quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Poema do masoquista
Ser é doer
Diz o analista
Ao masoquista
Que já avista
A dor chegando.
II
O mundo é dor:
Dor de amor
De festa, andor
Dor de alegria
Que logo finda.
Vem a ressaca
Fica, não passa
E o trem não finda
Range nos trilhos
Doendo ainda.
III
Dor de amor
Incorrespon-
dido e ferido
pela carência
de gozo e dor
pois um e outra
são o sentido
o bem à vista
a que aspira
o masoquista.
IV
Dor de poeta
Que sem carinho
Geme sozinho
No cais deserto.
Olhando em torno
Grita: socorro
Sem cão por perto.
V
Dor de amor
Que abusa e trai
E vão se esvai
No azul da flor.
Mas como é bom
Sofrer doer
Tudo perder
Só por amor.
VI
Dor chaga e luto
Dor beijo bruto
No céu da vida.
E o masoquista
Dança na pista
Rodopiando
Com o pé torto
Da mascarada
Que é ser artista.
VII
Ser é doer.
O masoquista
Dócil concorda.
Ri de alegria
Quando a alergia
Lhe morde a corda
Cardiovocal.
E ele sorrindo
Sofre tão lindo:
Dor não faz mal.
VIII
E a noite dói
E a dor acorda
O masoquista
Pleno e feliz
No seu sofrer.
Quem range e mói
A dor da vida
Tem toda a vida
Pra se doer.
Recife, 26 de abril de 2001.
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