segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
A Modernidade nos Trópicos
Revisitando o leito promíscuo do nacionalismo
Valéria da Costa e Silva incorre num gesto de reconhecimento generoso que bordeja a ironia temerária: convida um obscuro estudioso de Gilberto Freyre e Mário de Andrade para assinar o prefácio de sua obra consagrada à interpretação destes representantes supremos do nosso nacionalismo cultural. Ela põe com isso suas cartas na mesa, ponho eu as minhas ao arriscar-me a escrever o prefácio, e seja portanto o que Deus quiser.
Valéria é uma das mais distintas expressões de uma geração pernambucana iniciada nos bancos acadêmicos das ciências sociais que mais tarde, seguindo vias retas e tortas, alargou seus horizontes mentais integrando a sociologia à literatura, à antropologia e aos domínios polivalentes dos estudos culturais. Falando dos poucos que conheço, e cuja obra em processo posso razoavelmente avaliar, acrescentaria a seu nome os de José Luiz Passos e César Melo - além de dois outros, Maria Eduarda Rocha e Brenno Kenji cujas trajetórias bem mais diferenciadas anulam qualquer tentativa de aproximação com os demais que brevemente associarei nos limites deste parágrafo. Desmamados no Curso de Ciências Sociais da UFPE, ali encontraram ambiente pouco propício às interações entre sociologia e literatura. Daí salientar que foi decerto a passagem de todos por universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro o estímulo maior para que encurtassem a distância entre campos de saber hoje prevalecentes na formação e na obra que estão amadurecendo. Ainda mais decisiva, e definidora, foi a experiência que viveram em universidades americanas.
Atendo-me ao caso específico de Valéria, pode o leitor criterioso de pronto observar que seu livro inscreve-se numa zona de intersecção onde se cruzam e não raro se enlaçam a sociologia, a literatura, a antropologia e a história social. Todos esses saberes, integrados de uma forma incogitável dentro das reduções correntes nos campos estreitamente especializados da academia, precisam ser de resto mobilizados pelo estudioso que se aventure a investigar obras como a de Gilberto Freyre e a de Mário de Andrade movido pelas ambições palpáveis no livro de Valéria. De certo modo, esses limites abrangentes são impostos pela própria natureza do objeto que ela elegeu. Afinal, ambos os autores acima se propuseram produzir uma obra caracterizada por ambições amplamente fundadoras de projetos de cultura e identidade nacional, assim como de interpretação literária e cultural. Coerentes com esse propósito, concentraram nas obras que mais os distinguem e lhes sustentam a posteridade – Casa-Grande & Senzala e Macunaíma – uma síntese da cultura brasileira. Some-se a tudo os meios expressivos empregados pela autora cuja prosa límpida e fluida, tão afim da nossa melhor tradição ensaística, é plástica o suficiente para à vontade incorporar tons confessionais e vivas ilustrações sócio-antropológicas recortadas do cotidiano que observa com notável sensibilidade interpretativa. Atente-se ainda para alguns tons e argumentos francamente polêmicos, que adiante melhor considerarei.
A geração de Valéria passou ao largo da obra de Gilberto Freyre. Melhor diria se frisasse que a ignorou. Sendo ainda mais preciso, negou-a quase sempre sem conhecê-la. Refiro-me aqui, fique bem claro, a um fenômeno geracional. Logo, não se aplica a nenhum indivíduo específico. Não se aplica a Valéria, que não sei até que ponto está individualmente implicada nesse fenômeno geracional. Mas o fato é que o apoio ativo emprestado por Freyre à ditadura militar decisivamente concorreu para seu isolamento intelectual antes de tudo na esfera acadêmica, ironicamente convertida em nicho do pensamento de esquerda sob patrocínio da própria ditadura. A contestação, explícita ou comprimida, aberta ou dissimulada, estendeu-se à obra de Freyre, que amargou durante duas décadas um misto de silêncio e refutação baseada na ignorância. Narciso acha feio o que não é espelho. Pior ainda: o que é indiferença. Trocando em miúdos: falem mal, mas falem de mim. Quase ninguém falava e bem se pode imaginar o quanto isso castigou a vaidade do nosso grande intérprete da cultura brasileira.
