domingo, 15 de agosto de 2010

Fascismo Paulista




Li na Terra Magazine uma entrevista concedida por Willian (sic) Godoy Navarro. Ele se pronuncia em nome de um nascente movimento de jovens supostamente contrário à migração. Digo supostamente porque o buraco é bem mais embaixo. O sentido real do que diz vai bem além de uma mera – e necessária, acrescento por conta própria – política de migração. O alvo é antes de tudo o migrante pobre nordestino. Em alguns momentos, interpelado pela repórter Ana Cláudia Barros, Willian tergiversa, reluta e até se contradiz. Mas o sentido substancial desse movimento é, sim, fascista. Sei que este termo, barateado e até corrompido pelo excesso de uso e abuso, não é de entendimento unívoco. Por isso deixo bem claro o que quero dizer quando o emprego. Esse movimento é fascista por ferir os princípios fundamentais da democracia, por afrontar os direitos fundamentos de todos os brasileiros que não integrem o grupo em questão.

Como todo movimento inspirado na tradição do irracionalismo de direita, ele contém uma enxurrada de disparates, contradições e erros que agridem os fatos mais elementares da realidade que pretende criticar e corrigir. Por exemplo: os termos fundamentais envolvidos no movimento e na polêmica, pois o caldo já entornou no chão minado da polêmica, como seria inevitável, não têm nenhuma consistência. O que quer dizer cultura paulista? Ou nordestina? São Paulo se constituiu como uma mescla errática de gente de todas as procedências e culturas. Também o Nordeste, que a estupidez e o preconceito sulista reduzem a estereótipos grosseiros. Willian Godoy afirma besteiras do tipo: foram os paulistas que fizeram a riqueza de São Paulo. E notem que é um dos moderados confessos do grupo. Imagino o que Fabiana, a extremista desse movimento, não diria. Diz ainda que São Paulo foi sempre um estado rico. Onde esse rapaz estuda, o que leu na vida?

São Paulo era um fim de mundo na época em que Pernambuco e a Bahia constituíam o centro da riqueza colonial brasileira, que depois se deslocou para Minas. Não lembro isso com o propósito de afirmar nenhuma superioridade regional, apenas para alertar a estupidez intolerante para o fato de que a produção de riqueza e desenvolvimento econômico independem de algum suposto caráter racial, regional, nacional ou coisa que o valha. São Paulo é evidentemente a força hegemônica do Brasil. Mas este fato não tem nada a ver com superioridades ou separações intolerantes como essas reivindicadas por esses jovens paulistas. As razões da hegemonia paulista podem ser explicadas em termos históricos e sociológicos que esses intolerantes deveriam ocupar-se em aprender, ao invés de se mobilizarem para organizar movimentos fascistas no Brasil.

Grande parte dos horrores do século 20, de resto um século de horrores, derivou de ideologias intolerantes, de movimentos que afrontaram e por pouco não destruíram as bases da civilização penosa e lentamente construídas sobre valores de tolerância e esclarecimento humanista. O racismo e outras formas de intolerância não são estranhos à nossa formação histórica. Como conceber a inexistência de racismo num país que desgraçadamente foi o último a abolir a escravidão, num país que ainda hoje retém em situações sociais rotineiras os vincos iníquos dessa herança maldita: o colonialismo e o escravismo? Mas como negar que felizmente nunca vivemos, em meio a nossos horrores irrefutáveis, os extremos do racismo e da intolerância política e religiosa observáveis na história de outros povos?

