quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Nobel e a Culpa do Ocidente




Li um artigo de jornal no qual o autor especulava sobre alguns possíveis vencedores do prêmio Nobel de Literatura. Cogitava romancistas famosos como Philip Roth e Mario Vargas Llosa, embora este figurasse em posição improvável. Logo depois li o anúncio da premiação, atribuída a Jean-Marie Le Clézio, um francês que desconheço completamente. Aliás, lembrando palavras da Academia Sueca no ato formal da premiação, ele é antes um nômade, um desenraizado, do que um francês. Longe de mim presumir que minha ignorância constitua em algum sentido evidência de premiação injusta. De qualquer modo, causou-me estranheza o fato de o Nobel ser conferido a um ilustre desconhecido, pelo menos para leitores desinformados como eu. Intriga-me ainda a evidência de Le Clézio publicar romances e ensaios desde o início dos anos 1960 sem que eu todavia retivesse sequer o nome dele acaso lido em algum artigo, ensaio, livro de quem quer que fosse.

Marcelo Rezende escreveu um artigo logo em seguida publicado na Folha de S. Paulo que de certo modo me consola de minha ignorância, se é que não a justifica. Segundo ele, a premiação traduz antes de tudo um ato de culpa não declarada do Ocidente diante de culturas periféricas que este espoliou durante séculos. Sendo Le Clézio um europeu desenraizado, além de crítico impenitente da hegemonia cultural exercida pela Europa sobre culturas que ele ama e exalta nas páginas de sua obra, a atribuição do Nobel simbolizaria tanto um reconhecimento implícito de culpa quanto um gesto de valorização das culturas espoliadas ou pelo menos abafadas pelo colonialismo europeu.

Longe de mim desculpar os crimes históricos perpetrados pelo colonialismo, mais ainda sendo eu originário de uma cultura periférica cuja história foi profundamente oprimida pela dominação européia e, mais recentemente, norte-americana. Daí não cabe todavia presumir minha adesão à ideologia multiculturalista, muito menos minha resistência à cultura européia. De qualquer modo, parece evidente que a atribuição do prêmio a Le Clézio confere prioridade à mensagem sobre a forma, aos critérios de natureza social e política em prejuízo dos estéticos.

Sei que todas as qualificações que acima esboço são objeto de controvérsia. Mencionando um único exemplo, li também a meio desses artigos um assinado por Eric Hobsbawm no qual investe sua competência insuspeita, como europeu e notável estudioso dos problemas de identidade cultural, para questionar e no limite refutar o conceito de identidade européia. À parte isso, nunca endossei o discurso anticolonista e anti-imperialista que se estende ao extremo de exaltar nossa herança indígena e africana em detrimento da européia. Este ponto de vista deplorável trai, entre outras coisas, uma grande ignorância da nossa constituição cultural. Neste sentido, sinto-me há muito identificado com a perspectiva de iluministas e liberais como José Guilherme Merquior, Sérgio Paulo Rouanet, Octavio Paz, Vargas Llosa e mesmo nacionalistas dialéticos, que vá o qualificativo discutível, do tipo de Antonio Candido e Roberto Schwarz.

Em suma, entendo que somos também e antes de tudo ocidentais. Representantes de um outro Ocidente, acentuo, mas ocidentais. Para mim, toda perspectiva ou ideologia que despreze essa filiação está contaminada por uma noção estreita e no limite desastrosa de particularismo cultural. Infelizmente, a inteligência brasileira tem alimentado com fartura obsessiva uma concepção de nacionalismo que me parece em muitos casos autoritária e irracionalista no pior sentido do irracionalismo, isto é, no sentido em que privilegia valores de base emotiva incompatíveis com o exercício fundamental da crítica racional, além de justificador do atraso e da ignorância. Devido a razões históricas compreensíveis, O Nordeste brasileiro tem sido pródigo na defesa de uma ideologia de fundo nacionalista e antes de tudo regionalista que, em termos práticos, funciona como uma rede de resistência desastrosa à nossa modernização sócio-cultural. Na outra ponta, visa conferir legitimidade a muitas tradições que conviria superarmos.

Uma das modas do nosso tempo consiste em atos de penitência pública feitos por governantes de países investidos de glorioso passado colonial. Aliás, também de alguns países de constrangido passado colonizado, como é o caso do Brasil. O presidente Lula, por exemplo, já se esmerou em desculpas públicas a povos africanos oprimidos pelo colonizador português e em seguida pelos escravistas brasileiros. Atos dessa natureza são sem dúvida comoventes, mas inoperantes, para não dizer descabidos. Expressam antes a retórica hipócrita da política do que qualquer mudança efetiva. Num país cujo presente espelha ainda traços tão iníquos e rotineiros dessa nossa herança maldita, importaria arquivar essa retórica da hipocrisia, com ou sem pretexto do prêmio Nobel, em benefício de atos políticos concretos passíveis de progressivamente suprimirem as marcas vergonhosas do nosso legado escravista.

