terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Gilberto Freyre de A a Z
Elementar, meu caro Edson
Anunciado já há alguns anos, e desde então aguardado pelo leitor crítico ou meramente curioso, vem enfim a público o livro de Edson Nery da Fonseca sobre Gilberto Freyre . Diante da obra lida e anotada para a redação deste artigo, principiaria afirmando que, se é possível que seja útil ao segundo tipo de leitor, o meramente curioso, é provável que decepcione o primeiro, o leitor crítico. Bastaria um ligeiro cotejo entre o subtítulo anotado pelo autor – Referências essenciais à sua (de Gilberto Freyre) vida e obra – e a matéria dos verbetes para que logo se notasse o que contém de superficialidade e omissão. Como os termos com que o autor grosseiramente historia a composição da obra (pp.9 e 10) anulam a hipótese de pesquisa e redação apressadas, soam um tanto incompreensíveis o tom de superficialidade e as muitas omissões que nela observo.
Mas é dever do articulista passar à matéria da obra para substanciar o tom negativo com que introduz sua crítica. Um dado que de imediato chama a atenção é o fato de que Edson Nery dá crédito a uma infinidade de autores ocasionais cuja contribuição para o estudo da vida e obra de Gilberto Freyre é nula. Ilustres desconhecidos são arrolados, por vezes generosamente aquinhoados com verbetes extensos, tão-só por merecerem prefácio cordial de Gilberto Freyre quando da publicação de alguma obra obscura. Noutros casos, figuram no dicionário dada a razão aparente de terem escrito algum artigo ou ensaio de ocasião em louvor do mestre de Apipucos. A inclusão de tais autores seria acaso justificável na hipótese de Edson Nery adotar para a composição do dicionário um critério cuja abrangência favorecesse tanto a quantidade quanto a qualidade dos nomes contemplados. Considerada porém a omissão de nomes merecedores de registro obrigatório em obra de semelhante natureza, tal a qualidade inegável da contribuição efetivamente crítica que trazem ao estudo da obra de Gilberto Freyre, fica evidente a omissão e parcialidade do livro.
Ilustrando um pouco o que a obra encerra de omissões inexplicáveis, como entender a ausência de verbetes referentes aos modernistas de São Paulo e aos representantes da escola paulista de sociologia liderada por Florestan Fernandes? A não ser que se entenda a obra e a vida de Gilberto Freyre como uma seleção arbitrária de nomes, fatos e registros anedóticos, há que situá-las na interação viva com as idéias e autores que lhes especificam o perfil histórico. Ora, a obra capital de Gilberto Freyre emerge no contexto de duas décadas, as de trinta e quarenta, assinaladas por amplas e intensas mudanças culturais e literárias. O Modernismo, compreendido enquanto processo de renovação literária e sobretudo cultural, condensa as grandes questões e realizações do período. Embora nada deva diretamente ao Modernismo de extração paulista, Gilberto Freyre e sua obra são indissociáveis do espírito e da obra do Modernismo. Tanto é isso verdade que ele explícita ou implicitamente dialogou e polemizou com o legado do movimento. Tanto é verdade que certa feita ele se declarou modernista, embora tradicionalista e regionalista, como admitiu ao frisar a particularidade da sua inserção no movimento cultural da época. A presença de Mário de Andrade, por exemplo, é tão inevitável que, se de um lado Edson Nery lhe recusa um verbete próprio, de outro vê-se forçado a citá-lo mais de uma vez em verbete alheio.
Passando ao plano da sociologia e da história social, sabe-se que a interpretação do Brasil proposta por Gilberto Freyre compete sobretudo com as de Sérgio Buarque de Holanda e a de Caio Prado Jr., além de, a partir dos anos cinqüenta, confrontar-se com a obra de Florestan Fernandes e em seguida a dos seus discípulos. Antonio Candido escreveu em 1967 um ensaio dedicado à celebração dos 30 anos de publicação de Raízes do Brasil. Tomado desde então como texto de referência obrigatória nos estudos sobre os intérpretes do Brasil - fato que Edson Nery ignora no verbete Candido, Antonio, visto que sequer o menciona – nele o ensaísta postula a adoção de uma trilogia clássica composta pelas obras mestras de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Caio Prado Jr. Boa parte dos estudos sobre o assunto envolvem direta ou indiretamente as visões do Brasil propostas por estes autores. Uma outra parte confronta a obra de Freyre com a de Florestan Fernandes e seus discípulos mais notáveis: Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni e Emília Viotti da Costa. As referências que faço, meramente indicativas, têm o propósito de sugerir o contexto intelectual e ideológico dentro do qual a obra de Freyre deve ser considerada. Edson Nery passa ao largo de tais questões expondo-se assim ao risco de compor uma obra restrita à dimensão do verbete de curiosidades e registros anedóticos.