Mas o fator acima, decerto o mais decisivo para o isolamento que Freyre suportou até meados dos anos 1980, foi precedido por dois outros bem anotados por Peter e Maria Lúcia Burke em livro recente: Repensando os Trópicos. Ressaltam que a obra produzida por Freyre desdobrava-se a contrapelo da sociologia hegemônica instituída pelo grupo de uspiano formados sob a liderança de Florestan Fernandes. O primeiro fator refere-se ao modo como Freyre interpreta as relações raciais no Brasil. O segundo afeta o método – ou sintomaticamente falta de método, como acusou Dante Moreira Leite em O Caráter Nacional Brasileiro - e até de concepção sociológica estrita num intérprete que tão à vontade desrespeitava as fronteiras convencionais demarcadas no conjunto das ciências sociais. Num momento em que Florestan Fernandes e seus discípulos, somados a outras correntes nutridas pelos grupos acadêmicos em ascensão, lutavam para impor no Brasil um padrão científico, com ou sem aspas, à sociologia brasileira, Freyre reiterava e até excedia um procedimento hermenêutico patente desde sua obra inicial. Além de livremente mesclar disciplinas como a sociologia, a antropologia, a história social, a psicologia e tantos outros saberes de alcance mais restrito, vertia tudo isso numa prosa fluida e inventiva revestida dos mais altos valores ensaísticos. É sabido o quanto ele prezava esses seus valores antes de tudo literários, fato que enfatizava ao ponto de se dizer antes de tudo um escritor.
Presumo que as sumárias indicações acima concorrem para em algum grau esclarecer o ajuste de contas a que Valéria procede no seu livro. Sendo uma estudiosa empenhada e franca, já no prefácio anota ser uma admiradora convertida de Freyre. O qualificativo, tão concentrado no tom alusivo apenas para o leitor desatento, remete às questões indicadas nos parágrafos precedentes. Como intelectual empenhada, a obra de Valéria diverge dos estudos neutros, não raro expressos em estilo anódino. Mais que empenhada, ela vive e escreve calibrada pelo ritmo da paixão. Sendo assim, ela enquanto autora se espelha em linhas nítidas no conjunto da obra. Pois afinal este é um ingrediente definidor das obras empenhadas e passionais. É assim coerente que anuncie, já no prefácio, sua determinação de embrulhar-se em vários ajustes de contas. O primeiro, como já sublinhei, é com ela própria, com esse passado recente, individual e coletivo, tendente ao desapreço ou franco desprezo pela obra de Freyre.
O livro de Valéria sustenta, assim penso, um paralelo com a obra que me parece a mais renovadora dos estudos sobre Gilberto Freyre. Refiro-me a Um Vitoriano dos Trópicos, de Maria Lúcia Pallares-Burke. Ela é a primeira a reconhecer a importância desta obra, fato que registra no seu prefácio. Isso todavia não desmerece os méritos de Valéria nas partes do seu livro em que explora temas semelhantes àqueles desenvolvidos por Pallares-Burke. Pelo contrário, entendo que em certos planos as duas obras se complementam. Por exemplo: Um Vitoriano dos Trópicos limita-se declaradamente a rastrear as fontes estrangeiras, notadamente inglesas, decisivas para a formação intelectual e ideológica do jovem Freyre, processo que culmina na composição de Casa-Grande & Senzala. Sua investigação se detém coerentemente nesse ponto. Valéria vai além, em certa medida confessadamente apoiando-se na contribuição renovadora de Pallares-Burke, ao estudo desta acrescentando as fontes brasileiras nas quais Freyre comprovadamente bebeu. É o caso, fiquemos neste, da contribuição que Joaquim Nabuco presta à interpretação de Freyre relativa à experiência escravista brasileira.
