falling down falling down.
Um chifre nesta vida...
Não, amor, na outra.
El carnaval es sueño
sueño.

Olinda, patrimônio da humanidade.
Ruas de mijo e esgoto
movente a cidade secreta.
Dançar nas ruas aspirando esse rumor de barbárie
que ninguém vê na tv.
Um frevo ferve uma rua
em outra um samba subindo.
Let's go to maracatu maracatu maracatu.
Teu cheiro asco ou fedor
errar de porta e de amor
e a febre me possuindo.

J'aime beaucoup les femmes brésiliennes.
Por favor, traduz meu desejo pra ele.
Diz que eu quero casar com um francês
para sair do Brasil.
Unreal city.

La ville est ici ici.
O Havaí e o Haiti são aqui.
Rio de Ci, mãe da minha dor
Valencia de Isabel
Londres de Kate
Colchester de Anita
Florença de Antonella
Paris é o mundo
Babylon revisited.

Vomitar o meu tédio na folia.
I am growing old, my hair is growing thin.
El carnaval es sueño
sueño
e entanto é tudo como um fim
que não sei. Eu nada sei.


Unreal city
Abolimos a cidade e não há mais Brasil.
Durante cinco dias, num reino sem normas, fica abolido o Brasil.
Dado que o mundo é sonho, unreal city
nesta cidade vigora um outro modo de casa.

De repente, um homem magro e recluso
se transfigura em Quixote
erra pelas ruas perseguindo mulheres
belas e atormentadas pela falta de amor ou pura carne.
Outro homem, um que fazia concursos e que já foi comunista
agora se chama Sancho e é louco qual o seu amo.
Mulheres vão libertando
que vivam o que desviveram.
A virtude atirem contra o diabo
que o corpo será dos homens,
amém.

De hoje até quarta-feira
que faço da minha vida?
Me agarra porque hoje eu sou
da maneira que você me quer
o que você pedir eu lhe dou
seja você quem for
seja o que Deus quiser.

Unreal city
Città di carne.
A vida é carne ou só um sonho.
Mas eu cansei de sonhar.

Homens que acumulam e oprimem
outros sem teto, famintos
mulheres que erguiam muros entre a virtude e a rua
casais selados em cartório com herança e propriedade
e tantos bens por zelar
todos na rua se cruzam
num mar de sol e folia.
Cancelam todas as normas
e já não querem voltar para casa.

Voglio una donna.
Nas ruas que eram só carne
um outro sonho de gozo ou de prazer sem medida.
Ele foi indo foi indo
no mar de Olinda caiu
no frevo se dissolveu.
Babylon revisited.

Eu que fui dona de casa pela virtude oprimida
ao mundo larguei minhas filhas
agora sou tua puta plasmando em meu corpo
um outro ser, feiticeira
um outro outra em mim.
Um transe vem e me toma
nesse teatro do mundo
Olinda, commedia dell'arte
e vou com os homens, me perco.
Nas mais escusas esquinas
eles me abusam e possuem.
Ai, Túndio, como mentimos
que estranhas forças me desgovernam!

E eu fui indo fui indo falling down falling down...
Mas era apenas tua lança perfume.

It was the best of times, it was the worst of times
It was the days of freedom and pleasure
It was the days of betrayal and jealousy.

The world is a dangerous place
mas os brasileiros se derramam pelas ruas
se agarram pelas esquinas e fodem a céu aberto.
Abolem o mundo civil com seus códigos e letra de arbítrio
com suas penas e o dever
instituído em princípio.
Da brutalidade à celebração dionisíaca
transitam assim como quem
apenas cruza uma rua, uma pinguela suspensa
entre o dever e a anomia.
Que estranho modo de povo
foi nesses trópicos moldado!