Outro aspecto fundamental da obra de Gilberto Freyre liga-se às controvérsias e contestações que inspirou, sobretudo a partir dos anos sessenta. É surpreendente, portanto, a completa omissão de autores, alguns de inegável mérito, na obra de Edson Nery. Dante Moreira Leite foi dos primeiros a investir contra as interpretações fundadas na noção de caráter nacional. Identificando em Gilberto Freyre um dos alvos centrais da sua análise, de certo modo antecipou o movimento de negação crítica procedente de São Paulo e fortalecido ao longo dos anos sessenta e setenta. No rastro de Moreira Leite vieram Carlos Guilherme Mota e vários nomes destacáveis da esquerda uspiana. Do Rio irromperam vozes discordantes como a de Luiz Costa Lima e Luiz Antônio de Castro Santos. Este, aliás, mereceu de Edson Nery um artigo áspero, em parte justificável, publicado no periódico Ciência e Trópico.
Não posso, dentro deste espaço limitado, citar todos os críticos de Gilberto Freyre. Mas posso, e devo, ressaltar a omissão de todos no dicionário de Edson Nery. O fato torna-se ainda mais estranhável quando considero que ele teve a liberalidade de dedicar um verbete a Assis Claudino, talvez o crítico mais estreito e panfletário de Gilberto Freyre. Também Joaquim Inojosa é brindado com um verbete. Sua importância histórica é inegável. Não obstante, era um modernista de palanque, tão medíocre que se distingue por ser um diluidor da primeira hora. Os modernistas de São Paulo nunca o levaram a sério. Mário de Andrade deu-lhe importância porque dele se valeu como propagandista útil e inocente do Modernismo em Pernambuco e outras partes do Nordeste. Que critério justifica a inclusão destes autores no dicionário de Edson Nery enquanto Moreira Leite, Luiz Costa Lima e outros de importância similar são omitidos?
Voltando ao tema das muitas controvérsias suscitadas pela obra de Gilberto Freyre, um livro como o de Edson Nery deveria não apenas registrá-las, se possível situá-las criticamente, mas também indicar o ritmo de suas oscilações, nestas incluídas atos de mea culpa e revisões públicas como as tantas manifestas à volta do centenário de Gilberto Freyre. Afinal, se este teve comportamento ideológico deplorável durante a vigência da ditadura militar, seus críticos e inimigos ideológicos foram de uma intolerância grosseira impondo-lhe em muitas universidades um silêncio de duas décadas. O fruto mais pernicioso dessa intolerância patenteava-se na hostilidade ignorante que minha geração, formada a partir de 1968, desfechava contra Freyre. Dando provas de que somos um país sem nervura ética e ideológica, críticos implacáveis e intolerantes de ontem somam-se hoje ao coro dos louvadores acríticos. O que fazem, em suma, é meramente inverter o sinal da adesão intolerante e iletrada. Conhecendo muito bem o assunto, Edson Nery bem poderia esclarecê-lo no corpo da sua obra à margem de acertos de contas mesquinhos.
Passando à cena internacional, onde a projeção e influência da obra de Gilberto Freyre supera a de qualquer outro brasileiro, soa também estranhável a omissão de estudiosos que a festejaram com entusiasmo talvez maior que o dos críticos nacionais mais calorosos. Digo estranhável por saber que o autor tem pleno conhecimento do assunto. No seu artigo polêmico contra Luiz Antônio de Castro Santos acima citado, ele arrola muitos sobre os quais inexplicavelmente silencia no dicionário. É o caso de Alistair Hennessy, autor de uma excelente resenha crítica publicada no Times Literary Supplement. Escrita com o fim de saudar a republicação da trilogia de Freyre (The Masters and the Slaves, The Mansions and the Shanties, Order and Progress), Hennessy revisa com fino discernimento crítico a obra de Freyre cotejando-a com a dos seus competidores brasileiros e a de brazilianistas incapazes de adequadamente dimensioná-la. Acrescento a esta omissão mais algumas igualmente graves: David Haberley, autor de excelente estudo sobre literatura e relações raciais no Brasil, Thomas Skidmore, Eugene Genovese, Ludwig Lauerhass Jr., Daniel Pécaut.
