quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Aforismos e desaforos II


A mulher que jura fazer tudo por amor é capaz de fazer qualquer coisa.

Os únicos erros imperdoáveis são os que escolhemos.
Os erros mais dolorosos são os irreversíveis.

Ela infernizou minha vida com o amor mais inocente e dependente concebíveis. Por isso já não duvido de que há formas de amor piores do que o inferno.

Só uma pessoa absolutamente inocente acreditaria que a inocência é inofensiva.
A maior vítima da inocência é a compaixão.

Seduzi Maria Inocência com um colar e ainda hoje ela me cobra as perdas e danos que me causa.

Antagonismo genético: a gravidez que pode ser o sonho de uma mulher pode igualmente ser o pesadelo definitivo do homem que a fecunda.

Sexo virtual é o meio mais seguro de controle da superpopulação.
Sexo virtual é mais estéril do que encíclica papal.

Batata, fundador do Bacalhau do Batata, é um dos mais celebrados heróis populares do Brasil. Gregório Bezerra é um dos heróis populares mais ignorados do Brasil. Não falta, contudo, popular indignado denunciando os políticos que temos.

Somente no Brasil promovem festa, carnaval e futebol como se fossem formadores de cidadãos. Depois ainda se espantam com as tempestades que colhem.

A supremacia universal do futebol é a evidência de que nossa razão foi transplantada do cérebro para o pé.

O Recife é sem dúvida a cidade mais musical do Brasil. De domingo a domingo, ouço serra elétrica, martelo, buzina, cachorro latindo e gente conversando aos berros, inclusive no celular. Nossa incivilidade despreza até a tecnologia digital. O recifense não trabalha, desacata a ordem pública; não conversa, bate boca.

De acordo com estudo realizado pela ONU, o parlamentar brasileiro é o segundo mais caro do mundo. Fazendo o que faz, se ele nos pagasse ainda sairia muito caro.

Somos tão inconscientemente egocêntricos que atribuímos nossa ferocidade às feras, nossa rapacidade aos ratos, nossa agressividade ao leão e ao galo, nossa grosseria ao cavalo, nossa lascívia ao gavião. Por fim, já que em toda a natureza não há espécie comparável à nossa maldade, tivemos que inventar a figura mítica do Demônio cuja sinonímia e provas do crime são fartas nos boletins de ocorrência, no instituto médico-legal, no código penal e nos necrológios.

Foi por ser francês que Sartre disse: o inferno são os outros. Se fosse brasileiro, mandaria os outros para o inferno. Se fosse pernambucano, iria sozinho.

O Brasil não existe. O Brasil é apenas a mais grandiosa obra de ficção da literatura universal. Por isso nossa literatura é tão insignificante. Que gênio da imaginação poderia competir com esse gigante feito de símbolos insubstanciais? Ouçam a tempestade fantasiada que sopra nos sambódromos e nos estádios de futebol: ficção pura.
Recife, fevereiro de 2013.

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