Além disso, o escopo do seu livro é bem mais abrangente, o que constitui outro elemento diferenciador significativo, além de acrescentar qualidades indiscutíveis à sua investigação. Não satisfeita de cobrir um amplo espectro de questões mapeadas na obra de Freyre, que pode de resto ser lida como uma micro-enciclopédia brasileira, Valéria salta para questões do presente, algumas prenhes de equívoco e matéria de controvérsia. Nesse sentido, ela antecipa o livro de Peter e Maria Lúcia Pallares-Burke recém-publicado: Repensando os Trópicos. Isso é evidente, por exemplo, na sua tentativa de articular um ponto de vista brasileiro em face do acelerado processo de globalização cultural em que vivemos. É ainda evidente nos argumentos que expõe relativos à política de cotas e suas implicações para as relações raciais no Brasil. Seu ponto de vista, neste passo, é nitidamente tributário da interpretação proposta por Freyre para um adequado equacionamento das interações entre raça e cultura. Embora refute a noção de democracia racial enquanto fato, assim como aliás procedem muitos dos que neste quesito substancialmente concordam com Freyre, ressalta com razão o significado positivo de uma política racial, melhor diria cultural, inspirada pelo mito da democracia racial, ou uma política que vise esse fim como horizonte utópico. Noutras palavras, sem negar o fato do racismo à brasileira, sobretudo as iníquas condições de desigualdade que nos distinguem daqueles países que efetivamente completaram seu projeto de modernidade, valendo-me aqui de uma alusão a argumento proposto por Habermas, Valéria aposta no sentido simbólico do mito da democracia racial. Isso ainda renderá muita briga e incompreensão, mas espero que ao cabo todos se salvem, sobretudo os valores de tolerância e equilíbrio de antagonismos, para lembrar uma expressão tão cara a Gilberto Freyre.
O zelo pelo mito da democracia racial, ou ainda a dimensão utópica inscrita no horizonte de nossas relações raciais, pode inspirar crítica ou franca aversão ao estudioso estreitamente positivista, assim como aos críticos da ideologia que nela identificam tão-só um instrumento simbólico a serviço da mistificação e dos interesses inconfessadamente orientados para a dominação. Parece-me que os que incorrem nessa clave analítica adotam uma concepção muito pobre da realidade social, assim como dos critérios de verdade entroncados nas práticas epistemológicas que sustentam. Pois me parece que só uma pessoa muito ingênua, ou intelectualmente bem apressada, teria a presunção de discriminar verdade e ilusão, mito e história em termos absolutos. Diante disso, prefiro ficar com o que chamaria de efeito de realidade. Isso quer dizer, em resumo, que a crença num mito racista, como o da pureza e superioridade ariana celebrada pelos nazistas, tem o poder de criar efeitos de realidade devastadores. Portanto, fico com Freyre, Darcy Ribeiro, Valéria, Peter Fry e Caetano Veloso, entre outros, que não obstante conscientes de que nossa democracia racial é um mito, assim como nossa iníqua desigualdade um fato que nos amesquinha enquanto povo e nacionalidade, reconhecem a força fecunda do mito e do ideal utópicos postos a serviço de fins humanistas mais altos.
Mito por mito, antes o da democracia racial. Talvez nunca alcancemos chegar lá, pois confesso ser bem menos otimista do que Freyre e Valéria. Ainda assim, antes um mito orientado para o bem do que para o mal. A propósito, gosto sempre de lembrar uma anedota relatada por Ray Monk na sua extraordinária biografia de Wittgenstein. Certo dia um discípulo deste procurou-o ansioso por saber o que deveria fazer para melhorar o mundo. Resposta de Wittgenstein: Procure melhorar a si próprio, pois isso é tudo o que você pode fazer para melhorar o mundo. Transpondo o conselho da esfera individual para a social, diria eu parafraseando o filósofo: procure cultivar e lutar por mitos culturais que concorram para melhorar a sociedade na qual vivemos. Assim você fará algo no sentido de melhorar o mundo.