A julgar pelo açoite do feixe de varas brandido por esses belicosos e intolerantes paulistas, está a caminho um movimento empenhado em fechar fronteiras dentro do Brasil, em instituir um apartheid tropical. Como reconduzir cada brasileiro à sua região de origem? O presidente Lula, por exemplo, deve voltar para sua terrinha pernambucana? Chico César deve ser recambiado para Catolé do Rocha? Os japoneses e italianos devem ser expulsos de volta a seus países de origem? Se houvesse um pingo de coerência ideológica nesse movimento nefasto, aposto como nenhum dos 600 signatários do manifesto teria o direito de continuar vivendo em São Paulo, usufruindo a riqueza e a insanidade paradisíaca dos puros. A solução, portanto, é destruir São Paulo, pois nem o moderado Willian Godoy é portador dos traços de dignidade e pureza necessários à sobrevivência dessa cultura paulista ideal.

12 comentários:

  1. Rayssa:
     August 8th, 2010 at 4:16 pm
    só pra dizer: achei muita babaquice esse projeto de lei. “culturas nordestinas” deveria ser uma matéria optativa dentro de uma grande curricular solida.
    não temos nem o basico, que dirá o acessorio.
    mas, tirando isso, todo esse movimento é ridiculo. é a velha “superioridade paulista” repaginada.
    é tão absurda que eu sempre fico pensando se não se trata de troll. sempre. :S
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    Fernando da Mota Lima:
    August 8th, 2010 at 9:12 pm
    Rayssa:
    Você chama nossa atenção para um problema muito importante, infelizmente omitido no meu artigo. Como minha intenção era apenas denunciar o caráter fascista desse movimento, deixei à margem esta e muitas outras questões importantes envolvidas no debate. Concordo com você. Além de faltar o básico a nosso sistema educacional tão deficiente, a proposição dessa disciplina implica uma questão que me parece muito mais grave. Ela serve apenas para promover a separação de identidades culturais que são tomadas como conflitantes ou inconciliáveis. Na prática, isso significa apenas jogar mais lenha na fornalha dos conflitos culturais, nas tensões e ressentimentos entre nordestinos e paulistas, antes de tudo. Somos todos brasileiros. Lembrando Sócrates e Montaigne, meus filósofos favoritos, somos cidadãos do mundo. Sei que isso é utópico, mas acredito na importância dessa utopia num mundo cujas fronteiras foram drasticamente encolhidas pela globalização, Internet etc. Muito grato pela observação oportuna.
    Fernando.

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  2. Rayssa:
     então, fernando.
    assim, eu acho que o ensino de cultura nordestina realmente não cabe atualmente na nossa “grade”. simplesmente pq nosso ensino não tem estrutura.
    por outro lado, não acho um problema a existencia de “identidades culturais”. falar que elas não existem, ou que somos “todos brasileiros”, é tentar fingir que essas tensões e ressentimentos tbm não existem. e a gente vê que existe! tá claro!
    o caminho, pra mim, é realmente reconhecer e abarcar as diferenças. entende?
    Fernando da Mota Lima:
    August 9th, 2010 at 1:47 pm
    Rayssa:
    Gostaria de esclarecer que não nego a existência das identidades culturais, pelo menos como problema sócio-psicológico real. Também não afirmei que somos todos brasileiros com essa intenção de negar esse fato. Há evidentemente diferenças culturais sensíveis, em alguns casos extrema, num país tão grande e complexo como o Brasil. O que acentuo, em lugar da diferença tratada como conflituosa, o que em muitos casos é verdadeiro, são os elementos comuns que compartilhamos. Se não pensarmos numa educação política orientada por esse princípio geral, estaremos apenas, como antes frisei, jogando mais lenha na fogueira das nossas tensões culturais. Temos uma enormidade de coisas para mudar e melhorar no Brasil. Antes de tudo os extremos da miséria social e a privação de cidadania efetiva.
    Fernando.

