domingo, 18 de abril de 2010
Sociologia -Origem e contexto histórico
1 – Etimologia – A palavra sociologia deriva de um hibridismo, isto é, do latim socius (associação, sociedade) e do grego logos (razão, estudo, tratado sobre alguma coisa). A palavra foi criada pelo filósofo francês Augusto Comte e está contida em sua obra fundamental: Curso de Filosofia Positiva. Etimologicamente, portanto, sociologia significa estudo da sociedade. Comte foi um pensador muito influente durante a segunda metade do século XIX. Sua influência no Brasil foi tão grande, sobretudo entre nossos republicanos, que a máxima inscrita na bandeira brasileira Ordem e Progresso procede de sua sociologia. Este binômio, ordem e progresso, sintetiza a concepção sociológica de Comte. Se de um lado, com o termo progresso, ele reconhece a natureza dinâmica da sociedade, de outro, com o termo ordem, subordina os processos de mudança social e progresso ao princípio da ordem. Isso o identifica como um sociólogo antes de tudo conservador. Seu oposto, nesse sentido, seria Karl Marx cuja sociologia, também fundamentada no progresso, postula a revolução, não a ordem, como meio necessário de realização do progresso.
Evitando tornar vazia a definição etimológica acima anotada, importa esclarecer mais ou menos o que em sociologia entendemos por sociedade. A palavra, como se sabe, tem múltiplos significados. Pode significar, por exemplo, a totalidade do gênero humano (sociedade humana), uma sociedade nacional (sociedade brasileira ou inglesa) uma sociedade local (sociedade recifense), uma sociedade regional (sociedade nordestina), uma instituição que legalmente representa os interesses de determinado grupo profissional (Sociedade Médica do Brasil) e ainda alta sociedade. Neste último sentido, observamos um forte viés elitista, já que a expressão subentende que apenas os afortunados, ou socialmente privilegiados, integram a sociedade. O sentido que de fato importa para a sociologia é o que sempre envolve interação social. Este conceito supõe que toda relação social implica ação recíproca, ação entre dois ou mais agentes. É somente nesses casos que consideramos em sociologia a existência de relações sociais relevantes, a existência de um grupo ou fato social que importa sociologicamente investigar.
Vale ainda acrescentar que nem sempre a interação supõe proximidade social. Noutras palavras, pode haver interação entre pessoas socialmente distantes, até materialmente estranhas, como é hoje freqüente na interação que ocorre via internet, e inversamente inexistir interação entre pessoas próximas e todavia separadas por ausência de comunicação efetiva. Sabemos que o desenvolvimento tecnológico acelerado no campo das comunicações à distância, além da transformação das relações de convívio e intimidade na sociedade contemporânea, alteraram significativamente as formas tradicionais de relação humana.
2 – Origem histórica – O processo de formação da sociologia estende-se por um amplo período que vai, como ressalta Bottomore, de 1750 a 1850. É dentro deste dilatado intervalo de tempo que se processam duas revoluções fundadoras da modernidade: A Revolução Industrial, situada pioneiramente na Inglaterra, e a Revolução Francesa. Enquanto a primeira representou antes de tudo uma transformação radical no âmbito da economia, das formas e técnicas de produção da riqueza material, a segunda foi fundamentalmente uma revolução política.
A sociedade contemporânea do tipo da nossa é consequência das duas revoluções fundadoras do mundo moderno: A Rev. Industrial e a Rev. Francesa. Ela se caracteriza antes de tudo pelo sistema de produção de base industrial e pós-industrial e pela alta densidade demográfica. Noutros termos, pela produção econômica que se tornou hegemonicamente capitalista e pela urbanização. Foi portanto nesse contexto que surgiram a sociologia e demais ciências sociais.
A Rev. Industrial transformou radicalmente as técnicas de produção econômica e a divisão social do trabalho. Além disso, deslocou para as cidades grandes contingentes demográficos antes concentrados no campo e dependentes da economia de base agrícola. A formação das grandes cidades, Londres valeria como um exemplo ideal, gerou realidades e problemas sociais de escala sem precedente que atuaram como fatores decisivos para a constituição da sociologia. Bastaria lembrar os grandes problemas sociais resultantes de processos desordenados de urbanização: pobreza, criminalidade, mendicância, exploração das classes trabalhadoras, do trabalho do menor, habitação e saúde, além de processos radicais de mudança cultural.
