quinta-feira, 10 de maio de 2012
Lendo Bandeira em Freyre
Nem o menino de oito anos se deixou, em Bandeira poeta, vencer, em tempo algum, por esse precoce velho de oitenta, nem o antecipado velho de oitenta, pelo renitente menino de oito. Sempre se completaram, sem muita desarmonia entre os dois. Como avô e neto dentro do mesmo indivíduo.
Gilberto Freyre.
Em vão te diz o espelho
no fato a crua verdade:
mira tua face de velho
a vida já te vai tarde.
II
Sim, velho, que hei de fazer
do que me vai e vai tarde
se um sopro de amanhecer
inda no peito me arde?
III
Na curva que me desenha
um vago perfil da idade
vislumbro um acordo na senha
que me perfaz a idade
IV
a idade mais eu e exata
além do ser convenção
fundindo no céu de prata
a idade do coração.
V
Não miro assim nem o velho
nem o menino em meu ser
mas ambos na flor do espelho
fundidos num só viver
de extremos entretecidos.
VI
Assim me vou in-ferido
Num mar além da aparência
rindo do golpe bandido
que não me tira a inocência.
VII
Lá se vão unos fundidos
em mim o velho e o menino
retendo os tempos vividos
no ser que é ser sendo sido.
Fernando da Mota Lima
Recife, 25 de setembro de 2001.
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