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  3.  Dirceu Tavares (8–08–2010 10:32 am)
    Senhor Fernando Mota Lima ao ler seu belo e inteligente texto, intuí que o senhor acredita que alguém torna-se racista pela falta de educação e informação.
    Creio que em parte a educação é um meio que pode desmobilizar o racismo, mas desde que seja percebida como demovendo a baixa estima social. E não educação como um monte de frases monológicas a favor das igualdades cidadãs.
    Creio que os preconceitos e as formas de exclusão à priori existem em todo ser humano. E em todas as sociedades.
    Elas aumentam quando grupos de baixo status social percebem a ascensão de outros estamentos também de baixo status.
    O branco pobre que observa diversos negros pobres ascenderem a um status superior, busca aliar aos seus preconceitos os argumentos pseudo racionais para deter esta mobilidade social.
    Os rapazes e moças do movimento racista paulistano devem estar com baixa auto-estima por que o capitalismo de São Paulo estaria impondo desafios difíceis para as camadas sociais inferiores. Expressar-se bem na gramática portuguesa, usar novos meios informáticos e absorver valores instáveis da economia flexível e das “Ns identidades” pós-modernas.
    Gostaria de saber por que os jovens paulistanos têm baixa-estima em ascender socialmente. Na baixa estima social é que reside o perigo do racismo. Eu creio.
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     Fernando da Mota Lima (8–08–2010 7:26 pm)
    Meu caro Dirceu:
    Confesso que não entendi o tratamento tão formal, mas passemos ao principal. Gostaria que você me indicasse onde afirmo que o racismo decorre da falta de educação e informação. Tudo que fiz foi demonstrar que Willian, como seus companheiros fascistas, não conhece fatos comezinhos da história do Brasil e da história da cultura. A dedução é sua, não minha. Não acredito que a educação e a informação sejam suficientes para isentarem ninguém do racismo e da intolerância. Há muito superei esse humanismo ingênuo, Dirceu. Pensei que você sabia disso, já que tanto conversamos sobre esses assuntos. Mas esclareço que superei meu humanismo ingênuo estudando, aprendendo, por exemplo, algo da história do nazismo. A Alemanha, você sabe, tem uma das mais extraordinárias tradições intelectuais e artísticas do mundo. No entanto, isso não impediu o nazismo etc etc etc…Não me leia no que não sou nem escrevi, Dirceu. Grato pelo comentário. Ah, não tive a pretensão de analisar sociológica ou psicologicamente a intolerância dessa turma. Meu artigo, meras 700 palavras, visa apenas denunciar o caráter fascista desse movimento. Se tivesse a intenção de analisar o fenômeno, com certeza consideraria o problema que você propõe.
    Fernando

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  4. Otávio:
     “Como todo movimento inspirado na tradição do irracionalismo de direita, ele contém uma enxurrada de disparates, contradições e erros que agridem os fatos mais elementares da realidade que pretende criticar e corrigir.”
    Só pra lembrar que irracionalismos não fazem distinção entre esquerda e direita, e. g., o Holodomor.
    Não conhecendo o movimento, prefiro não discutir muito o texto, mas talvez uma retificação seja necessária: o Brasil não foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Do mundo ocidental, ok, pode ser, mas não o último do mundo.
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    Fernando da Mota Lima:
    August 9th, 2010 at 8:51 am
    Caro Otávio:
    Grato pelo comentário e correções. Esclareço, porém, que quando aludi ao Brasil como o último país do mundo a abolir a escravidão considerei-a, a escravidão, como um sistema internacional de comércio, como uma instituição abominável regendo o cerne da nossa vida coletiva. Nesse sentido acho que não preciso me corrigir, embora não seja historiador, muito menos da escravidão.
    Quanto aos irracionalismos de esquerda e direita… bem, aí a coisa é muito mais complicada. Por isso fico num breve registro. Antes de tudo, concordo com o fato de que há irracionalismo à esquerda e à direita. Se omiti o primeiro não foi com a intenção de poupá-lo, muito menos inocentá-lo. Numa história, a humana, que já produziu tantas figuras abomináveis, talvez Hitler e Stalin sejam as maiores, pelo menos na magnitude da catástrofe histórica que lideraram. Mas há distinções que precisaríamos fazer entre os horrores do nazismo e os do stalinismo. Por isso passei ao largo da questão omitindo os males do irracionalismo de esquerda. Queria apenas lembrar a você e a quem acaso lê esses comentários que meu artigo tem apenas 700 palavras e foi escrito com a intenção polêmica de denunciar um movimento nitidamente irracionalista de direita. Aludo no desenvolvimento do artigo a questões que visam reforçar ou esclarecer o cerne do meu argumento, mas você há de convir que não tenho como melhor considerá-las num artigo dessa natureza. Se assim procedesse, teria que escrever não o artigo contra os fascistas paulistas, mas pelo menos uma dezena de outros relativos a essas questões marginais.