A prata da casa, por outro lado, é a mais generosamente aquinhoada no conjunto do dicionário de Edson Nery. Variando a forma do que de início frisei sobre o assunto, muitos são os chamados e bem poucos os merecedores de crédito. Dado porém o fato de que o autor a tantos distingue com sua apreciação generosa, como explicar a completa omissão de muito do que na cena local se publicou sobre Gilberto Freyre? Refrescando um pouco a memória do autor, assim como a do leitor que tem ainda a paciência de seguir-me, Edson Nery não registra o massudo volume organizado por Fátima Quintas para celebrar os 95 anos do nascimento de Gilberto Freyre. Incluindo cerca de cinqüenta colaboradores, alguns procedentes de outras terras, a obra contém matéria de estudo para uma grande variedade de gostos e modos de apreciação.
O periódico Estudos de Sociologia, do programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, consagrou seu número inicial a Gilberto Freyre. Compreendendo temas e abordagens diferenciados, mereceria também um registro ainda que sumário. O mesmo se aplica ao número especial dos Cadernos de Estudos Sociais, periódico publicado pela Fundação Joaquim Nabuco. Integrando o imenso e variado programa composto para celebrar o centenário de Gilberto Freyre, o periódico somou os estudos que publica a outros veiculados pelo caderno semanal Mais, da Folha de S. Paulo, caderno de cultura do Estado de S. Paulo e os dois principais diários de Recife: Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio. É ainda estranhável a omissão do livro O Imperador das Idéias, organizado por Joaquim Falcão e Rosa Maria de Araújo. Reunindo ensaios e artigos de notáveis estudiosos, encerra colaboração do próprio Edson Nery. O estudo de maior fôlego, e provavelmente o melhor, é assinado por Joaquim Falcão e trata com discernimento e humor da longa e insolúvel querela envolvendo Freyre e a USP. Por fim, pois já receio parecer exaustivo, a omissão de dois volumes academicamente muito úteis organizados por Lourenço Dantas Mota sob o título Introdução ao Brasil. Um Banquete no Trópico. Escrito por um grupo de especialistas em estudos brasileiros, contém substanciosos capítulos que valem como introdução sintética às obras mestras dos nossos melhores intérpretes. De Gilberto Freyre constam Casa-Grande & Senzala e Ordem e Progresso, apresentados por Elide Rugai Bastos, e Sobrados e Mucambos, por Brasílio Sallum Jr.
A matéria de alguns verbetes merece do crítico reparos obrigatórios numa apreciação isenta. No verbete referente a Hermilo Borba Filho, Edson Nery erra ao entender que O Cavalheiro da Segunda Decadência é um romance publicado em 1967. Na verdade, o título foi escolhido por Hermilo para designar uma tetralogia composta pelos seguintes romances: A Margem das Lembranças, A Porteira do Mundo, O Cavalo da Noite, Deus no Pasto. Noutro verbete, este dedicado a Otávio de Freitas Júnior, o autor menciona o prefácio que Mário de Andrade escreveu para Ensaios do Nosso Tempo, livro assinado pelo médico e ensaísta pernambucano. Erra porém ao afirmar que o prefácio de Mário de Andrade foi agregado ao volume O Empalhador de Passarinho, já que de fato ele é parte de um outro livro de Mário: Aspectos da Literatura Brasileira. São reparos menores, evidentemente, que em nada comprometem os méritos da obra. Faço-os aqui visando alertar o autor no caso de a obra merecer uma nova edição.
Verbete que com certeza mereceria revisão mais séria é o que dedica a Luís Roberto Salinas Fortes. Antes de registrar a colaboração de Salinas Fortes integrada a Gilberto Freyre: sua Ciência, sua Filosofia, sua Arte, escreve candidamente o autor: “Infelizmente, faltam-nos informações sobre este estudante de Direito de São Paulo na década de 60...” Ora, este suposto desconhecido foi professor de História da Filosofia da USP, além de bastante citado devido a alguns livros que publicou. O mais divulgado foi com certeza O Iluminismo e os reis filósofos, volume integrante de uma coleção ainda muito popular publicada pela Brasiliense. Discípulo de Claude Lefort, traduziu conjuntamente com Marilena Chauí um conjunto de ensaios assinados por seu mestre e reunidos no volume intitulado As Formas da História. Salinas Fortes foi preso e torturado pela ditadura militar e morreu prematuramente.