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí.
Sem lenço e sem documento ele saiu por aí.
Mário de Andrade que tomava cocaína
no frevo com Cícero Dias.
Blaise Cendrars que subiu o morro
e quis se fazer mestiço.
Tom que cantou a Mangueira
e se exilou na floresta
antes que inventassem a ecologia.
Oswald devorando o mundo
sem no entanto ver que o Brasil o canibalizava.

Unreal country
que estranho povo o teu
nesse delírio avenida
tanto na vida matando
agora celebra a vida.

Gilberto Freyre, aristocrata malandro
deitou o patriarca e a mucama
na mesma mestiça cama sacana
e nos explica a seu modo patriarcal e ambíguo.
Afirma, nega afirmando
plasma na letra um estilo
de mestiçagem e deslize.

Unreal Recife
Recifernália do antropófago Jomard
acorde torto na pauta dos contentes.
Flávio Brayner e um piano em Paris
num frevo evocando a saideira.
Esta cidade foi minha
e entanto nunca a amei.

O circo, quero mais circo.
Os romanos governaram a decadência
apoiados na política mínima panem et circenses.
Mas Pindorama Brasil com circo aboliu a fome.

Filma minha alegria, me entrevista
faz de mim uma estrela da Globo.
To be free is always to be on tv.

Um dia serei pandeiro
o teu menino, teu homem
teu porto além da alegria.
Teu índio em Pindorama
te saqueando na cama
ai, minha caça vadia!
Teu passo frevo arraial
domingo de carnaval
tua melhor fantasia.
E cinzas, quando isso eu for
vertidas sobre uma flor
no céu azul de Olinda.

Flesh to flesh, earth to earth, ashes to ashes.
Estas cosas pensé en la Recoleta,
en el lugar de mi ceniza.

E quando um dia, meu amor...
When you are old and grey and full of sleep
me asilarei na concha da tua alma
e nela, libertos do carnaval, seremos felizes
até quando chegue quarta-feira de cinzas.

Enfin, la chair est triste
la vie est aussi triste
et je suis fatigué
of laughing at her face
as if all that was funny.


Fernando da Mota Lima.

Recife/Olinda, quarta-feira de cinzas, fevereiro de 1995.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Carnaval e Piano