Quanto ao Nobel, volta a premiar um escritor de universalidade discutível enquanto solenemente despreza nomes como os de Philip Roth e Vargas Llosa. A propósito, quem conhece estes escritores: Giosuè Carducci, Rudolf C. Eucken, Karl Adolph Gjellerup, Carl Spitteler, Jacinto Benavente, Grazia Deledda, Sigrid Undset, Ivo Andric? Foram todos agraciados com o Nobel. Poderia acrescentar muitos outros igualmente esquecidos. Em contrapartida, cito alguns cuja permanência e universalidade estão bem comprovadas pelo soberano exame do tempo: Thomas Hardy, Henry James, Joseph Conrad, Marcel Proust, James Joyce, D. H. Lawrence, Auden, Paul Celan... Nenhum destes recebeu o Nobel. Se é para reparar culpas, a Academia Sueca bem que poderia corrigir a tempo parte das suas premiando os injustiçados do presente.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Saramago e a Irrelevância da Literatura




Apesar da idade e da doença, José Saramago continua ativo. Quando veio ao Brasil lançar seu novo romance, valeu-se de tal circunstância como um pretexto para se pronunciar sobre questões políticas e inquietações humanas que seus leitores não têm idéia de como enfrentar. As aparições públicas de escritores de prestígio como Saramago e a natureza do discurso que desfiam para a mídia evidenciam a irrelevância da literatura no mundo contemporâneo. Mesmo escritores que vivem antes de tudo para a literatura e nela efetivamente acreditam, não dão ênfase em suas falas públicas a questões de natureza estética ou literária. Suponho que gostariam de fazê-lo, que prezariam discutir a literatura enquanto tal ou as possibilidades de esta interferir na ordem prática do mundo enquanto discurso irredutível ao da política, da economia ou ainda da pura curiosidade mundana do público e da mídia ávida de mercadoria. O fato, porém, é que se pronunciam sobre tudo, ou quase tudo, e bem pouco, senão nada, sobre literatura.

Saramago reitera o discurso previsível, tudo que acima grosseiramente esbocei. Mais uma vez critica a crueldade do capitalismo e respalda sua crítica em Marx ou numa concepção socialista de sociedade e organização dos grupos humanos. Nada a objetar quanto ao diagnóstico. Também considero o capitalismo um sistema econômico cruel, gerador de atrocidades e misérias cotidianas. O que não consigo é seguir Saramago no terreno de suas convicções terapêuticas, para valer-me aqui de mais um termo da linguagem clínica. Se é verdade que o capitalismo é portador de todos os horrores incansavelmente denunciados por Saramago, e nesse sentido a obra de Marx preserva sua atualidade substancial, não há como fugir à evidência histórica de que comunismo e possíveis variações socialistas não funcionam. Não sei se há alguma tintura de humor ou auto-ironia na justificativa que agora encontra para seu comunismo anacrônico: confessa-se ele um comunista hormonal. Gostei da designação, que leio um tanto na veia irônica ou humorística.

Penso hoje com mais clareza que o comunismo malogrou e sempre malogrará por ser incompatível com as paixões humanas mais poderosas, aquelas que ontologicamente definem nossa condição. Sei bem que a teoria comunista reivindica a natureza histórica do ser humano. Trocando em miúdos, não existe natureza humana, existem formas históricas de ser humano. Num certo sentido, isso é sem dúvida verdadeiro. Valores humanos fundamentais, concebidos por conservadores e reacionários como se fossem investidos de eternidade, são comprovadamente transitórios, ou manifestam-se mediante variações históricas, fruto de modos particulares de ser observáveis em determinadas épocas e lugares.

Entretanto, já não duvido de que ao lado, e sobretudo acima disso, persistem características humanas que autorizam falar-se de uma natureza humana compreendida enquanto entidade constante, modo substancial de ser apreensível no conjunto da história humana. Presumo que Freud tinha isso em mente ao declarar seu ceticismo diante dos experimentos sociais então em processo na União Soviética governada por Stálin quando escreveu O Mal-estar na Civilização. Atendo-me ainda a Freud, acredito haver no ser humano uma componente de agressividade indomesticável pela civilização. Igualmente acredito na nossa natureza irredutivelmente egoísta. Muito gostaria de acreditar nos ideais generosos teimosamente sustentados por Saramago. A evidência histórica, antes de tudo a evidência de minha experiência direta, provam-me o contrário.

