quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Máximas e Mínimas VI


Maturidade é a calculada medida entre o galho, de onde tememos cair, e o chão, onde quiséramos solidamente assentar os pés. Como a medida aplicada é sempre muito inexata, não importando o rigor no cálculo suposto, o homem maduro prudentemente desce da árvore, deita sobre a relva e se perde na contemplação do galho que lá do alto o atrai, tangido pelos ventos trepidantes da vida. Maturidade é assim essa sutil carência medida entre a relva e o galho. Noutras palavras, é tudo que sobra do que não poupamos. Logo, não será melhor perdê-la na queda entre o galho e a relva, no voo errante movido ao impulso dos ventos trepidantes da vida? Sobe e salta, desafia o aventureiro indiferente à flor cinza da razão maturada; desce e contempla, retruca esta no metro do olhar medindo toda a vertigem da queda.

No país da cordialidade, não falta quem confunda grosseria com franqueza, assim como não falta quem confunda hipocrisia com civilidade.

Na medida em que é condição de convívio civilizado, a hipocrisia é o preço que a tolerância paga ao consenso.

Se fosse uma casa de tolerância, o Brasil seria um modelo de civilização.

Num país onde a delinquência veste a máscara da espontaneidade, o crime banal é tolerado e até louvado como jeitinho.

Fracassados acadêmicos, como eu, sabem que o currículo Lattes, mas não morde.

Desejar a mulher dos amigos é uma tentação que sempre mascaramos, sobretudo quando a realizamos.

O Código Penal brasileiro depena o criminoso pobre enquanto tem pena do rico.

A realidade é de direita. É por isso que quando a esquerda se apossa do poder logo se confunde com a direita. É também por isso que nunca confio em esquerda vencedora. A única esquerda confiável é a vencida ou fracassada.

Vou fundar a metaesquerda. Seu único objetivo será o de civilizar a política, não o de conquistar o poder.

Na Vara da Família: O amor começa com meu bem e acaba com meus bens.

Na dúvida, duvido.

Numa de suas boutades famosas, Paulo Francis disse que foi torturado pela ditadura, pois o carcereiro do quartel onde ficou preso ouvia Vanderléa no radinho de pilha. Sorte dele. Hoje sou torturado todos os dias, sem sair de casa e sem ditadura imposta pelo poder político, por coisa inclassificável. Perto dela, dessa coisa inclassificável, Vanderléa seria um luxo, canto de sereia nos meus ouvidos.

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