Como tantas coisas boas da vida, O Piano foi fruto de uma sucessão de acasos encenados em sucessivos carnavais. O primeiro reuniu-me a Flávio Brayner e Sérgio Gusmão na esquina do Café Cordel. Já não lembro o ano exato. Foi aí por volta do ano 2000. Fiquemos com a data redonda, tão marcante como símbolo de século e milênio. Sérgio, que era já amigo de Brayner, chegou carregando uma porção de instrumentos de percussão atados à volta de sua figura corpulenta: pandeiros, zabumba, chocalho, tamborim... Feitas as apresentações, queixamo-nos do ar meio parado do carnaval naquele momento. Seriam seis ou sete da noite. De repente, começou a cair uma chuvinha fina, chuva inglesa, dessas que não chovem mas molham e persistem. Então, por mero acaso, comecei a cantar Chove Chuva, de Jorge Ben. Sérgio foi desafivelando os instrumentos, que começou a percutir, e pouco a pouco foi juntando gente. Foi nessa noite acidental que tudo começou.
Lá pelas tantas tínhamos já sustentado uma folia entusiasta e quente à frente do Café Cordel cheio de cadeiras espalhadas pela calçada. Fizemos ali um grande e espontâneo carnaval. Sérgio era o coração e a força agregadora daquela linda festa. Como há muito vive como profissional da música, conhece uma infinidade de gente que faz o carnaval, sobretudo tocando no carnaval. Essa gente passava pela rua e logo, atraída por Sérgio, entrava na folia e com seus instrumentos imprimia energia, beleza e variedade à festa. Num certo momento, como um sopro de transfiguração mágica do carnaval, formamos espontaneamente uma imensa roda de ciranda. Enquanto Sérgio e eu, no centro da roda, (ele na percussão e eu cantando Cirandeiro, de Edu Lobo e Capinam) puxávamos a ciranda, logo seguida de outros ritmos, uma multidão linda e festiva movia-se como uma onda azul espraiando-se na noite.
Nesse momento, Flávio Brayner ocupou papel secundário. Afinal, não havia piano, seu centro e força de irradiação festiva. A ideia da folia incluindo o piano, que por fim batizou o bloco, veio alguns anos mais tarde no carnaval de Casa Forte. Pouco sei dessa parte da história, pois dela não participei. Sei apenas que a ideia e o comando do processo veio de ambos, Brayner e Sérgio. Quando voltei a agregar-me ao grupo, já sob a batuta do piano, foi novamente no carnaval do Recife.
O Piano tem hino – ou bossa-frevo, se assim posso dizer – e um belo estandarte. Este é obra da pintora Teresa Costa Rego. O hino é de autoria de Flávio Brayner, Janete e Sérgio Gusmão. Também eu, logo ao fim do carnaval do ano passado, compus um frevo em louvor do Piano. Chama-se Frevo do Piano. Pensava ensaiá-lo neste ano com Flávio e Sérgio para em seguida incluí-lo no nosso repertório. A doença, no entanto, privou-me de mais um carnaval, talvez o último. Digo último por viver, talvez solitariamente, uma insatisfação crescente com o fato de concentrarmos nosso carnaval na Rua da Guia. Não bastasse tanto, nossa sede ou salão improvisado é o Restaurante Panquecas, em tudo inconveniente para uma festa como a nossa. É uma casa que se alonga do fundo à fachada como um corredor quente e sem janelas, além das instalações precárias. Não bastasse tanto, a Rua da Guia está no foco de um carnaval cada vez mais ruidoso, cada vez mais incompatível com o Piano que, perdoem a presunção, procura realizar um carnaval de inspiração democrática no sentido festivamente mais alto do termo. Em meio a tanto excesso e ruído, com lances de barbárie respingando os acordes refinados do nosso som, é cada vez mais difícil cantar Tom Jobim, Chico Buarque, Antonio Maria, os grandes frevos e marchas tradicionais em meio a tanta pancadaria.
Acho que o Piano pode sem presunção orgulhar-se de fazer um carnaval que mescla democraticamente o melhor da nossa rica diversidade musical. Outra expressão notável do seu espírito democrático consiste no fato de que nossos microfones estiveram sempre abertos à participação dos que livremente entram na nossa festa. Essa licença democrática é marca tão patente do Piano que já por várias vezes nosso maestro, Flávio Brayner, irritou-se, com razão, diante dos excessos de bêbados desafinados que acabam entrando na festa e no coro para bagunçar nosso carnaval.
Esta crônica, alinhavada na manhã da quarta-feira de cinzas, vale um pouco como compensação para minha grande frustração decorrente da impossibilidade de mais uma vez, mais um carnaval, cantar e suar e abraçar feliz os muitos amigos que anualmente encontro no Piano: Bella, Gio, Neide, Janete, Nara, Ana Dubeux e Cyril, Erlyck e Lucila, Geneide e Priscila, Karina, Eliane, Conceição, Dora, André e Deborah, Dirceu, Celso, Alexandrina e Jorge Jatobá, Eliene e Sílvia Gusmão, Sílvia e Yoni, Vera e Ana, Mané e Elbe, Maria, Luiza e Lais, Lucivânio, Pedro Gabriel, Clarissa, Márcio, Stella Abranches, Stella Maris, Fernanda, Teresa Costa Rego e Teresa... quantos mais, meu Deus? Desculpem a lista tão parcial e até o próximo carnaval, ou até o Juízo Final.
Quarta-feira de Cinzas do carnaval de 2010.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O país do carnaval