É irrefutável a força condicionadora da sociedade ou do sistema econômico em muitas das ações humanas que traduzem o que em nós existe de bom e de ruim. O que de modo algum endosso é a convicção dos que atribuem nossa natureza a fatores puramente sociais. Querem dizer, mesmo quando assim não se pronunciam, que nossa maldade é socialmente adquirida, tem raízes puramente ambientes. Não penso assim. Seguindo Freud, penso haver um ingrediente biológico na nossa destrutividade. Portanto, um ingrediente irredutível à civilização ou a toda ideologia generosa empenhada em estabelecer neste mundo uma modalidade de organização humana fundada na solidariedade e em valores prevalentemente positivos. É uma utopia generosa, que de resto me seduziu na juventude, mas sei hoje irrealizável.

Igualmente longe de mim endossar o pessimismo daqueles que vêem o ser humano como mau, como investido de qualidades apenas negativas. Penso seguir ainda a lição de Freud quando acredito não numa natureza humana exclusivamente negativa, ou positiva, mas sim ambivalente. Em síntese, é esta a substância de minha convicção relativa à natureza humana: ela é ambivalente e as manifestações dessa ambivalência dependem tanto de fatores inatos quanto adquiridos. Sei que isso é ainda muito vago, mas não sei de nenhum iluminado ou de nenhuma teoria que consistentemente estabeleça a fronteira e a proporção que cabem a um e outro, àquilo que é inato assim como adquirido. Durma-se na companhia dessa gente. Por isso deduzo haver algo de sensato na minha cama, que nunca acolheu companhia permanente - além da minha, claro.

Catando os grãos de milho da literatura nesse terreiro onde de tudo se fala, menos dela, qual é mesmo o título do romance que Saramago veio lançar no Brasil? Não me lembro. Salvo engano, não foi mencionado na reportagem que li na Folha de S. Paulo. Sei que o título tem algo a ver com elefantes. Serão acaso companhias desejáveis? Evocando Cioran, prefiro ainda a dos misantropos. Não são lá flor que se cheire, mas têm a virtude de não gostar de seres humanos. Piores, bem piores, são os humanos que amam apenas seres de outras espécies, notadamente a dos gatos e cachorros. Tenho poucas razões para louvar a espécie humana e os estragos que ela impõe a essa terra devastada que habitamos. Mas falo afinal dos meus semelhantes. Querendo ou não, e bem pouco quero, é neles que me reconheço, neles vibram os triunfos e misérias de minha condição. Apesar do ruído pavoroso que entre nós produzimos, tudo isso faz mais sentido do que o miado dos gatos e o latido dos cachorros. Fico portanto com meus humanos.

domingo, 18 de abril de 2010

Sociologia -Origem e contexto histórico




1 – Etimologia – A palavra sociologia deriva de um hibridismo, isto é, do latim socius (associação, sociedade) e do grego logos (razão, estudo, tratado sobre alguma coisa). A palavra foi criada pelo filósofo francês Augusto Comte e está contida em sua obra fundamental: Curso de Filosofia Positiva. Etimologicamente, portanto, sociologia significa estudo da sociedade. Comte foi um pensador muito influente durante a segunda metade do século XIX. Sua influência no Brasil foi tão grande, sobretudo entre nossos republicanos, que a máxima inscrita na bandeira brasileira Ordem e Progresso procede de sua sociologia. Este binômio, ordem e progresso, sintetiza a concepção sociológica de Comte. Se de um lado, com o termo progresso, ele reconhece a natureza dinâmica da sociedade, de outro, com o termo ordem, subordina os processos de mudança social e progresso ao princípio da ordem. Isso o identifica como um sociólogo antes de tudo conservador. Seu oposto, nesse sentido, seria Karl Marx cuja sociologia, também fundamentada no progresso, postula a revolução, não a ordem, como meio necessário de realização do progresso.
Evitando tornar vazia a definição etimológica acima anotada, importa esclarecer mais ou menos o que em sociologia entendemos por sociedade. A palavra, como se sabe, tem múltiplos significados. Pode significar, por exemplo, a totalidade do gênero humano (sociedade humana), uma sociedade nacional (sociedade brasileira ou inglesa) uma sociedade local (sociedade recifense), uma sociedade regional (sociedade nordestina), uma instituição que legalmente representa os interesses de determinado grupo profissional (Sociedade Médica do Brasil) e ainda alta sociedade. Neste último sentido, observamos um forte viés elitista, já que a expressão subentende que apenas os afortunados, ou socialmente privilegiados, integram a sociedade. O sentido que de fato importa para a sociologia é o que sempre envolve interação social. Este conceito supõe que toda relação social implica ação recíproca, ação entre dois ou mais agentes. É somente nesses casos que consideramos em sociologia a existência de relações sociais relevantes, a existência de um grupo ou fato social que importa sociologicamente investigar.

