domingo, 21 de julho de 2013

Soneto rancoroso


Um soneto de amor, mais um soneto
por que mais uma vez ainda escrevê-lo
se teu corpo balança preso ao espeto
e o sangue mancha a carne e o teu cabelo?

Um soneto que verte o meu rancor
depois que o amor passou e me traiu
retém no meu silêncio a muda dor
de quem só por vingança te baniu

de toda sensação e pensamento
que acaso possa em mim por ti viver.
Desejo que distante, em teu tormento

padeças mais que eu, mais que o ateu
que nega Deus, a vida até morrer
queimando no inferno o nome teu.

Recife, maio de 2013.

2 comentários:

  1. diria minha amiga Ivete, "santo Cristo"!!! mas Pe. Paulo viria pra amenizar: "deixa pra lá,'corte de cetim'". E era assim que chamava Ivete, lembra? Mas agora, ambos foram embora... não há mais espaço pra rancor nessa vida.

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  2. Anônimo: Também não há espaço para rancor na minha. Lamento que você tenha lido meu soneto num registro puramente biográfico. Ele me foi inspirado por alguns poemas de Drummond que leio como expressões de uma estética da crueldade. Esta corrente estética é ainda mais virulenta no tratamento da paixão amorosa de O Túnel, de Ernesto Sabato. Outro autor que está nessa raiz estética da crueldade é Rubem Fonseca. Como você sabe, a literatura não se nutre apenas da biografia do autor, da experiência vivida. Ela é também, talvez sobretudo, uma interação ambígua e complexa entre textos e autores. Em suma, não há mais, há muito deixou de haver rancor nas minhas memórias e perdas amorosas.

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