Pensei em dar outro título a este artigo: “O país da anomia”. No entanto, como anomia é um termo procedente da terminologia sociológica - portanto, de uso e conhecimento muito restritos - optei pelo carnaval. Além de dar título ao primeiro livro de Jorge Amado, expressão suprema de alguns mitos da identidade cultural brasileira que abaixo ilustrarei, o termo vale para designar expressões de cultura que ultrapassam seu sentido estrito. Partindo deste, o carnaval foi tradicionalmente uma festa de espantosa dimensão coletiva cuja natureza mais distintiva radicava no seu caráter anômico, isto é, ele invertia durante sua vigência, três dias, as normas fundamentais que asseguram o funcionamento regular da sociedade. Por exemplo: o macho se fantasiava de virgem, multidões de adultos saíam pelas ruas cantando “mamãe eu quero mamar”, pessoas de todas as idades liberavam fantasias amordaçadas o ano inteiro nos cárceres do superego, os casais se traíam, as mulheres castas se vestiam de puta, as ruas e clubes eram invadidos por uma festa ruidosa e infrene e por aí o mundo se perdia num delírio de fantasia bárbara.

O leitor atento por certo notou que me referi acima ao carnaval no pretérito imperfeito. Minha intenção foi aludir a um passado inconcluso, afinal o carnaval não deixou de existir, sobretudo sugerir um processo de continuidade que se transforma radicalmente no presente. Noutras palavras, o carnaval agora é outro. Para começar, não fica restrito a três dias, o tradicional reinado de momo. Agora ele recobre todo o calendário. Tanto se dilatou, para a frente e para trás, nas datas que convencionalmente o determinam, quanto invadiu muitos outros dias do ano. Um exemplo? Hoje é 16 de setembro de 2012. O que esta data tem a ver com o carnaval? Supostamente nada. Acontece que inventaram uma coisa chamada “Parada da Diversidade”. O propósito aparente dessa festa é celebrar, como o nome indica, nossos múltiplos modos de ser: modos sociais, culturais, modos de gênero, modos de viver e crer e antes de tudo fazer festa.Tudo no Brasil é pretexto para festa. A esse tipo de evento somam-se agora muitos outros que praticamente todo fim de semana pipocam nas grandes cidades brasileiras: a “Parada Gay”, a dos “Evangélicos”, que ontem fechou o trânsito da Avenida Boa Viagem, principal via de ligação entre o sul e o centro do Recife. Há muitas outras, que os desocupados, os produtores culturais e os agentes de turismo sabem na ponta da língua. Não sei e odeio quem sabe.

Aparentemente, essas festas encerram um importante sentido político e cultural: promovem a tolerância entre os desiguais de todo tipo. Ora, na minha percepção esse suposto objetivo não passa de pretexto para a promoção de formas alternativas de carnaval fora de época, ou pura e simplesmente festa desatada de qualquer princípio de controle civilizatório. Uso neste contexto o termo civilizatório, que sei o quanto se presta à controvérsia, visando traduzir algo bem simples: o reconhecimento das normas elementares de relação social. É neste sentido preciso que me oponho indignado, mas definitivamente derrotado, a todas essas manifestações coletivas que promovem antes de tudo a anomia, a supressão dos meios básicos de regulação que imprimiriam civilidade ao acampamento urbano em que vivemos. Quero dizer que, por trás da aparência louvável dessas promoções coletivas, o que pulsa é a incivilidade, a anomia que agrava um estado social de convívio já em demasia deteriorado. A pretexto de qualquer valor na fachada louvável (Deus, Jesus, o direito das minorias, a tolerância entre os desiguais etc), o que essas festas promovem é o completo desprezo pela normatividade que assegura o respeito e o convívio civilizado entre as pessoas.

Falando do meu exemplo pessoal, pois estou indignado e é movido por minha indignação impotente que escrevo este artigo, estou aprendendo a dizer com certo grão de humor que passei a viver em estado de prisão domiciliar. Ontem, como acima observei, tive que suportar a “Parada Evangélica”. Em nome da religião e da celebração pública da divindade, milhares de pessoas ocupam uma das vias mais importantes da cidade para fazer carnaval animado por vários trios elétricos. O barulho é irritante. Mais do que isso, é revoltante a privação da liberdade de circular livremente através de uma das vias mais extensas e movimentadas da cidade, como já salientei. A religião, que foi tradicionalmente um meio de assegurar, entre outras funções sociais, o respeito à ordem social e ao semelhante, serve agora para promover a folia, o carnaval fora do esquadro convencional das grandes festas coletivas.