Vale ainda acrescentar que nem sempre a interação supõe proximidade social. Noutras palavras, pode haver interação entre pessoas socialmente distantes, até materialmente estranhas, como é hoje freqüente na interação que ocorre via internet, e inversamente inexistir interação entre pessoas próximas e todavia separadas por ausência de comunicação efetiva. Sabemos que o desenvolvimento tecnológico acelerado no campo das comunicações à distância, além da transformação das relações de convívio e intimidade na sociedade contemporânea, alteraram significativamente as formas tradicionais de relação humana.

2 – Origem histórica – O processo de formação da sociologia estende-se por um amplo período que vai, como ressalta Bottomore, de 1750 a 1850. É dentro deste dilatado intervalo de tempo que se processam duas revoluções fundadoras da modernidade: A Revolução Industrial, situada pioneiramente na Inglaterra, e a Revolução Francesa. Enquanto a primeira representou antes de tudo uma transformação radical no âmbito da economia, das formas e técnicas de produção da riqueza material, a segunda foi fundamentalmente uma revolução política.

A sociedade contemporânea do tipo da nossa é consequência das duas revoluções fundadoras do mundo moderno: A Rev. Industrial e a Rev. Francesa. Ela se caracteriza antes de tudo pelo sistema de produção de base industrial e pós-industrial e pela alta densidade demográfica. Noutros termos, pela produção econômica que se tornou hegemonicamente capitalista e pela urbanização. Foi portanto nesse contexto que surgiram a sociologia e demais ciências sociais.

A Rev. Industrial transformou radicalmente as técnicas de produção econômica e a divisão social do trabalho. Além disso, deslocou para as cidades grandes contingentes demográficos antes concentrados no campo e dependentes da economia de base agrícola. A formação das grandes cidades, Londres valeria como um exemplo ideal, gerou realidades e problemas sociais de escala sem precedente que atuaram como fatores decisivos para a constituição da sociologia. Bastaria lembrar os grandes problemas sociais resultantes de processos desordenados de urbanização: pobreza, criminalidade, mendicância, exploração das classes trabalhadoras, do trabalho do menor, habitação e saúde, além de processos radicais de mudança cultural.
Quanto à Rev. Francesa, foi antes de tudo uma revolução política. Ela deslocou radicalmente o fundamento do poder na sociedade da esfera divina, ou transcendente, para a secular ou imanente. Se antes o poder do governante era reconhecido como representante secular do poder divino, pois sua legitimidade emanava de Deus, a partir da revolução a legitimidade desse poder se desloca para o mundo social concreto. O governante, noutras palavras, passa a ser escolhido pelo povo, tornando-se assim seu representante. Além disso, a instituição da Declaração dos Direitos do Homem estabelece a igualdade legal de todos abolindo assim o sistema tradicional de estratificação social.

A revolução francesa teve causas sociais e econômicas, como acima indicadas, e também intelectuais. Dentre estas, importaria ressaltar o papel fundamental desempenhado pelo desenvolvimento da ciência e o Iluminismo, movimento intelectual de extraordinário impacto no séc. xviii em países como a França, Inglaterra, Escócia e Alemanha. O Iluminismo francês, diretamente associado à revolução francesa, representou uma força de mudança ideológica decisiva para minar o poder do Antigo Regime. Iluministas como Diderot, que dirigiu a Enciclopédia Francesa, Rousseau e Voltaire produziram obra de grande influência para a irrupção da revolução.


Distinção entre fato e processo histórico - O primeiro poderia ser ilustrado com a data que convencionalmente identifica a Revolução Francesa: 14 de julho de 1789. Sabemos que esta data não esgota nem mesmo condensa os significados mais relevantes desta revolução. Se queremos ter uma idéia mais adequada do que ela representou na história da humanidade, precisamos ir além do mero fato, precisamos examiná-la como um processo. Sumariamente, o processo compreende uma complexa sucessão ou cadeia de fatores e causas interagentes cuja acumulação resulta no fato associado à data símbolo consagrada pela história. Sendo assim, um fato histórico como a Revolução Francesa deve ser compreendido como um processo complexo e prolongado que envolve fatores e causas de ordem social, econômica e ideológica.

Causas e explicações transcendentes vs. imanentes – A sociologia é fruto de muitas causas históricas e sociais, como procurei acima descrever. Considerarei neste parágrafo apenas um aspecto geral decisivo para o seu surgimento. Até o advento da modernidade, cujo marco que nos interessa são as duas revoluções já mencionadas, os seres humanos tendiam a propor explicações transcendentes para os problemas sociais. Em suma, propunham explicações de natureza mágica ou religiosa. Um exemplo que bem ilustra esta questão, no contexto das relações de atraso social observáveis no Nordeste brasileiro, é o da explicação que o flagelado pela seca confere a este fenômeno. Além de percebê-lo como algo relacionado apenas ao universo da natureza, tenta explicá-lo com base em princípios transcendentes: a vontade divina, castigo divino, fatalidade...A explicação sociológica, em contrapartida, prende-se a fatores puramente imanentes, fatores restritos à ordem do mundo em que vivemos. O que acima mencionei com relação às consequências sociais, políticas e econômicas desencadeadas pelas duas revoluções, a industrial e a francesa, reforça o argumento aqui esboçado.

