quarta-feira, 4 de junho de 2014

Máximas e Mínimas XI


Muita gente ama a vida porque não suporta a realidade. Raros os que amam a vida real.
Amo você como você é. Não se ouve frase mais banal e inconsciente na linguagem dos amantes. Por isso os amantes mentem tanto. Se eu pudesse realizar meu ideal de felicidade no amor, diria que esse ideal consiste no seguinte: amar dentro da verdade, ser feliz tendo a verdade como princípio. Infelizmente, me confesso incapaz disso e nunca conheci ninguém capaz de converter esse ideal em realidade. Portanto, convém amar nossa imperfeição tantas vezes mentirosa ou consolar-se amando gato e cachorro.
Uma relação de ódio pode consumar-se no flash de um gesto ou palavra. O amor, entretanto, precisa sempre e sempre dar provas de si: do quanto é generoso, atencioso, desprendido, quente, protetor, fiel, luz acima das meias tintas cotidianas dentro das quais movem-se nossas existências insignificantes. Ai dele se não transpirar no calor e espirrar encolhido dentro do frio. Ai dele se, depois de dez anos de estrita fidelidade, chover no verão ou menstruar em pleno desfile de moda. Ai dele se entoar uma marcha fúnebre na madrugada do segundo dia de carnaval ou dançar um frevo no velório da sogra assassinada. O ódio, por outro lado, não requer qualquer talento ou virtude. É tão fácil quanto ferver água ou dormir de olhos fechados. Por isso às vezes não resisto à recorrência do fracasso e assim me rendo desolado: "Caramba, estou cansado de amar!" (agosto de 1993).
O Brasil passou de colonial a subdesenvolvido, em seguida a país em desenvolvimento, daí a país emergente. Subimos tanto e todavia continuamos atolados no mesmo buraco.
A política denuncia como uma fratura exposta o pior da nossa natureza. É por isso que corro dela. Não é que me suponha apolítico, já que ninguém o é. Simplesmente admito ter o nariz delicado demais para suportar a cru meu próprio cheiro.
Ideologia é a fé secular de quem é incapaz de andar sem a muleta de uma religião.
O otimista é um pessimista mal informado.
Otimista é quem despreza os fatos que desmentem sua expectativa.
O pessimista não é quem vê e espera o pior da realidade; é simplesmente quem aceita a realidade como ela é.
Tanto buscamos o amor, por certo o sentimento e a experiência suprema da nossa vida, e todavia como tão mal e erradamente o vivemos. Juramos amar aceitando o outro como ele é. No entanto, contradizemos essa promessa generosa, pois somos incapazes de transcender o egoísmo que rege nossa natureza. Se amar é um ato de doação, sair de si para se dar ao outro, por que tantos amantes não saem de si próprios?
Se houvesse no ser humano um grão de sabedoria, ele adotaria como princípio ser fiel à sua natureza. Somos, contudo, tão inconscientes do que somos que confundimos a função do papel higiênico com a do guardanapo.
Os céticos antigos diziam que a vida não era para ser levada a sério. Mas no Brasil, convenhamos, a gente exagera.
Inconsciência, teu nome é Brasil!
A vaidade é uma variação ruidosa da estupidez.
As pessoas não suportam o silêncio porque temem ouvir a sua voz irredutível.

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