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  5. Otávio:
     Fernando,
    ficou minha opinião. Também não sou historiador, então deixemos a questão da escravidão assim mesmo. Se alguém com mais informações passar por aqui e quiser, pode tirar a dúvida.
    Por outro lado, quanto à omissão das esquerdas, senti que houve uma necessidade de espinafrar que transcende a questão, e a retomo: o irracionalismo não conhece esquerda ou direita; em outras palavras, o termo direita aí é absolutamente desnecessário, foi colocado apenas pra reforçar uma ideologia.
    Aí, brinco de Dawkins (eu disse, Daniel, que a leitura traria frutos) e pergunto: é mais importante discutir o irracionalismo ou a ideologia de quem está de um lado ou do outro? Eu, antes de mais nada, não me identifico com os irracionais.

    Daniel:
    August 9th, 2010 at 6:44 pm
    Otávio,
    Não acho que o irracionalismo exista por si. É preciso identificar os fanatismos da direita (que los hay) e os fanatismos da esquerda (que los hay). O do São Paulo Para os Paulistas, como o Fernando identificou no texto, é de direita. E como explicar o irracionalismo e as barbaridades de um Pol Pot se deixarmos fora da análise a ideologia da qual derivaram?
    Fernando da Mota Lima:
    August 9th, 2010 at 8:35 pm
    Caro Otávio:
    Começo ou recomeço assinalando que é um prazer dialogar com uma pessoa que se conduz como você. Começando pelo fim do seu último comentário, friso que adoto o mesmo ponto de vista, isto é, não me identifico com os irracionais. mas pego carona no comentário de Daniel também concordando com ele que o irracionalismo não existe em si. É claro que ele se manifesta à direita e à esquerda. Generalizando ainda mais, ele é constitutivo da nossa condição. É por isso que acredito que a civilização, aqui compreendida apenas no sentido de controle da nossa irracionalidade destrutiva (entre parênteses: acho que é isso o que Freud entende por civilizaçao, quando diz que ela é repressão) é uma conquista árdua, vulnerável e sempre exposta a regressões irracionais. Não se esqueça de que as atrocidades cometidas pelo irracionalismo de esquerda foram praticadas em nome dos mais altos ideais humanos. Basta você pensar um pouco no ideário da Rev. Francesa (Igualdade, Liberdade, Fraternidade…) e atravessar a história até o marxismo que prometia abolir as classes sociais instituindo no futuro o mundo da humanidade reconciliada. É nesse sentido, por exemplo, que os resultados práticos e irracionalistas das ideologias de esquerda é bem distinto do que pregam as ideologias de direita, que já de partida, já na enunciação discursiva, ou no seu ideário, pregam abertamente a desigualdade, a intolerância, a força e a opressão etc. O irônico ou terrível em tudo isso é que em termos práticos nazismo e stalinismo, para exemplificar, acabam produzindo horrores semelhantes. Pena que essa discussão não possa estender-se. Muito grato a você e a Daniel pelas observações tão lúcidas.
    Fernando.

