segunda-feira, 13 de junho de 2011

Interpretações da Cultura Brasileira



Nota explicativa – O texto abaixo constitui uma breve introdução a uma série de capítulos nos quais estudo sinteticamente algumas das obras fundamentais incorporadas à tradição do pensamento social brasileiro. A introdução e os capítulos mencionados derivam de uma disciplina sobre cultura brasileira que ministro dentro de um curso à distância coordenado pelo Depto. de Letras da Universidade Federal de Pernambuco. Além dos capítulos individualmente consagrados ao estudo das obras incorporadas ao programa da disciplina, já escrevi e postei no meu blog outros capítulos do programa. É o caso dos textos sobre o conceito socioantropológico de cultura; cultura e conceitos conexos; etnocentrismo, universalismo e relativismo cultural; a cultura brasileira e suas matrizes; modernismo e cultura; modernismo e regionalismo; modernismo, regionalismo e identidade cultural. Esse conjunto de textos, acrescido dos que postarei em seguida, compõe o conjunto do programa da disciplina já mencionada. Assim, especificando-os, virão em seguida: Macunaíma, de Mário de Andrade; Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda; Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior; O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Fechando o conjunto, um capítulo conclusivo sobre cultura, identidade cultural e globalização.

Seguindo o roteiro traçado no programa da disciplina, passarei agora ao estudo esquemático de algumas obras fundamentais da cultura brasileira. Começaria destacando a importância que essa tradição, a dos intérpretes do Brasil, ocupa no conjunto do pensamento social brasileiro. Ela obedece a certas características evidentes nas obras que estudarei nesta seção da disciplina. Antes de tudo, como antes assinalei, ela expressa uma angústia ou obsessão relacionada à nossa identidade cultural. Presos a esse problema, todos os intérpretes que estudarei e já estudei em textos referidos na nota explicativa acima, além de vários artigos postados no meu blog, escrevem obras que remontam às origens da nossa formação sociocultural. Isso é claro em todas as obras que ocupam esta parte do programa que tracei para explorar algumas linhas da cultura brasileira. Algumas das obras aqui consideradas prendem-se mais diretamente à formação cultural, como é o caso de Macunaíma e Casa-Grande & Senzala; outras mais ao ensaio de base histórica e sociológica como observamos em Raízes do Brasil e além disso antropológica,como é o caso de O Povo Brasileiro; outras ainda à interpretação de base econômica, como é o caso de Formação do Brasil Contemporâneo. Lembro que essas distinções são muito esquemáticas, pois as obras que acabo de citar se cruzam ou sobrepõem de muitas formas. Afinal, quase todas obedecem a um estilo de composição ou exposição do assunto típico do ensaio de interpretação sociocultural.

O problema acima mencionado, o da angústia relativa à nossa identidade cultural, é típico de países portadores de um longo passado colonial. Como sabemos, o Brasil é fruto de longo e complexo processo de formação histórica e cultural baseado no encontro e entrechoque das três matrizes da nossa cultura já estudadas em outra aula: a indígena, a lusa e a africana. Mesmo depois da nossa independência política continuamos dependentes da Europa, particularmente da Inglaterra, no plano econômico, e da França, no plano cultural. Mais tarde, já no século 20, essa dependência deslocou-se para os Estados Unidos.

Além disso, ainda hoje sofremos de problemas internos crônicos que tornam nossa inclusão na modernidade muito peculiar ou problemática. Se de um lado já figuramos entre as dez economias mais poderosas do mundo, de outro somos ainda um país dividido por extremos de desigualdade social. Noutros termos, a grande concentração de riqueza continua impedindo a realização de uma autêntica democracia moderna no Brasil. Isso é evidente na qualidade precária dos quesitos que mais importam para definir uma democracia social moderna: habitação, educação, saúde, segurança, transporte, além de um sistema legal ainda baseado em privilégios e desigualdades incompatíveis com as características dos países nos quais procuramos nos espelhar.
Penso que todos esses fatores contribuem de forma decisiva para explicar nossa angústia de identidade e nossa dependência cultural. Acredito que o estudo individual das obras incluídas no programa da disciplina é fundamental para melhor compreendermos esses problemas. Resumindo, precisamos ainda de reformas sociais profundas. Enquanto isso não acontecer, continuaremos presos a essa angústia de identidade que continuamente repõe nos estudos sobre a nossa cultura e no debate cultural brasileiro a questão da nossa identidade cultural, da imitação versus autonomia cultural e temas afins.

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