Querem uma variante desse carnaval ou dessa anomia? Pois observem com olhar crítico a campanha eleitoral corrente. Nossas campanhas políticas constituem a evidência irrefutável de uma sociedade anômica. A classe dirigente, ou aqueles que a ela se candidatam, vale-se de todo tipo de recurso para converter um fenômeno de natureza política em festa e droga barata para as massas oprimidas e alienadas. Como levar a sério um país que tem o tipo de campanha eleitoral que temos? Que tem o tipo de legislação política que temos? Como levar a sério um poder judiciário que legaliza os carros de som, a panfletagem irresponsável e politicamente inoperante que serve apenas para distribuir uns grãos de farelo ao lumpemproletariado e para sujar nossas ruas, como se já não fossem imundas além da medida mais baixa da civilidade?
Bem, meu artigo está chegando ao fim e minha paciência há muito se esgotou. O ruído, entretanto, continua ininterrupto no parque, onde se concentram os heroicos combatentes da diversidade. Segundo o noticiário da Rede Globo, somente depois das 22h a Avenida Boa Viagem será liberada para o trânsito normal de carros e pessoas. Se eu e outros recifenses agredidos por essa baderna tivéssemos direito a uma fatia de diversidade, a um fiapo de respeito dentro dessa desordem, eu pediria ao prefeito ou a qualquer das nossas autoridades festituídas, ou ao rei momo que nos desgoverna, que respeitasse meus direitos de cidadania com um minuto de silêncio.

E há ainda quem diga que essa merda desse país tem jeito. Não tem. Tive hoje cedo a oportunidade de lembrar a uma amiga a melhor definição que conheço do otimista. Repito-a aqui: o otimista é apenas um pessimista mal informado. Lamento desconhecer a autoria da frase, pois gostaria de prestar o devido elogio ao autor dessa definição perfeita. O país do carnaval é ingovernável. Portanto, não tem jeito. Ainda que se tornasse a maior potência econômica do mundo, seu povo continuaria sendo isso que neste exato momento estremece as janelas fechadas da minha prisão: um povo grosseiramente carnavalesco e irresponsável, um povo sem civilidade, um povo desprovido de consciência civilizada. Somente os nacionalistas cretinos acreditam que um país se faz apenas com crescimento econômico e política de pão e circo. Como respeitar um povo que não me respeita nem se respeita? O que é respeito? Concluo com outra definição que gosto de repetir: respeito é o que você deve dar para poder receber.
Recife, 16 de setembro de 2012.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Denis Bernardes


No fecho de uma das obras-primas de Bergman, O sétimo selo, a morte conduz o séquito das suas vítimas recortadas na linha do horizonte. Seguem-na, os mortos, enfileirados e dançando. Dançam uma dança solene rumando para a escuridão irreversível. A cena é narrada por um obscuro artista ambulante. À luz do amanhecer, descreve a cena para sua mulher que traz o filho pequeno ao colo. A visão do narrador se dilui quando a mulher sensatamente observa: você e suas fantasias... E se vão puxando a carroça através dos campos desertos da vida. Cito de memória, daí a omissão das aspas.

Foi a morte de Denis Bernardes, no último sábado, 1 de setembro, o que me induziu a evocar o filme e a cena acima descrita com as tintas borradas da memória. Quem conhece o filme sabe que é uma luta entre o cavalheiro medieval (Max von Sydow) e a morte. A luta se trava na forma de uma partida de xadrez. O cavalheiro é um jogador exímio, um adversário refinado na arte do jogo, que é o jogo da vida, mas sabemos que está fadado à derrota. Pois quem teria gênio, astúcia e poder para dobrar a Inescapável nesse longo e fatal combate que contra ela travamos?

