terça-feira, 5 de junho de 2012

Love Story


Mamãe ficou nos retratos.
Ali suspensa e ausente
seu corpo alto, nervoso.
Um sonho de paz diviso
nas desbotadas imagens
onde inteira repousou.

Mamãe errou de amores
errou de filhos, marido
da vida que a consumiu.
Embora tanto fugisse
de si, do que a retinha
na só fechada medida
do código, dor de ser mãe
de crias que não criara
mamãe em nada se achou
em metro nenhum mediu
a evanescente medida
do sonho em que nos medimos.

E entanto ia, teimava
em ir além do seu erro
que apenas se repetia.
E no meu pai desprezava
um fraco modo de amor
que o seu vigor repelia.

Que estranha lei ou acaso
na mesma casa casou
duas carnes assim hostis?
Um dia eis fatigada
do erro sem solução
na solidão repetido
transpôs mamãe a fronteira
última das convenções.

Meu pai, cabeça curvada
bebia, se dissolvia
num só silêncio, no nada.
Um só pesado fantasma
curvado pisava insone
as pedras do corredor.
Minha infância ficou muito triste.

Fernando da Mota Lima.
São Paulo, 25 julho 1980.
Reescrito em 15 outubro 1995.

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