Bibliografia:
Bottomore, T. B. – Introdução à Sociologia. 8ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. Ver especialmente o cap. 1.
________ e Outhwaite, William. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Ver especialmente os verbetes Sociologia, Sociedade Industrial e Revolução.
Galliano – Introdução à Sociologia. São Paulo: Harper and Row, 1981.
Martins, C. B. – O Que é Sociologia. Coleção Primeiros Passos, no.57. São Paulo: Brasiliense, 1982.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um Passeio pela Cidade




Como toda a classe média motorizada, já não ando pelas ruas do Recife. Somos habitantes em trânsito, hermeticamente protegidos dentro de nossas máquinas que são mais que meros meios de transporte. Na cidade brasileira, o carro reveste-se de muitas outras funções. A principal, depois da de meio de transporte, é a de proteger-nos da ameaça das ruas. Antes de tudo, da ameaça da miséria, seja ela violenta ou não, armada ou não. A miséria tornou-se perigosa e ameaçadora devido ao simples fato de ser miséria. Entramos nos nossos carros e neles nos fechamos porque há muito vigora um estado de medo disseminado pelas ruas, um estado de guerra latente entre a minoria motorizada e a massa movente das ruas.

Se consideramos as ruas e seus pedestres, enquanto pilotamos veículos que mais se assemelham a fortalezas móveis, aq ueles, os pedestres, têm bem mais razões de medo. Para começar, circulam expostos à permanente ameaça de veículos regidos pelo código do salve-se quem puder. No meu carro, contudo, retenho ainda certas aparências anacrônicas. Quero dizer que transito com os vidros arriados, salvo quando o calor me constrange a ligar o ar. Também me recuso a usar vidro fumê, arma que torna o motorista invisível ao olhar das ruas. Recuso-me ainda a instalar alarme automático no meu carro, assim como utilizo a buzina em situações estritamente necessárias. Além disso, exponho-me ao contato com os miseráveis concentrados nos sinais de trânsito mais movimentados.

A despeito de toda a violência que vejo nas ruas, acrescida daquela exposta na mídia e na conversa dos que a reportam em todo o tipo de contato social, recuso-me a proceder como a maioria dos que dirigem nas nossas ruas. Embora procure compreender as razões do seu medo, penso que a maioria pratica uma das formas mais cruéis de humanidade. Refiro-me a uma estranha mescla de desprezo e medo identificável em quem, ao avizinhar-se de um desses sinais temidos, refugia-se na brecha menos insegura do asfalto, isto é, a mais distante, preferivelmente a mais inacessível ao assédio dos miseráveis.

O acaso obriga-nos a pisar no freio diante do sinal vermelho aceso nessas vias mais movimentadas. É nelas que a miséria compreensivelmente se concentra para acionar seus meios precários de sobrevivência. É a experiência rotinizada da nossa barbárie urbana. Ainda assim, recuso-me a tratar essa pavorosa massa de miseráveis como o esgoto de nossas ruas. Embora certos sociólogos da Fundação Getúlio Vargas tenham recentemente inventado, com sua hilariante ciência empírica, um país de classe média, a miséria insiste em brotar como mosca em todo o nosso cenário urbano. Portanto, não preciso ir longe para percebê-la.

Longe de mim desprezar o risco presente em certos pontos da cidade. Longe de mim idealizar os miseráveis. Deixo isso para os populistas líricos que todavia se acautelam o bastante para fazer do lirismo de classe um confortável e prestigioso meio de vida. Sei dos perigos presentes nas nossas ruas e estou pessoalmente longe do brasileiro heróico. Acredito, no entanto, na força dessa atitude de reconhecimento humano elementar que se traduz num gesto banal de atenção ao miserável. Essa gente está afeita a ser tratada como o lixo das ruas. O desprezo de que é vítima está inscrito no nosso olhar, no vidro dos carros hermeticamente blindados. Um simples gesto de reconhecimento tem o poder de restituir-lhe por uns breves segundos uma noção obscura de dignidade suprimida, um lampejo de humanidade que logo se dissolve na crua realidade do asfalto brasileiro.