Setembro chegou privando-me, sem aviso prévio, de mais um dos grandes amigos de minha vida. O primeiro, Daniel Lima, morreu em abril. Com sua imaginação irreverente, Daniel habituou-se nos últimos anos do nosso convívio a aludir à morte como a Magra Caetana. Na visão do saltimbanco do filme de Bergman, ela lidera o séquito dos mortos portando a foice e a ampulheta. Nunca conversei com Denis, a sério ou brincando, sobre essa figura mítica e aterradoramente real. Lembro-me de que falamos com muito humor da velhice. Meu último encontro com ele e Gildo Marçal foi com certeza o mais divertido de tudo que com ambos compartilhei. Entramos a falar da vida e da velhice com a imaginação transfigurada pela magia do vinho tinto (que Gildo há muito estava proibido de beber e por isso nos acompanhava com a sobriedade lúdica dos viciados em Coca-cola) e daí fantasiei nosso internamento numa clínica geriátrica em tom bem mais delirante do que o da personagem de Bergman descrevendo a Magra Caetana e seu séquito dançando rumo à escuridão definitiva.

Além da beleza da cena que encerra o filme de Bergman, achei belo fantasiar meus amigos Daniel e Denis somando-se ao séquito da morte dançando como crianças. Ambos reverteram, fatalidade dos que morrem, à escuridão que ata os dois extremos de nossa passagem por este mundo: a escuridão do útero, de onde brotamos, e a escuridão do desconhecido, obra da foice e da ampulheta empunhadas pela Magra Caetana. Nada me custa imaginar Daniel saltitante, dançando a dança incontornável da morte. Custou-me um pouco figurar Denis despedindo-se da vida e dos que o amam, e aqui ficam, seguindo as pegadas dionisíacas de Daniel, a este dando uma mão, a Gildo a outra, enquanto mergulhavam na escuridão que doravante nos separa.

A memória involuntária, entretanto, astuta como a Magra Caetana no jogo de xadrez da vida, salta do fundo do meu inconsciente e repõe na luz transparente do dia uma cena de certo carnaval de Olinda. De repente, me vi na folia ao lado de Denis, Rita, Marjorie e Natan Sarmento. Logo que Denis e Rita casaram, depois de um namoro que começou no meu apartamento, o casal Marjorie e Natan a ambos somou-se criando uma espécie de confraria de farras de fim de semana. Participei de poucas, duas ou três, mas foi o suficiente para avaliar o quanto se ligaram através dos elos profundos da amizade feita de convívio alegre e festivo. Até onde pude perceber, esse foi o momento mais feliz da vida de Denis. A partir de então, nossa amizade encolheu e foi recuando para encontros esparsos e ocasionais. Outros amigos bem mais importantes entraram na sua vida. De uns dez anos para cá, diria que são eles, não eu, que melhor poderiam pronunciar-se sobre Denis, sobre fatos e experiências que mais profundamente vincaram seus últimos anos de vida.

Mas a imagem do carnaval que brotou do meu inconsciente traduz algo do espírito festeiro de Denis, avesso das suas características mais notáveis, aquelas que moldavam as linhas de um temperamento introspectivo, não raro dissimulado atrás de muitas portas inacessíveis. O Denis que aqui reponta, em plena folia do carnaval de Olinda, é o folião fantasiado como Dom Quixote, galopando um cavalo de fantasia escudado por seu fiel Sancho Pança, Natan Sarmento. Poucas vezes me diverti tanto no carnaval de Olinda seguindo-os rua afora na caça dissimulada, mas sempre sintomática, das mulheres lindas enfeitiçadas por esse circo colossal, esse delírio da imaginação coletiva que é o carnaval. Essas impressões me marcaram de forma tão profunda que na mesma tarde, recolhendo-me momentaneamente da folia, comecei a compor um longo poema intitulado Carnaval de Olinda. Por isso tomo a liberdade de abaixo transcrever os versos inspirados nas fabulosas aventuras que a fantasia carnavalesca os impeliu a desatar pelas ruas coloridas de Olinda:
De repente, um homem magro e recluso
se transfigura em Quixote
erra pelas ruas perseguindo mulheres
belas e atormentadas pela falta de amor ou pura carne.
Outro homem, um que fazia concursos e que já foi comunista
agora se chama Sancho e é louco qual o seu amo.
Mulheres vão libertando
que vivam o que desviveram.
A virtude atirem contra o diabo
que o corpo será dos homens,
amém.

