domingo, 1 de agosto de 2010

Sete Sonetos para Sônia S. - I




Sete Sonetos para Sônia S. - I

Sete Meses - I

Sete meses sem ela ele viveu
Sete meses sem ler um só e-mail
A chuva da cidade ele bebeu
Cansado de esperar e ela não veio.

Sete meses de orgulho e nula espera
Em vão afugentando a sombra dela
Mas ela a refluir em primavera
Voltava ainda mais alta, ainda mais bela.

Voltava e todavia aonde vê-la?
Em que cristal gelado, em que estrela
Tecer a aparição que em si se esquece?

Que vida em sete meses dispersou
Ao vento, à noite em fuga, onde vagou
O corpo em que se esconde Sônia S.?


Amor Sem Paga - II


Sete meses por ela ele velou
Os bens da devoção sem esperança
Curtindo a solidão ele oscilou
Do sonho à mais estrita temperança.

Sete meses a grão em grão medido
Um tempo além da conta e medição
À espera do que ausente e inesquecido
Renova a cada nada a negação.


Sete meses e tudo é só seu nada
À força de medir a mesma estrada
Que ele estoicamente em si refaz

Semelha rendição a um neutro amor
Que nega o que acolhe de um cultor
Fadado a amar sem paga e ainda mais.



A Imortal e o Ateu - III

Sete meses por ela ele comeu
O pão que o cão do inferno fermentou
Enxofre e coca-cola ele bebeu
Tingidos pelo sangue que jorrou

Das fontes da ilusão, do desamparo
Dos párias que a cidade castigou.
Amor assim sem metro, assim tão caro
Que outro insano amante assim amou?

Por ela ele rasgou e enfim queimou
e-mails que lavrou e esqueceu.
Insone ao pé do fogo em que ardeu

Sem água pra sustar o que acendeu
Ceifou tudo que à volta se mexeu
Mas ela é imortal e ele ateu.



Enigma do Silêncio - IV

Silêncio, ele indagava e repetia
Que som paira na voz que emudeceu
Que som traduz a voz desta poesia
Que antes de viver nela morreu?

Silêncio, que palavra abalaria
A espessa fortaleza do teu véu.
Que som vertido em sopro de magia
Iria do deserto ao vasto céu?

Que nome de mulher ou poesia
Raiando sobre o asfalto e a serrania
Faria a voz do ateu curvar-se à prece?

Que pulsa entre o sonho e o inefável
Que nome de beleza caroável
Se cala no olhar de Sônia S.?

Recife, 30 de julho de 2004

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