segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Águas Atlânticas


I - O Vento

Amo o vento.
O rumor do vento nos coqueirais.
Amo a memória do vento
O retinir dos cristais.
O vento sopro de um tempo
Carne gemente no cais.
Amo o que o vento carrega
Nódoa do fim
Nunca mais.

II – O Vento

O vento não tem memória
Em mim é que ela se faz.
O vento é só o vento que sopra.
Sou eu quem nele projeta
Memória, desejo e o mais
Que o converte em natura humanizada.
O vento é o vento mais nada
O nada qual nada eu sou.
Tenho desejo, memória
Sou mente e imaginação.
Mas onde raia o sentido
No nada que é o ser do vento
No vento que é minha razão?


III

Amo ninguém.
A vida já me pesa.
Pesam-me os anos vividos.
Pesa-me o tempo acordado.

Amo a paisagem além da janela aberta:
O ocre dos telhados manchando a verde
majestade dos coqueirais.
Amo o mar invisível.
Amo sobretudo a brisa que dos longes o anuncia.
Amo ninguém: assim ficou minha vida.

Porto de Galinhas, 23 de junho 1998.

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