São essas as memórias e imagens que quero reter nesta crônica dedicada a Denis Bernardes. Já que não era Bernardo, mas Bernardes, ficam aqui implícitos os muitos que foi. Outros com certeza melhor diriam sobre a obra de historiador que produziu, tão pouco conhecida. Mas o fato de Evaldo Cabral de Mello, um dos maiores historiadores brasileiros, distingui-lo com referências elogiosas a seu O Patriotismo Constitucional: Pernambuco, 1820-1822, sugere um pouco do que esta obra representa para o estudo do processo histórico complexo, e ainda pouco estudado, da nossa independência. Outros ainda, a maioria, poderiam opinar sobre sua vida de professor e pesquisador. Outros sabem melhor da coerência discreta com que militou em nome de causas e movimentos políticos temperados por sua presença sempre admirável no seu timbre de tolerância e civilidade, no senso de virtude agregadora que assinalava sua participação em muitos grupos intelectuais e políticos.

Alguns amigos comuns ocasionalmente me falavam nos últimos tempos de um Denis transformado por experiências dolorosas associadas à doença e circunstâncias privadas alheias ao nosso convívio direto, que se estendeu, com as interrupções inevitáveis, de 1974 à época em que casou com Rita de Cássia, sua segunda mulher. Depois disso nossos encontros foram sempre, como acima salientei, esparsos e ocasionais. Costumo dizer que a amizade é o privilégio da intimidade. Tive a ventura de compartilhar isso com Denis e alguns poucos, pois amizades autênticas não se fazem nem perduram em redes sociais ou no circuito volátil das festas e reuniões sociais. E a intimidade é por natureza inconciliável com a exposição. Denis foi dos raros dotados de um senso não somente ético e político, mas também temperamental, nitidamente discriminativo da fronteira entre vida pública e vida privada, entre o privilégio da intimidade, expressão maior da amizade, e a vida pública.

A propósito, conviria religá-lo neste ponto a Daniel Lima. Ato assim, por mero arbítrio associativo, as duas pontas da crônica, já que comecei juntando-os num mesmo parágrafo e agora volto a reuni-los para concluir a crônica. Foram ambos homens afortunados, pois tinham o dom de se fazer amar. Embora tão distintos em termos de personalidade e temperamento, desfrutaram sempre do privilégio de serem bem amados, de preservarem amizades fiéis ao longo da vida. Até onde sei, essas amizades essenciais se prolongaram até à linha fatal onde foram colhidos pela Magra Caetana portando sua foice e sua ampulheta. Um dia, nós que aqui ficamos e lhes preservamos a vida que sobrevive na memória e nos ritos simbólicos que atualizam no tempo os que partiram, um dia seremos também colhidos pela Inescapável. Tudo que desejo (que mais desejar em face da necessidade?) é que ambos, Daniel e Denis, tenham partido dançando de mãos dadas com Gildo Marçal, Paulo Medeiros e tantos outros que já percorreram a linha irreversível da vida. Tudo que desejo é também saber dançar a dança da morte, que se aprende na vida, no momento em que a foice e a ampulheta sobre mim descerem.

