terça-feira, 27 de julho de 2010
O Corpo Enfermo
Meu corpo costurado sobre a cama
Repousa sobre o nada e nada ama.
Meu corpo costurado e solitário
Padece entre o presente e o tempo vário.
Meu corpo pela dor tão castigado
Rangendo num deserto inconsolado
Memora o quanto amou e foi amado
Num tempo que remoto e dissipado
Semelha um outro ser avesso arado
Do enfermo que aqui se dói deitado.
Meu corpo vã matéria contingente
Que o tempo vai curtindo impenitente.
Meu corpo que me dói, pois tudo sente
Doer em tudo, em si, no ser sofrente.
Meu corpo que entanto ama viver
Embora assim se finja aborrecer
Da dor cota fatal de se viver
Traindo em cada ardor novo prazer.
Meu corpo que repele assim sofrer
É sábio em sua dor para saber
Que o gozo jaz nas dobras do sofrer
E a dor enfim se dobra de prazer.
Fernando da Mota Lima.
Recife, 24 novembro 2001.
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Ola,
ResponderExcluirFernando.
sempre acreditei no amanhã. intriga-me porem saber como estás hoje. swift também sonhou que estava atado a uma cama.
abraço
cap
Cap:
ResponderExcluirBom ler você ao voltar convalescente de uma cirurgia. O poema acima, você notará a data, foi composto quando de uma outra cirurgia. Indo sofrer uma nova, pareceu-me oportuno postar um poema do tipo acima. Como você, acho que como todo mundo, também acredito no amanhã. Mas não se esqueça de que um dia ele nos faltará.
Fernando.