segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
No Mural do Facebook XXV
Tribalismo e consenso:
Acabo de ler um artigo luminoso de Contardo Calligaris postado por Anco Márcio Tenório Vieira. Tentando traduzi-lo em termos próprios, os maiores obstáculos à liberdade de pensar são de natureza subjetiva, ou constitutivos da nossa condição. Criticando a opinião geral apreensível no Facebook e nas redes sociais, Calligaris demonstra como precisamos até inconscientemente aderir a um "pensamento consensual", isto é, formamos um grupo ou massa compacta de opinião, que naturalmente se nutre da hostilidade a um outro grupo. E continuamos iludidos pela suposição de que pensamos com a nossa própria cabeça.
Ele argumenta ainda, com inteira razão, que sempre culpamos os conglomerados da mídia, indutores do pensamento unidimensional ou manipulado. Bastaria pensar na longeva demonização da Globo, não por acaso o conglomerado hegemônico da mídia brasileira. Ora, se essa fosse a verdadeira razão da nossa incapacidade de pensar com autonomia, o Facebook seria logicamente um painel de opiniões múltiplas e elasticamente críticas. A evidência demonstra exatamente o contrário. Conto nos dedos os que aqui escrevem com autonomia visando promover a discussão crítica e isenta. Portanto, contrariando um outro consenso corrente, não é por culpa da manipulação midiática e das conspirações obscuras dos poderosos que tendemos a pensar de forma unilinear. Sem depreciar o peso desses fatores (excluídas as conspirações, que raramente são reais), a causa última da nossa servidão é voluntária, como já dizia Etienne De La Boétie no século XVI. Precisaria a tempo acrescentar que são também de natureza inconsciente, argumento predominante na argumentação de Calligaris, não obstante implícito. A matriz deste último tipo de argumento ou fator é Freud. Só nos tornamos capazes de pensar com a própria cabeça quando nos libertamos subjetivamente das tutelas externas: as ideologias, partidos e religiões institucionalizadas e todas as forças sociais geradoras de conformismo e consenso.
(Publicado no Facebook, 30 de setembro 2016).
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