Recife, 3 de setembro de 2012.

domingo, 5 de junho de 2011

A Modernidade em Olinda



A Modernidade Carnavaliza os Quatro Cantos

Ó abre alas – O indivíduo que busca pessoas e não encontra senão o outro pulverizado em massa – eis a dilacerante provação existencial da modernidade.
Vem Pitombeiras, vem Elefantes, blocos e troças e tudo numa boa se mistura: brancos, negros, cafuzos e mulatos. É o povo brasileiro carnavalizando os Quatro Cantos e toda Olinda, cara. Mas num supetão (você nem viu) tô eu ali tomado pela consciência de ser indivíduo dissolvido em massa. Quem que me ensinou isso, cara? Foi a teoria das três raças tristes, o Brasil caboclo, tropical e sambante? Foi isso não, cara, foi a modernidade.
E passam blocos, mulatos passam, passam figuras imperiais que logo na primeira esquina são atropeladas por um Chevette. É o Brasil arcaico simbolicamente confrontado com o Brasil moderno, cara; o Brasil do Banco Econômico, cuja faixa carnavalescamente compete com a do Pitombeiras, arrancando de um folião o comentário indignado: “O capitalismo infiltrou-se no carnaval de Olinda”.
E vem um homem e beija você, cara; vem uma mulher e beija você. E nada é proibido, cara, nada de nada recusas. Só por que é carnaval? Não só. Carnaval e modernidade. Quero dizer: a inversão da norma contaminada pelo sentido de ruptura dos padrões estéticos, bestéticos e morais. Modernidade é o lugar de instauração da anomia, cara.
A modernidade desfila nos Quatro Cantos e eles nem sabem, não obstante a encenem. Dissolvido na massa (a massa e a multidão, a multidão solitária, a indústria e a cidade são expressões da modernidade) num lance, ou relance, você se pega roendo as unhas. Roer as unhas, em semelhante contexto, não será uma forma de indiciar a distância (distanciamento, diria nossa modernidade brechtiana) entre a sua consciência, vincada de modernidade, e a explosão alegórica do Brasil primitivo? Entre você e a massa, entre a consciência e o passo (do frevo, bem entendido. Bem entendido noutro parêntese. Vê como as associações se atropelam? Não é que antes não se atropelassem. É que antes não sabiam, nem sabia você, da psicanálise) se interpõe a modernidade. E que diabo é a modernidade senão o fosso cavado entre a consciência e o objeto, o uso e a troca, a perversão e a inocência, o Brasil arcaico pulsante no primitivismo de suas expressões, e o Brasil moderno vincado pela força da máquina, racionalização, automação, minicomputador, antimísseis e explosões atômicas?
A modernidade frevou nos Quatro Cantos e você nem viu, embora professe sua psicanálise diluída, seu marxismo de manual e guie seu carro movido a álcool – único indício, aliás, do Brasil agrário engrenado no seu motor. A modernidade é toda essa complexa e promíscua e confusa realidade que o devora sem que dela você se dê conta. E no entanto, Machado de Assis, que viveu no século 19 (mas foi mulato de alma branca, dizemos nós ilusoriamente rebaixando-o na sua expressão de modernidade artística brasileira) disse a modernidade em pleno Brasil Pedro II com uma agudeza que todo nosso nacionalismo populista, e pululantes excrescências, não consegue dizer ainda à altura desse tumultuoso declive que de cabeça nos impele de encontro aos vulcões do século 21.
A modernidade pintou nos Quatro Cantos e você nem viu, cara, tão absorto estava nas arcaicas paisagens desse Nordeste miscigenal-tropical-canavial arquitetonicamente dançando sobre as ruínas das casas-grandes e senzalas. A modernidade cruzou certa janela dos Quatro Cantos de Olinda e só Carolina não viu.
Ó fecha alas – Universal é a estupidez, não a modernidade.
Olinda, setembro de 1984.
Nota – crônica publicada na revista Extensões, da Universidade Federal de Pernambuco, no. 1, agosto/outubro 1984.