segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sete Sonetos para Sônia S. - II




A Musa Virtual - V

Eu fiz de Sônia S. uma miragem
Tão plena de ideal, tão virtual
Que a linha entre a mulher e a personagem
Dissolve-se na bruma do portal.

As portas e janelas, os portais
Canais vertendo sonho e ilusão
Convertem a paisagem dos mortais
Num céu de esplendor e ideação.

Mas ai, o que fazer de ideais
Atados à soleira dos portais
Sem trânsito pra vida e a ação?

Adeus a essa mulher, flor de ideais
Gestada na poeira dos quintais
Varrida pela astúcia da razão.


Fatalidade - VI

Quem diz que o amor consome sua dor
Ardendo nas fogueiras da paixão
É antes do amante o impostor
Traído pela voz da sedução

Que mente até no cerne da verdade
Do sopro em que se esgota a duração
Atada à dor do fim, fatalidade
Humana, que é acaso e extinção.

Quem diz que o amor perdura em cada jura
Jurada à infiel que ora é doçura
E ora a cada hora é sempre um não

Não sabe que o amor é senda escura
Fadada a afundar na sepultura
Onde por fim repousa o coração.

Recife, 04 agosto 2004.


Como um Soneto de Adeus - VII

O que fazer do amor quando o amor
Sequer roçou no outro o ser real
Se a chama que o requeima é só o ardor
Tecido da ilusão, do virtual?

Que mais dizer do amor, dos rasgos seus
Ausentes do objeto em que se abisma
Se tudo chega ao fim antes que os céus
Concedam contemplar-lhe sua cisma?

Portanto, adeus amor, o amor morreu
Bem antes de estreitar no corpo seu
A sombra fugitiva em vagos véus.

E tudo assim acaba e pouco dói
O amor já não consome o que destrói
Com a dor o que feria a voz do adeus.

Recife, 07 agosto 2004.
Fernando da Mota Lima.

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