Interrompo por aqui a lista das omissões antes que o leitor erradamente entenda mover-me neste artigo o propósito de lançar sobre o autor mais fatos, muitos até miúdos e dispensáveis, do que argumentos de peso. Se me detive na indicação de tantas fontes omissas foi por dever de fundamentar minha crítica. Mais que tudo, intento captar por sob a rede de lacunas identificáveis na obra um critério coerente de composição. Chegado a este ponto, depois de tantos fatos e argumentos acima acumulados, devo concluir pela ausência de um tal critério. Em suma, a obra de Edson Nery padece de uma insuficiência estrutural: a ausência de um princípio de composição passível de imprimir-lhe organização consistente e qualidades críticas que a credenciem como fonte de referência essencial para o estudioso da obra e vida de Gilberto Freyre.
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o que mai dizer, Don Fernando? Isso é que eu chamo "demolir um livro", sem nenhuma ofensa ou falsa polêmica. Apenas com argumentos sólidos.
ResponderExcluirCésar:Tudo o que esse artigo me valeu foi uma inimizade. Mas é o previsível na nossa cultura da cordialidade. É confortador ler de um leitor crítico como você a observação de que não há nele, no artigo, uma palavra de ofensa, ou uma linha de falsa polêmica.
ResponderExcluirFernando.
Fernando, tenho acampanhado seu blog. E quero dizer que esse é o texto seu cujo a forma de tratamento crítico mais me agradou. Muito bom.
ResponderExcluirNão lí o livro de Edson Nery. Todavia, não encontrei melhor definição do que a retro mencionada por Cesar "DEMOLIR UM LIVRO". Os argumentos de Fernando M. Lima transpiram sobriedade e expõe os pontos de divergência ou de omissão do trabalho analisado. Deixa transparecer que domina muito bem o tema e faz a crítica sem paixão, ao mesmo passo também não se omite em relação à figura central analisada: Gilberto Freyre e sua obra.
ResponderExcluirO criador da Lusotropicologia, que também estabeleceu o conceito de "Democracia Racial",
no futuro, provavelmente não será visto como um dos raros intelectuais brasileiros respeitados internacionalmente no Séc. XX, a razão é simples: ao contribuir de corpo e alma com a Ditadura Salazarista em Portugal e também ter sido colaborador e "exponente intelectual" do golpe militar de 1964 no Brasil, chegando mesmo a delatar muitos comunistas e a "entregar" o educador Paulo Freire à ditadura militar, ou seja, ter sido um participante sem igual, pois não havia na época ninguém do quilate de Gilberto Freyre, não apenas por essas razões que no futuro sua obra não passará de uma mera ficção literária, mas sobretudo pelo fato dele ter permanecido em SILÊNCIO TOTAL.
Vamos lá: não tenho procuração para defender Edson Nery, mas, com relação à omissão do autor sobre a escola de sociologia da USP, me parece que seja uma escolha deliberada e consciente, antes que uma lacuna desproposital. Afinal, como você mesmo registra no seu texto, durante décadas os uspianos relegaram à Freyre um silêncio ensurdecedor. Me parece que é apenas uma questão de vinculação ideológica: o autor não pactua com a ideologia propalada pela escola de sociologia uspiana e nisso não vejo nenhum crime, em que pese a pretensa hegemonia desta escola perante às outras interpretações do Brasil. Mário de Andrade é importante, mas não é mais importante que Gilberto Freyre para a compreensão do país. Florestan Fernandes, em que pese sua bela biografia, não é um interprete do Brasil mais importante do que um Wanderley Guilherme dos Santos e é neste nível que deve ser colocado; querer compará-lo com Gilberto Freyre seria o mesmo que comparar um intelectual pernambucano de segunda grandeza à Mario de Andrade (vale lembrar que no inicio da carreira acadêmica Florestan levou uma emenda sonora de Guerreiro Ramos no prefacio deste ao livro "A redução sociológica"). Ademais, em que pese o conservadorismo e tradicionalismo do Mestre de Apipucos, cumpre ressaltar que sua obra não é resultado de um projeto de poder, ao contrário da escola de sociologia da USP, ótima em apontar o dedo aos seus concorrentes e péssima em fazer qualquer tipo de autocritica: não custa lembrar que a USP foi fundada em 1934 pela oligarquia cafeeira paulista com a intenção de formar uma “nova elite” para retomar o poder perdido em 1930. O golpe de 64, em que pese as aposentadoria compulsórias de alguns professores uspiano, foi uma primeira vitória da plutocracia paulista contra o país. A eleição de FHC em 1994 foi a consolidação do projeto de seis décadas antes. Cumpre lembrar que a USP jamais lidou bem com aqueles que praticavam uma critica fora dos cânones. Exemplo disso é a não admissão de Oswald de Andrade como professor. Sobre o modernismo paulista, mesmo considerando sua real importância para a atualização das artes e da cultura naquele momento, vale lembrar Glauber Rocha (outro maldito para a USP, tirando Ismail Xavier): “A comuna Prestes marcha pelo país enquanto os paulistas estão preocupados com a reforma do verso”.
