quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A confissão do pai


Filho, perdoe a fraqueza
De quem te pôs neste mundo
O peso da incerteza
Que me arrasta pro fundo

Do fundo em que me abismo.
Tão pouco sei, quase nada
Sou qual um gago truísmo
Ou pedra na mesma estrada

Onde tropeço à procura
De um norte que não tracei.
A vida é uma senda escura
Que nunca em mim decifrei.

Filho, perdoe a ausência
Na noite sofrida em claro
A inação que é demência
Urdida em meu desamparo.

Faltou-me a força de ser
O pai que você pedia
Eu que mal falo e sei ler
As linhas dessa aporia

Que é a própria paternidade.
Como me dói a certeza
De que não deixo saudade.
Deixo somente a fraqueza

Dessa bondade passiva
Que às vezes me paralisa
Fazendo da própria vida
Um fútil sopro de brisa.

Filho, o silêncio perdoe
Perdoe a falta de abrigo
Pois sei o quanto te dói
Ser do teu pai o amigo

Que não fui forte pra ser
Na noite de desamparo
Que é tua vida sofrer
Como um destino ignaro.

Filho, perdoe o legado
Que é tudo que te deixei
Eu que tangi o meu gado
Pra um pasto que ressequei.

Assim de mim me perdi
E como pai fracassei.
O que não fui e esqueci
Perdoe e o que confessei.

Resposta do filho:
Pai,
afasta de mim este cálice
Que me fartei de beber.

Curitiba, 17 de abril 2013.

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