segunda-feira, 24 de junho de 2013

Poema intransitivo


Escrever o poema que não se fala
muito menos grita
o poema da rua, do povo pisado
o poema voz coletiva, todavia lírico
de uma ardência lírica própria do indivíduo.

Escrever o poema de amor
impessoal como um conceito geométrico
lúcido como a luz do sol
intransparente como a treva
estóico como a vontade que nada redime.

Escrever o poema que me confessasse sem identidade
que amasse sem objeto singular
e celebrasse a vida que importa por ser mortal.
O poema que fosse doação sem recompensa
eternidade de tudo que é presente.

Escrever o poema que me ligasse ao outro
sitiado na sua humanidade como eu na minha.
O poema que me libertasse de mim
diluindo-me na energia cósmica
que já não fosse eu nem universo.
Recife, junho 2013.

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