ResponderExcluirAo fim e ao cabo, a escola de sociologia da USP cumpriu com a missão que lhe foi atribuída pelos oligarcas do café (herdeiros dos bandeirantes, que só sabiam escravizar gentes): construiu uma ideologia, uma teoria (teoria da dependência) e uma cultura por um lado totalmente alienada da cultura do país como um todo, por outro totalmente vinculada à tradição paulista de exploração da mão de obra e seu provincianismo e colonialismo de enxergar na metrópole as virtudes que supostamente nos faltam. Legitimou, em termos teóricos, a aliança subalterna das elites locais ao capital internacional em detrimento da real independência do país. Importaram teóricos e teorias feitas para explicar o florescimento do capitalismo em parte da Europa ocidental e esqueceram que somos lusitanos e não anglo-saxões ou germanos ou franceses. No que deu a tão falada “esquerda uspiana” dos anos 60, 70 do século passado? No PSDB de FHC, Serra e Weffort. Caro Fernando, me indique 1 livro de fôlego de algum intelectual vinculado ao pensamento social uspiano com abordagem critica aos 20 anos de PSDB no governo do Estado. É isso que você chama de “esquerda uspiana”? Como bem notou Faoro, FHC foi pesquisar escravidão (Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional) justamente na única região do país na qual ela não foi significativa: no sul. Tudo isso para pretensamente desconstruir Gilberto Freyre e sua obra. É para rir ou para chorar?
Abraços,
Leonardo
beavis_borges@yahoo.com.br
Caro Leonardo:
ResponderExcluirMuito grato pelo comentário longo e polêmico contra minha resenha referente ao livro de Edson Nery da Fonseca. Não me interessa sinceramente discutir seus argumentos porque acho que eles não nos levariam a nenhum resultado intelectualmente proveitoso. Há muito aprendi que discutir ideias no ambiente cultural em que vivemos é pura perda de tempo e no geral acaba em inimizade ou desavença pessoal. Foi isso, aliás, o que me valeu a resenha que escrevi tentando de forma criticamente isenta corrigir os erros factuais e as distorções ideológicas do livro de Edson Nery. Basta dizer que convivi com ele muito amigavelmente, diria até que com admiração recíproca. Depois de ler minha resenha, entretanto, passou a dizer que nem sequer me conhecia. Portanto, qual o sentido de discutir livros e ideias com pessoas incapazes de tolerar qualquer crítica negativa?
Seus argumentos incorrem infelizmente nessa mesma clave subjetiva que levou Edson Nery a romper comigo. É por isso que, reitero, não vejo propósito em argumentar contra você, Leonardo. De qualquer modo, como frisei no início, muito grato pela atenção concedida à minha resenha.
Queria por fim esclarecer, até porque isso pode importar para algum leitor ocasional do meu blog, que a resenha era originalmente muito mais longa. Noutras palavras, meus argumentos, antes de tudo factuais, não ideológicos, eram bem mais convincentes do que o que foi publicado nas duas páginas apertadas na revista Continente. Edson Nery era membro do conselho editorial da revista cujo editor, Homero Fonseca, me escreveu dizendo que minha resenha seria publicada sob a condição de Edson Nery responder às minhas críticas. Aceitei com prazer essa condição, pois meu propósito era e é discutir ideias. Edson Nery nunca respondeu por uma razão muito simples: quando a gente lida com fatos, como é o caso da minha resenha, somente pode desqualificá-los se dispuser de fatos para provar que os fatos expostos pelo crítico são mentira.