quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
No espelho da verdade
Para Zé Luiz, lendo Machado de Assis.
A cada dia que passa
Me desconforta o que vejo
Entre o que sou e o espelho
Que impiedoso me espreita.
Mais que meu duplo, reflexo
Vejo a polícia, o juiz
Que desvelando o que escondo
Diz o que o mundo não diz
O que a voz silencia:
Eis o meu eu que o espelho
A sós comigo alumia.
Portanto, vida, o engano
Que em outros se pronuncia
Já não me causa mais dano
Não mais ilude meu dia.
Quero ser só o que sou
Ser para mim eu inteiro.
Ainda que o mundo inteiro
Não me tolere a verdade
Minha medida de vida
Comigo só ajustada
É ser comigo inteiro
Embora o mundo inteiro
Estilhaçando o espelho
Suprima a linha traçada
Entre meu ser e meu nada.
Recife, 15 de dezembro de 2012.
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