sexta-feira, 25 de novembro de 2011

No fim do dia



No fim do dia repasso
As horas do tempo ido
De tudo retendo um traço
Do meu relógio partido.

Era barato, de feira
O meu relógio perdido
Colhido em meio à poeira
Do meu caminho sofrido.

E entanto houve um tempo
Em que o espelhei sob a luz
Que era sonho e alento
Soprando auroras azuis.

Não era felicidade
O que na aurora luzia
Mas uma outra cidade
No dia que se expandia.

A inconsciência das horas
E a juventude do dia
Diziam: vive, lá fora
Um outro céu se anuncia.

Até na dor, no deserto
Essa promessa sustinha
De longe quanto de perto
A luz que era só minha.

E assim vivi de enganos
De asilo na minha ilha
Enquanto o passar dos anos
Roubou-me fêmeas e filhas.

Agora no fim do dia
Medindo o tempo perdido
Nenhum consolo ou poesia
Retém meu fardo puído.

De sobra ficou-me a noite
A sua concha e abrigo
E o velho relógio gasto
O fim já mede comigo.

Recife, 23 de agosto de 2011

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