quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Um olhar sobre a paisagem


Ah, quantos de nós
Que já vivemos o mundo
E lhe sofremos o peso
Não gostaríamos de apagar as luzes do templo
E em seguida queimar todas as imagens?

Quantos de nós
Delirantemente tragados pela voragem do amor
Afundados na corrente
Cativos da miragem na margem remota
Não fomos devorados pelas sereias?

Quantos de nós
Serenadas as águas
E abrandado o fremir dos anos
Não repousamos agora à sombra das margens vorazes
Timbrando resignação e ceticismo
Enquanto a vida avança em ondas
Ameaçadora e insensata
Contra a clepsidra e a memória?

Um rugido se eleva no centro da paisagem
Enquanto o fogo crepita
Como um vulcão de carne e força cega.
Os jovens se lançam na fogueira
Brandindo a chama de armas mortíferas.
Na sombra remota, no cerne da ilha sitiada,
O homem fura os olhos desencantados
E naufraga no ventre das águas indiferentes.

Recife, 30 de outubro de 1999.

Um comentário:

  1. Fernando Mota, tudo bem? Lembro-me que você me alertou: "Da próxima vez, fogo". Eis o resultado. Pelas bordas. É uma bela metáfora da insônia. Abraço

    ResponderExcluir