Voltando ao meu passeio, quando andamos um pouco pelas ruas nitidamente percebemos o estado geral de degradação do espaço urbano. Impossível caminhar algumas dezenas de metros sobre calçadas seguras. O esgoto e o odor fétido são visíveis a céu aberto e se alastram diante de nossa indiferença. Como em quase todos os bairros da cidade, constato que este onde ando não cresceu, inchou, ramificou-se por ruas sujas e maltratadas. Em tudo surpreendo a mancha da pobreza, não raro da miséria. O mais grave, porém, eu o surpreendo nesse modo de desleixo típico do brasileiro, não importa de que condição social. Trata as ruas, a cidade onde vive, como algo dissociado de sua existência, como matéria alheia apenas digna de descaso e destruição. É triste morar numa cidade desse tipo, mover-me dentro dela como se dela não fizesse parte, como se ela, num certo grau, não fosse uma extensão da minha casa. Somos estranhos hostis, quando não inimigos declarados. Quando afinal seremos uma cidade no sentido pleno do termo, uma cidade construída e habitada por cidadãos?

domingo, 11 de abril de 2010

Paixão Medida




Na minha paixão medida
o amor enlaça a razão
dançam fiéis ao compasso
às vezes sim, vezes não.

Na minha paixão medida
aspiro a um estado de ação
onde estar dentro, estar fora
são tanto sim quanto não.

Na minha paixão medida
há desmedida, pois não!
como uma esfera cindida
girando em meu coração.

Na minha paixão medida
paixão se soma a amizade.
Será que existe saída
entre presença e saudade?

Que metro, paixão medida
pode dizer o que são
linhas de entrada e saída
esfinge e decifração?

Londres, 1990 -
Fernando da Mota Lima.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Vida não Vale um Tinto


Cave no peito uma cave
Depois escave a ferida
Rota na popa da nave
E beba o sangue da vida.

Faça da dor rubro sumo
Da mágoa um sinal extinto
Beba de pé e de prumo
Um tanque de vinho tinto.

Depois dê asas ao vento
Que a vida não vale um pinto.
Amor: risada do tempo.
Verdade: é tudo que minto.

A vida é sombra: mais nada
Gota no mar, labirinto.
E a idéia mais elevada
Não vale meu vinho tinto.

Fernando da Mota Lima.

Porto de Galinhas, 23 de junho 1998.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Recife era uma festa




A partir de meados dos anos 1970, muita gente com quem convivia caiu numa grande festa nas noites de Recife. Vínhamos todos, ou quase, da esquerda política que era a tônica nos círculos da classe média universitária. Penso que dois fatores decisivos concorreram para a emergência dessa inflexão cultural: a ditadura militar e a simultânea irrupção da cultura narcisista. Esta mereceu de Christopher Lasch um estudo fundamental das ciências sociais contemporâneas: A Cultura do Narcisismo, pouco adiante desdobrado num livro igualmente fundamental: O Eu Mínimo, entre nós traduzido como O Mínimo Eu. A ditadura suprimiu do horizonte da nossa vida durante os anos de chumbo, momento que aqui considero, qualquer possibilidade de atuação política legal. Essa supressão também concorreu, sem que o notássemos, para que nossa energia pulsional fosse canalizada para a grande explosão dos costumes ocorrida nos anos 1970. Aludi um pouco a esse fenômeno em tom de memória num outro texto postado no meu blog (ver Olinda Era uma Festa). Considero agora uma dimensão paralela do mesmo fenômeno, só que restrito à atmosfera festiva do Recife.

Uma fração minoritária da esquerda com a qual convivia refugiou-se em fantasias revolucionárias insolúveis. Impotente diante da repressão política dissimulada ou patente em todo o círculo em que nos movíamos, inteiriçou-se numa percepção intolerante e fantasiosa da realidade. A pretexto de resistir à opressão, fechou-se num círculo inacessível a tudo que fosse ou parecesse valor ou mentalidade burguesa. Diria antes de tudo pequeno-burguesa, pois os atores desse círculo eram sintomaticamente egressos dela. Daí seu ressentimento social orientado antes de tudo contra a própria classe de origem. Que eu saiba, ninguém concedeu ainda o peso analítico devido a uma categoria psicológica essencial à compreensão dos grupos revolucionários e pseudorrevolucionários: a categoria do ressentimento social. Trocando em miúdos, muitos dos rugidos de ódio revolucionário que corriqueiramente ouvia nas livrarias Dom Quixote e Livro 7, sobretudo nas mesas de bar exclusivas das seitas pseudorrevolucionárias da época, não passavam de ressentimento social. Em nome de um ideal louvável, a luta contra a opressão de classe, liberamos nosso ódio contra tudo o que não temos e invejamos. Vejam onde acabaram tantos revolucionários depois bandeados para o PT. Vejam o oportunismo e a cafajestice de esquerda hoje fartamente recompensada com dinheiro público usado nos processos de anistia.

