sábado, 1 de dezembro de 2012

Luiza Cage


Para Dondim, que gosta de Luiza impressa.

Luiza Cage era louca
Louca de beira de estrada.
Traía a filha, o marido
Ao próprio amante enganava.

Na cama, quando gozava
Em desvario rasgava
As vestes sedas cetins.
Ia ao extremo dos fins
E quando dele voltava
Luiza Cage chorava.

Chorava como quem ria
Como quem folha vadia
Sopra no ar calmaria.
E por aí ela ia
Doida no claro do dia
Doida na treva da noite.

Luiza não tinha hora
Nem pra sair nem chegar.
Se entanto dela fugia
Cansado de esperar
A louca me perseguia
dentro da noite deserta
Aonde eu fosse parar.

E se por fim me escondia
Exausto de aturar
Sua loucura sem hora
De nos meus calos grudar
Gravava queixas chorosas
Na secretária-eletrônica
Pulverizando-me as rosas
Com sua verve histriônica.

Luiza um dia sumiu
E com alívio, confesso
Voltei à paz dos lençóis
Que antes incendiava.
Voltei aos livros, avesso
Do que ela louca queimava.
Antes eu só do que nós
Nas noites atormentadas.

Um dia revi Luiza
Louca na beira da estrada
Como se a mesma ainda fosse.
Despi-a linda, tão linda
Nadei nos mares de Olinda
E outra Luiza inventei.

Fez tantas plásticas a louca
Que lhe moldaram o corpo
Com linhas estonteantes.
Mas o juízo, a loucura
Que a cirurgia não cura
Era a loucura de antes.

Recife, 1 de dezembro de 2012.






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