sábado, 11 de fevereiro de 2012

A poesia é uma droga



A poesia não deveria consolar ninguém
Pois pensar poeticamente
Dar expressão poética à realidade
É fundar no ser da palavra uma via de revelação.
E a revelação não é consolo
Via de fuga da dor.

A poesia é uma revelação pressuposta
Na coragem de encarar a coisa revelada.
Se a poesia sana ou consola a dor do ser sofrente
Ela o faz através da irradiação do que dói
Não da confortação enganadora.

A poesia não é fuga ou cocaína legal.
A poesia é, sim, minha cachaça.
Mas a embriaguês que propicia
É a embriaguês da verdade, não da droga.
Princípio de prazer fundado na realidade
A poesia não dói para consolo do masoquista.
A poesia não é droga para o escapista.

A poesia não é droga.
A poesia é uma droga real.

Recife, 5 de Julho de 1998.

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