quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Naturidade



Se hoje culpas o mundo
Antes, bem antes a ti
Te culpas lá no mais fundo
E a vida não é mais aqui.

A que viveste moeu
O tempo irreversível.
E assim não és, nem sou eu.
Tudo se vai e é falível.

O amor que restava era
A hera e lodo do muro.
Tudo que foi nada espera
Salvo o engano no escuro

Em que mergulhas e escondes
A culpa da vida errada
E já não sabes aonde
Irá findar tua estrada.

A clepsidra lunar
Fechou-te o ciclo do dia.
Suspensa, tonta no ar
Ela tritura a poesia

Da vida ida e errante
Que te supunhas colher
Cego, caindo adiante
Fundindo amar e sofrer.

É isso então o que sobra
O acaso, o mal-entendido
Lear soprando sua obra
O caos no fundo do abismo?

Que som no sopro da pauta
Vibra no céu que se esvai?
Quem salta na noite alta?
Que vida no abismo cai?
Recife, 23 de agosto de 2011.

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