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  6. Otávio:
    Esse nosso debate é extraordinário, mas acho que precisaríamos criar um blog exclusivamente para levá-lo até os limites que se expandem a cada argumento. Você se engana se supõe que em algum sentido justifico o irracionalismo de esquerda ou me valho das intenções e ideais programáticos para justificar as catástrofes que causou. Acho que isso está bem claro no meu comentário precedente. A distinção que propus é outra. A Rev. Francesa mergulhou a França no terror, guilhotinando muitos dos próprios líderes da revolução e convertendo um movimento de caráter universalista em nacionalismo bélico. Mas não podemos esquecer que dela recebemos os direitos humanos, a democracia representativa, a igualdade universal perante a lei, os direitos de expressão do indivíduo etc. Isso se fez, friso, através de um processo histórico em muitos momentos terrível. Mas somos herdeiros, brasileiros nem tanto ainda, dessas grandes conquistas. O que o nazismo deixou para a Alemanha e a humanidade? Não preciso argumentar.
    A Rev. Russa teve efeitos devastadores muito piores do que os da Francesa. Mas ela de certo modo salvou a civilização ocidental e a democracia das garras do nazismo. Lembre de que A Inglaterra lutava heróica e quase solitária contra o poderio militar de Hitler quando este decidiu romper o pacto com a Rússia e invadi-la. Esta foi uma decisão providencial para a Inglaterra e o Ocidente em geral. Devemos isso ao comunismo russo, Otávio. A história, você vê, é complicada demais.
    Como você, já disse, sou contra qualque ideologia irracionalista. Mas o que você propõe é absurdo. Você é contra o irracionalismo enquanto tal. Ora, o irracional é constitutivo da nossa condição, como já ressaltei. Você não tem sentimentos, paixões? Você faz arte apenas baseado em processos racionais? Pelo contrário, arte é antes de tudo expressão emotiva. Sexo não tem nada a ver com razão. Por isso disse que a razão é uma conquista árdua, vulnerável e sempre exposta a regressões irracionais. Agora vou parar antes que Daniel com razão nos expulse do blog. Um abraço,
    Fernando

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  7. Otávio:
     Fernando,
    “A Rev. Russa teve efeitos devastadores muito piores do que os da Francesa. Mas ela de certo modo salvou a civilização ocidental e a democracia das garras do nazismo. Lembre de que A Inglaterra lutava heróica e quase solitária contra o poderio militar de Hitler quando este decidiu romper o pacto com a Rússia e invadi-la. Esta foi uma decisão providencial para a Inglaterra e o Ocidente em geral. Devemos isso ao comunismo russo, Otávio. A história, você vê, é complicada demais.”
    De novo, discutindo a boa motivação e o que de bom foi deixado? Pois que como você mesmo disse, foi preciso que a Alemanha rompesse o pacto com a Rússia antes que os dois países entrasseem em guerra. Podemos atribuir então o genocídio como herança também dos russos, que compactuaram com os alemães? Aliás Hitler subiu ao poder, até onde eu saiba, liderando um movimento pretensamente socialista e, também, cheio de boas intenções para o alemão não judeu, ou não? Essa herança também existe na China de Pol Pot, e nas diversas ditaduras que temos espalhadas por aí, impedindo pessoas de fazer escolhas, mesmo nos dias de hoje.
    “A Rev. Francesa mergulhou a França no terror, guilhotinando muitos dos próprios líderes da revolução e convertendo um movimento de caráter universalista em nacionalismo bélico. Mas não podemos esquecer que dela recebemos os direitos humanos, a democracia representativa, a igualdade universal perante a lei, os direitos de expressão do indivíduo etc. Isso se fez, friso, através de um processo histórico em muitos momentos terrível. Mas somos herdeiros, brasileiros nem tanto ainda, dessas grandes conquistas. O que o nazismo deixou para a Alemanha e a humanidade? Não preciso argumentar.”
    Frisemos o “processo histórico”. Porque não é somente de um movimento revolucionário que resultou nessa herança. Os gregos já haviam, há muito, discutido sobre democracia quando a revolução francesa estourou. Associar direitos humanos e democracia – como talvez você o tenha feito – somente à revolução francesa seria como associar toda a pesquisa científica de Isaac Newton unicamente à coroa inglesa, que o bancava. Os ombros de gigantes valem pra movimentos históricos também.
    Se faço arte privado de racionalidade? Sexo? Pois que não estupro ninguém, atendendo a irracionalidades, nem preciso esquecer-me de outros limites, pra fazer artes. E a arte depende de emoção, sim, mas não somente dela. Cruzar o limiar da emoção não dá a ninguém o direito de esquecer do direito alheio, de ser irracional, etc. etc.. Quando tenho isso em mente estou sendo plenamente racional.
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    Fernando da Mota Lima:
    August 11th, 2010 at 6:16 pm
    Otávio:
    Nosso debate é muito importante, mas no trote em que vai pode desdobrar-se ao infinito sem que a gente chegue a acordo nenhum. Além disso, noto que seu conceito de razão e irrazão não é o que estou usando. Como discutir baseado em conceitos sobre os quais não chegamos a um acordo lógico? Minha conclusão definitiva, ao ler a confusão que você faz entre sexo e estupro, é afirmar, pois esta é minha convicção, que duas forças terríveis e aparentemente opostas estão na raiz das maiores catástrofes humanas: a paixão cega e a razão crua. A primeira, para não ser cega, precisa da segunda, assim como a segunda, para não ser crua, precisa da primeira. As pessoas que verdadeiramente temo são as que acreditam na paixão absoluta ou na razão absoluta. Foi sinceramente um prazer discutir com você, Otávio, apesar do desacordo inconciliável dos nossos argumentos.
    Fernando.

