domingo, 29 de junho de 2014

Tarde de Maio


Anoitece e a minha sombra
Tomba na tarde de maio.
O cão ladra e me assombra
O desejo de morte enquanto caio
Em mim e logo de mim saio
E fora, no mundo estou perdido.
No fundo o exaspero e esse latido
Fere-me os tímpanos e exausto
Tropeço indo de um a outro ouvido.

A tarde de maio que era clara já escurece
E a sombra antes tão quieta se esvanece
E voa e aos quatro ventos se dispersa.
Os cães ladram (agora tantos) e me abate
Em vão lutar com a arte, ingrato ofício
Em tempos que lhe são tão adversos.

Na noite já mergulho e o desamparo
Fura-me os olhos e prende-me a garganta.
Os cães ladram, as serras fendem o ar
E o desejo feroz quase me espanta
Fremir nesse desejo de matar.
Recife, maio 2014.

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