Como ligeiramente já indiquei, Valéria com razão identifica na obra de Freyre uma referência crucial para orientar nosso processo de inserção no universo da cultura globalizada. Valéria é uma crítica enfática da globalização, tão enfática que em algumas passagens roça o limite de uma representação unilinear dessa rede complexa de interações. Mas ela está bem ciente disso, ciente do fato de que a globalização, embora posta a serviço, no plano das relações de poder, do capital e da hegemonia americana, supõe antes de tudo intercâmbio e negociação em todas as esferas de circulação dos bens negociados, sejam eles econômicos ou culturais. Tanto tem disso consciência que repõe a obra de Freyre na temporalidade mais inquietantemente presente, regida por essas forças globalizadoras, para simultaneamente formular uma crítica às forças dominantes do processo de globalização e assinalar as forças e vantagens culturais que o Brasil detém e precisa afirmar nesse processo. É precisamente aqui que uma atualização crítica da obra de Freyre lhe parece inestimável. A mestiçagem, fator tanto empírico quanto analítico que graças a ele tornou-se referente hegemônico na constituição da nossa identidade, converte-se agora, num mundo regido por inumeráveis formas de hibridização, em um precioso elemento de vantagem adaptativa ao cenário globalizado do mundo. Também conceitos de timbre freyreano, como plasticidade e equilíbrio de antagonismos, concorrem na visão de Valéria para melhor nos adestrarmos com vistas aos desafios e efeitos de realidade impostos pela globalização.
Há uma passagem de A Modernidade nos Trópicos que evoco com o propósito de chegar a uma breve consideração relativa à política ou ausência de política de expansão urbana do Recife. Recompondo com fina argúcia analítica as impressões que Freyre recolhe de seus primeiros contatos com a Nova York do início dos anos 1920, já em acelerado processo para converter-se no símbolo mítico da modernidade global, assinala a sensibilidade tradicionalista de Freyre. Daí em parte a crítica deste à arquitetura urbana recortada nas linhas verticais e febris dos skyscrapers. Isso me fez imaginar o horror com que ele hoje observaria essa expansão insensata e predatória do Recife tristemente expressa na corrida em que céu acima se engalfinham Moura Dubeux e Queiroz Galvão esfolando operários cobertos de cal e pó para ver quem primeiro assalta os limites da Torre de Babel. Seguindo sugestão semelhante já proposta por Peter Burke e Fernando Henrique Cardoso, eis aí um tema precioso para os atualizadores críticos da obra de Gilberto Freyre.
Um dos pontos mais altos de A Modernidade nos Trópicos consiste na aproximação que Valéria argutamente traça entre Sobrados e Mucambos e Orientalismo, de Edward Said. Começa frisando conceber Casa-Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos como uma unidade, além de ressaltar a beleza deste evocando juízo certeiro de José Guilherme Merquior. Vale a pena de passagem lembrar que o próprio Gilberto Freyre certa vez referiu-se a este livro como sendo sua obra-prima. Também Darcy Ribeiro propõe que se leia ambos como uma unidade, tanto que no seu entender as duas obras deveriam ser publicadas conjuntamente. Contrastando estas duas partes da celebrada trilogia de Freyre, opõe Valéria as relações de continuidade observáveis em Casa-Grande & Senzala ao rico e complexo tecido de polaridades que estruturam seu prolongamento publicado em 1936. Mas o ponto mais original e fecundo de sua leitura reside sem dúvida na já aludida aproximação entre Sobrados e Mucambos e Orientalismo. Depois de sintetizar o sentido substancial do conceito de orientalismo extraído da obra homônima de Said, passa ela a sustentar e sobretudo comprovar que a obra de Freyre constitui uma expressão de orientalismo às avessas.
A valorização inusitada de nossa herança oriental é já patente em Casa-Grande & Senzala. Ao retomá-la aprofundando-a na obra seguinte, Freyre sem dúvida procede a uma operação interpretativa que converte valores culturais tradicionalmente encarados como negativos, ou mesmo desprezíveis, os de matriz oriental assimilados através dos contatos estabelecidos entre Portugal e Espanha com o Oriente, em valores positivos. É isso, em suma, o que Valéria designa como orientalismo às avessas. Sua demonstração do conceito e do argumento acima esboçado constitui, já frisei, um dos pontos mais altos do seu livro. Melhor deixar que o leitor confira com seus próprios olhos.
