segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dopressivo


Os domingos na casa dias mortos
Tão triste e acremente escorrendo
Meus barcos naufragando em turvos portos
A morte meu domingo desvivendo.

O consolo do nada, a morbidez
Meu dia torturado se esvaindo.
E o ódio, essa raiva, esse talvez
Cegos rasgando as trevas do domingo.

As horas no relógio gota a gota
Pingando a me matar, lento veneno.
O eco, o passo, a voz, a sombra morta
Meu povo no curral mascando feno.

A família suspensa ante a tv
A trégua em meio à guerra renovada.
Domingo como o meu, quem há de ter
Inveja de uma vida assim tramada?

Dor pressa depressão, meu mal é o nada
E as horas gota a gota hão de ter fim.
Faltou-me no ato extremo a punhalada
Sangrando o vil passado vivo em mim.

Recife, 10 de outubro de 1999.

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