A outra fração, objeto primacial deste artigo, a outra fração caiu na festa. Ela expressou inconscientemente o que acima designei como a irrupção da cultura narcisista. Era força social tão inconsciente desse papel que seguiu pela vida farrando movida pela boa consciência de que a farra era uma força de contestação, de que a rebeldia no plano dos costumes representava um poder minando a hegemonia decadente da cultura burguesa. Nutrida pela realidade e sobretudo pelo mito da revolução, essa geração precisava imprimir sentido de contestação a tudo, até à aderência (ou cooptação, como então se dizia) à dominação burguesa. Daí nossa incapacidade de percebermos que éramos também expressão e sintoma da decadência. Sugiro que também aqui se observe no presente onde muitos desses contestadores de festa e rebeldia narcisista acabaram. Assim como o mito do ideal social, no geral identificado com a revolução, foi característico da minha geração, a carência de ideal é característica da geração presente. Ruim por pior, nisso eu penso que fomos mais afortunados.

Um dos palcos simbólicos dessa farra, que alguns retardatários liam ainda como contestação, foi o “Depois do Escuro”. O nome do bar é aliás simbólico. Foi obra de Álvaro, ou Alvinho. Infelizmente, nunca me ocorreu perguntar-lhe o sentido simbólico preciso do bar, mas acredito que o Escuro simbolizava a ditadura. O que veio depois dela foi o bar, situado na Rua das Creoulas, bairro das Graças. Para quem vinha das noites “marginais” do “Maconhão” de Olinda, como eu e tantos dos meus amigos, o “Depois do Escuro” era como a tomada do Palácio de Inverno. Medindo os extremos, pois os bares eram extremos, embora a clientela fosse substancialmente a mesma, saltávamos da marginalidade chique para a classe média francamente consumista e narcisista. Era sintomático, por exemplo, o fato de o bar ser revestido com tantos espelhos e as meninas se produzirem, como então se dizia, como se fossem desfilar numa passarela. A rua, congestionada por carros policiados, era já uma antevisão do presente.

O “Depois do Escuro” foi espontaneamente ensaiado nas festas monumentais sediadas na casa de Alvinho e Iracema, em Casa Forte; no apartamento de outro Alvinho, o Jucá, na Rua Setúbal, Boa Viagem, e em várias outras casas onde as festas pipocavam madrugada adentro. Os ouvidos dos vizinhos que nos aguentassem, como de resto continuam aguentando agora um alarido perto do qual nosso ruído seria carícia. O excesso e a demanda eram tais que houve um momento em que Alvinho e Iracema pragmaticamente decidiram emitir convites pagos para festas privadas. Talvez daí tenha brotado a ideia do “Depois do Escuro”. Também o primeiro rebento da Arcádia e outras luxuosas casas de recepção que hoje fazem fortuna transformando qualquer festa de formatura num simulacro ridículo da festa do Oscar. Algumas meninas de classe média, sedentas de excitação e novidade, toparam trabalhar no “Depois do Escuro” e similares frequentados pela classe média embalada na orgia narcisista dos anos 1970. Algumas encontravam mais prazer nas cantadas dos paqueradores bêbados do que no salário, que era uma porcaria. Sorte delas que dele não precisavam.

Muitas mulheres lindas e gostosas frequentavam o “Depois do Escuro” e outros bares do circuito festivo do Recife. A Musa Muda era uma das mais notáveis. Como Danuza Leão em Terra em Transe, abria a boca apenas para beber. Diziam as más línguas que a explicação era simples: não tinha o que dizer. Diziam outros que as más línguas eram apenas a expressão da verdade. Mas eu me perguntava se com tanta beleza etc, com aquele corpo que o tempo e a natura inclemente já dissiparam, se depois de tudo ela precisaria dizer alguma coisa. Antes que uma feminista de plantão me puxe as orelhas, lembro que a mulher objeto e até a mulher abjeta não eram raras naquelas noitadas. Aliás, apesar de toda a luta pelos direitos da mulher que integralmente endosso, elas se tornaram hoje ainda mais comuns.

No bojo dessa folia assistimos ao renascimento festivo do Pátio de São Pedro. De repente, velhas casas do bairro antigo, quietamente preservadas à sombra da imponente fachada da Igreja de São Pedro dos Clérigos, foram convertidas em bares e o pátio tornou-se um palco fervente de festa e bebedeira. Até famílias que frequentavam as melhores colunas sociais da cidade, hoje confundidas com as colunas policiais, passaram a encenar casamentos espetaculosos no Pátio de São Pedro. Lembro-me até de um ilustrado pela figura magnética e narcisista de Gilberto Freyre. Vi-o adentrar o pátio cercado pela corte habitual, acenando sorridente para pessoas que o cumprimentavam com o servilismo sintomático das nossas tradições escravistas e autoritárias. Longe de mim chegar perto, pois era ainda um “marginal rebelde”, farrista contumaz do pior bar do pátio, que batizei com meus amigos comunistas como Proletario`s Bar.