Noto que já estiquei bastante meu prefácio sem no entanto sequer mencionar muitos outros aspectos igualmente fecundos e sugestivos de A Modernidade nos Trópicos. Diante disso, vejo-me forçado a encurtar minha incursão pela obra de Valéria. Se o livro é já tão extenso, mas nunca excessivo, é no mínimo inconveniente alongar o prefácio além de certa medida razoável. Concluirei, portanto, fazendo ligeira menção às relações entre o modernismo de São Paulo e o regionalismo de Recife espelhado, como faz Valéria, na ação de liderança intelectual exercida pelos dois intelectuais brasileiros mais decisivos e seminais do século xx: Mário de Andrade e Gilberto Freyre. Valéria lê ambos, assim como os movimentos que lideraram, num registro pautado pelo princípio da convergência. Nesse sentido, propõe aproximações consistentes fundamentadas na obra destes intelectuais que melhor traduziram o sentido culturalmente renovador do modernismo e do regionalismo. A revisão a que procede parece-me ainda necessária, embora outros tenham já felizmente aderido a essa perspectiva. Meu intento, nesse sentido, é lembrar que durante muito tempo prevaleceu na nossa historiografia literária e cultural uma apreciação de ambos os movimentos baseada num princípio de oposição e não raro até de franca hostilidade entre eles. Valéria demonstra o quanto essa apreciação é infundada e foi em certo grau nutrida e incentivada pelos próprios líderes de ambos os movimentos, notadamente Gilberto Freyre. Não posso infelizmente expor aqui esta questão de modo mais adequado. Mas o leitor poderá fazê-lo indo diretamente ao livro de Valéria.
Assentada muita da poeira que por décadas turvou nossa percepção das relações controversas entre modernistas de São Paulo e regionalistas de Recife, assim como as relações entre Gilberto Freyre e a escola uspiana de sociologia, questão acima considerada, parece-me que agora respiramos uma atmosfera ideológica bem mais propícia a apreciações mais precisas e isentas. No que se refere a este quesito, o das relações entre modernismo e regionalismo, importaria fazer a devida justiça cronológica a José Aderaldo Castello, que no seu livro consagrado a José Lins do Rego propõe uma leitura integradora de ambos os movimentos, leitura que Valéria e eu livremente refazemos. Importaria ainda lembrar outros críticos importantes seguidores da mesma pauta integradora: Gilda de Mello e Souza e Antonio Dimas.
Por fim, uma consideração relativa ao nacionalismo cultural que percorre muitas das entrelinhas deste prefácio. Gilberto Freyre e Mário de Andrade são, acima de qualquer dúvida, os grandes representantes brasileiros desta fecunda e controversa corrente cultural e ideológica que impregna o conjunto da nossa vida espiritual. A partir de um certo momento histórico ela se faz tão onipresente, acasalando-se assim com toda a sorte de ideologia e movimento de idéias, até de ausência de idéias, que me ocorreu caracterizá-la como um leito promíscuo, expressão que Valéria adota extraindo assim do anonimato, com um gesto de reconhecimento generoso, um obscuro artigo que escrevi sobre o assunto. Lamento frisar que neste ponto crucial do livro adotamos posições divergentes. Como Valéria, segui apaixonadamente durante anos o enredo do nacionalismo cultural assinado por Gilberto Freyre, no meu caso ainda mais Mário de Andrade. Hoje alcancei um processo de revisão cuja resultante é meu distanciamento de ambos no ponto em que se apóiam nessa ideologia nacionalista para interpretarem o conjunto da nossa experiência cultural, assim como problemas de ordem sociocultural que há muito entravam nosso pleno ingresso na ordem da modernidade ocidental. Mas isso não importa para o leitor, que afinal abriu este livro para ler a autora de A Modernidade nos Trópicos. Espero que a leitura que se segue confirme pelo menos um pouco deste muito que sinceramente nele encontrei: é um dos cinco melhores estudos sobre a obra e vida extraordinárias de Gilberto Freyre.
Fernando da Mota Lima.
Recife, 2 de outubro de 2009.
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