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  8. colegaaaa!

    eu super não gosto de ficar divulgando meu blog no sentido explicito do termo, mas fiz um post sobre esse fascismo paulista observado na sua essencia: quando fui comprar ingresso pra uma banda de rock alemã.

    ficaria muuito feliz se vc desse uma olhada. é serio.
    http://presencadapeste.blogspot.com/2010/08/pra-vc-que-se-acha-muita-merda-pq.html

    a polska tbm ficaria muito satisfeita. ;)
    beijo

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  9. De qualquer forma, que não se ensina mais sobre as bandeiras, o levante constitucionalista, a semana de 22 e outros episódios da história paulista, e que em toda festa popular a cultura corrente é agora, não um amálgama das culturas paulista e da nordestina mas exclusivamente a nordestina... e que a música nas festas juninas foram substituídas do caipira para o baião, isso foi sim.

    É natural que haja um embate entre diferentes culturas quando as pessoas que as trazem partilham o mesmo espaço: assim o nordestino traz seus hábitos, sua música, seu jeito de se relacionar a um lugar que já tinha tudo isso em desenvolvimento. Creio, pessoalmente, que é positivo, por exemplo, que haja CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) em São Paulo, como há no nordeste, creio que é positivo que haja centros culturais nordestinos tanto no RGS quanto em todos os lugares em que haja nordestinos, mas creio que em São Paulo não precisa ter um centro de cultura paulista: aqui já é inteiro São Paulo, lembra?

    Discordo de ações violentas mas acho que a cultura tipicamente paulista está perdendo seu espaço em São Paulo.

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  10. Não são os paulistas que são metidos,...
    é que "o Brasil não entende São Paulo", nas palavras de Marco Antonio Villa, historiador e professor da UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos.

    http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,,115787,0.htm

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  11. Já pensou, Fernando, se Guararapes, Palmares, Mascates, etc. fossem sumindo dos livros de História, notadamente os de Pernambuco?

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  12. Renato:
    Muito grato pela leitura e comentários. Nada tenho a objetar diante do que você escreveu. Acho que é muito importante cuidar da memória histórica e cultural de um povo, uma região, uma cidade como São Paulo, que é o centro da energia econômica e cultural do Brasil. O cerne do meu argumento, assim como do próprio manifesto fascista (insisto) contra o qual escrevo é a intolerância, sobretudo desfechada contra o nordestino pobre.
    Fernando.

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