sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Insulândia
Nas águas represadas entre a lua e o farol
Fundou sua ilha chamada Insulândia.
Há muita música no mundo.
As mais belas, e são tantas,
Povoam o ar azul de Insulândia.
Embora ame os homens que deram forma à música
Jamais lhe ocorreu o desejo de conhecê-los
Saber quem são e como vivem.
Ele sabe que o melhor desses homens
A humanidade iluminada que transportam
Vive na música, não na vida que viveram.
Há grandes livros no mundo.
Alguns habitam a biblioteca de Insulândia.
Ele viajou através dessas obras
Nelas fruindo uma forma de mais elevada humanidade.
Os homens que as produziram
Vivem lá fora e longe
Num mundo inacessível a Insulândia.
Ele não viajaria um quilômetro
Sequer atravessaria uma ponte
Para tocar e conhecer esses homens.
Pois os livros de Insulândia cedo o ensinaram:
Esses homens não valem um capítulo ou um verso
Da humanidade que escreveram.
O habitante de Insulândia
Viu e amou muitos quadros.
Espelhados no olhar da memória
Esses quadros se fazem habitantes de Insulândia
Sem que consigo transportem, sequer sugiram,
A mancha de tinta nos dedos que os pintaram
A humana ferramenta que lhes comunicou
Um sopro de vida definitiva.
Há filmes, muitos filmes e peças em Insulândia.
Projetados numa tela privada
Ou ouvidos numa fita que lhe pontua
Frequentes caminhadas através da ilha
Abrem-lhe um horizonte impraticável
No mundo das relações vivas e convividas.
Os luares de Insulândia
Ou o cheiro forte da terra molhada
Trazem-lhe um sopro sofrido de amor e mulher.
Ouve-se então
Na voz da brisa que viaja para o continente
O uivo do lobo deserto
A tristeza da carne ralando o nervo e a epiderme.
Mas cedo se pacifica
E cessa a dor do que falta
E ele se reintegra na memória da carne
Outrora amada e já perdida.
Mas a memória é também um modo de ganho
Atualização do amor e da carne
Sobrevivos no balanço dos bens gastos e retidos.
Insulândia é habitada por um homem
Um único homem.
Desesperançado do semelhante
Falível e insensato como ele
Vem longamente aprendendo
Que o melhor dos homens
Radica nas obras que inventaram.
E o amor mais alto é só memória da carne.
Recife, 12 de Dezembro de 1999.
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