domingo, 20 de abril de 2014

Eu coletivo

 
         












Conta, Fernando, conta
A experiência de ser
Ser como erro e fracasso
Ser outros modos de ser.
Conta o teu nome comum
Como o de tantos que foram
Assim comuns no teu tempo
Pois singular e comum
É a vida que se partilha
E na partilha se esboça
Um modo de geração.
Conta o que sendo Fernando
Foi sementeira de grãos.

Conta, Fernando, conta
Os frutos da estação
O que tão logo contado
Transcende o esquecimento
Embora a tua existência
Passe com o sopro do vento.
Tudo que conta a memória
Embora do eu proceda
Torna-se humano fermento
Mais que o eu singular
Grava no trânsito o tempo.
A fala impressa na escrita
É o outro em ti, o eu além.

Assim, contar-te é dar voz
Ao outro silenciado
Pelo acaso, o poder
As forças que nos oprimem
No duro ofício de ser.
Conta o que a vida apagou
O que a história esqueceu.
Destrava o velho baú
Memória acumulada
Entre poeira e silêncio.
Então começa a contar
Antes que a hora se esgote
E sejas tu próprio nada.


2 comentários:

  1. bela poesia!
    um bom final de semana.

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    1. Marcos: muito grato pelo comentário e pela atenção constante e generosa que você concede aos textos que posto no meu blog. Um abraço,
      Fernando.

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