A farra irradiou mais tarde para o Recife antigo. Era então o foco da prostituição segregada, que hoje está na internet e outros lugares chiques, tão chiques que prostituta já não é mais puta, é modelo ou acompanhante. Bem, as herdeiras das segregadas, as que fazem ponto nos becos e ruas da cidade, estas continuam identificadas como putas. São o lumpen da prostituição. O capitalismo à brasileira produz requintes distintivos dessa natureza. Eis aí um caso exemplar da profissão que não ousa dizer seu nome.

Ocorre-me aqui uma memória merecedora de registro. Voltava certa madrugada para casa quando cruzei com uma puta fazendo ponto numa esquina. Queixou-se da dificuldade de encontrar homem e por fim culpou indignada a liberação sexual das meninas de família. Demonstrou perceber com clareza como este fato explicava o desaparecimento de sua clientela que ao cabo a deixava chutando lata com a bolsa vazia dentro da madrugada deserta.

O Recife antigo vivia caindo literalmente. As fachadas dos prédios e sobrados seculares desfiguradas pelo tempo e a incúria das gentes, as escadas rangendo ao peso dos bêbados e putas que iam e vinham. Gente de todo tipo ali se misturava e se grudava e se perdia. A atmosfera geral era de uma decadência sombria. E era nisso precisamente que residia o fascínio que para lá nos puxava, o fascínio da decadência, o fascínio da marginalidade que tanto cultivamos de par com nossa adesão inconsciente à orgia consumista e hedonista que define o padrão cultural do presente. As meninas de classe média, incluída minha namorada, carentes de liberação e aventura, passaram também a frequentar os puteiros do Recife Antigo: o Bar do Grego, o Gambrinus, a Chantecler... Talvez vivessem esse modo de exotismo sexual na noite, quando todas as gatas são pardas, movidas por uma fantasia feminina muito poderosa: a fantasia de ser a belle du jour, a fantasia de ser uma outra abafada pela interdição da cultura.

Não bastasse a extraordinária riqueza da música brasileira dos anos 1970, muitos de nós descobriram maravilhados o jazz que ouvíamos também em muitas dessas festas. O acento recaía, claro, sobre o jazz dançante dos anos 1930, as big bands e o som lendário de Louis Armstrong. Lembro-me de uma festa no apartamento de Álvaro Jucá cujo grande momento e pretexto para a bebedeira foi a exibição de um documentário com alguns dos grandes nomes do jazz: Duke Ellington, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Miles Davis, Bill Evans, Oscar Peterson, Chet Baker... Hoje seriam com certeza Ivete Seugalo, Chiclete com Banana e coisas inomináveis. Saltamos do alguma coisa para o nada sem no trajeto sustentarmos grandeza nenhuma.

Depois da farra e da dissipação sobreveio a inevitável ressaca. Só que a minha ia cada vez mais além dos sintomas físicos. Era uma ressaca roendo-me a consciência, lembrando-me à força de pontapés que estava assim traindo a vida que me pensara viver, que projetara viver. Traindo antes de tudo a mim próprio, eu me negava a cada noite e farra sem rumo, a cada bebedeira errante nos labirintos da marginalidade recifense, a cada dia que dissipava em becos sórdidos. De repente, via o amor ruindo à volta e dentro de mim, via-me à deriva de uma vida sem centro ou propósito. Ecos insones de minhas festas de Olinda, ainda próximas, somavam-se a esses procedentes das festas de Recife e então me via assaltado por angústias e descontentamentos que passaram a desgovernar meu próprio sono.

De repente, já não me reconhecia no que procurei ser e viver. De nada sabia então, mas sabia que era hora de voltar para casa, para a casa que eu próprio precisava conquistar depois de anos errando de vida e endereço, batendo em portas erradas e saltando janelas à cata de ocos móveis de carne. A partir daí, procurei em suma encontrar e viver outros modos de festa. Diria que o que encontrei foi antes de tudo a solidão. Mas não mais a solidão do indivíduo diluído no grupo ou na massa sem norte ou centro. Aludo a uma outra ordem de solidão, a que buscava e conquistei: a do indivíduo que voluntariamente visa a solidão como um alvo, como estado de ser necessário, embora nunca autossuficiente; a solidão sem a qual sequer podemos tatear no escuro, na escuridão que nos habita e habitamos, as formas imprecisas do ser que somos e tão pouco conhecemos.

Um dia, já guardando alguma distância das festas que são o que mais se expandiu no cerne da sociedade de massas calibrada pelo hedonismo, cada vez mais circo até para quem não tem pão, um dia fui a uma festa de aniversário numa churrascaria em Boa Viagem. Então aconteceu algo que mudou por completo a minha vida. Mas isso seria assunto para uma crônica de amor, não mais de festa.
Recife, 10 de fevereiro de 2010.