Quanto à Rev. Francesa, foi antes de tudo uma revolução política. Ela deslocou radicalmente o fundamento do poder na sociedade da esfera divina, ou transcendente, para a secular ou imanente. Se antes o poder do governante era reconhecido como representante secular do poder divino, pois sua legitimidade emanava de Deus, a partir da revolução a legitimidade desse poder se desloca para o mundo social concreto. O governante, noutras palavras, passa a ser escolhido pelo povo, tornando-se assim seu representante. Além disso, a instituição da Declaração dos Direitos do Homem estabelece a igualdade legal de todos abolindo assim o sistema tradicional de estratificação social.
A revolução francesa teve causas sociais e econômicas, como acima indicadas, e também intelectuais. Dentre estas, importaria ressaltar o papel fundamental desempenhado pelo desenvolvimento da ciência e o Iluminismo, movimento intelectual de extraordinário impacto no séc. xviii em países como a França, Inglaterra, Escócia e Alemanha. O Iluminismo francês, diretamente associado à revolução francesa, representou uma força de mudança ideológica decisiva para minar o poder do Antigo Regime. Iluministas como Diderot, que dirigiu a Enciclopédia Francesa, Rousseau e Voltaire produziram obra de grande influência para a irrupção da revolução.
Distinção entre fato e processo histórico - O primeiro poderia ser ilustrado com a data que convencionalmente identifica a Revolução Francesa: 14 de julho de 1789. Sabemos que esta data não esgota nem mesmo condensa os significados mais relevantes desta revolução. Se queremos ter uma idéia mais adequada do que ela representou na história da humanidade, precisamos ir além do mero fato, precisamos examiná-la como um processo. Sumariamente, o processo compreende uma complexa sucessão ou cadeia de fatores e causas interagentes cuja acumulação resulta no fato associado à data símbolo consagrada pela história. Sendo assim, um fato histórico como a Revolução Francesa deve ser compreendido como um processo complexo e prolongado que envolve fatores e causas de ordem social, econômica e ideológica.
Causas e explicações transcendentes vs. imanentes – A sociologia é fruto de muitas causas históricas e sociais, como procurei acima descrever. Considerarei neste parágrafo apenas um aspecto geral decisivo para o seu surgimento. Até o advento da modernidade, cujo marco que nos interessa são as duas revoluções já mencionadas, os seres humanos tendiam a propor explicações transcendentes para os problemas sociais. Em suma, propunham explicações de natureza mágica ou religiosa. Um exemplo que bem ilustra esta questão, no contexto das relações de atraso social observáveis no Nordeste brasileiro, é o da explicação que o flagelado pela seca confere a este fenômeno. Além de percebê-lo como algo relacionado apenas ao universo da natureza, tenta explicá-lo com base em princípios transcendentes: a vontade divina, castigo divino, fatalidade...A explicação sociológica, em contrapartida, prende-se a fatores puramente imanentes, fatores restritos à ordem do mundo em que vivemos. O que acima mencionei com relação às consequências sociais, políticas e econômicas desencadeadas pelas duas revoluções, a industrial e a francesa, reforça o argumento aqui esboçado.
Bibliografia:
Bottomore, T. B. – Introdução à Sociologia. 8ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. Ver especialmente o cap. 1.
________ e Outhwaite, William. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Ver especialmente os verbetes Sociologia, Sociedade Industrial e Revolução.
Galliano – Introdução à Sociologia. São Paulo: Harper and Row, 1981.
Martins, C. B. – O Que é Sociologia. Coleção Primeiros Passos, no.57. São Paulo: Brasiliense, 1982.
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seu post esta maravilhosamente claro e objetivo!!! amei... obrigada
ResponderExcluirbommmmmmmmmmmmm
ResponderExcluiramei...
Que bom isso!
ResponderExcluirMto obrigado ajudou-me tanto na minha prova.
ResponderExcluirgostei
Gostei muito e obrigada. Ajudaram-me imenso.
ResponderExcluirMuito bom, ajudou bastante...
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