quarta-feira, 4 de julho de 2012

Máximas e Mínimas V


A justiça é um descuido da lei.

Todo militante precisa de um belo ideal para justificar a supressão do seu objeto de ódio.

Política solidária: uma mão suja a outra.

Viver é apenas a ilusão de ser.

A morte é apenas o nada no avesso do outro nada: a vida.

Vivo; logo, morro.

Ser é doer.

Nado na correnteza, mas também no rio. As águas fluem, mas são ainda o rio.

Vivo no gerúndio sabendo no entanto que algo persiste. Que tempo verbal traduziria essa verdade movente do ser? Soussendo? Souidorei?

Se o Brasil é o país da esperança, então somos o que não somos. Somos o que nunca seremos.

Para o enfermo da esperança, esta é a penúltima que morre.

Quanta gente confunde passividade com bondade. A bondade é uma virtude ativa.

Fruto da conjunção fortuita entre o óvulo e o espermatozoide, a vida é uma doença que herdamos. A morte é sua cura.

O caminho mais curto para afastar-se dos amigos é ir morar perto deles.

Como explicar um país que piora até quando melhora?


Ser simples como a poesia
Que rima luz e verdade
Despida ao meio-dia.

Podemos identificar dois tipos nas relações humanas: o egoísta e o altruísta. Como se mesclam, são portanto tipos impuros, nunca exclusivos. O segundo preza dar, o primeiro vive de receber. Mas estão sempre em luta, sempre se desavindo, pois quem dá quer por egoísmo também receber, enquanto quem recebe quer apenas receber, já que o egoísmo é a força humana mais poderosa.

O amor é de ordinário uma ilusão necessária. Nossa imaginação o inventa para injetar ânimo e sentido em relações enganosas e passageiras. Mas não duvido de que existe. Sei porque amei e fui amado.

O sorriso da razão
Iluminando Voltaire
Derrama em meu coração
O senso que ninguém quer.

O amor veio uma vez
Outra, depois muitas mais.
Mas tudo resumo em três
Que o resto morra em paz.

Está em paz com a vida quem se sabe investido do poder de escolher sua própria morte.

I am in peace with my life because I have eventually the power of choosing my death.

Amar os filhos é apenas uma variante altruísta de egoísmo.

Evito jantar com pessoas que facilmente envenenariam meu prato. Não o fariam por qualquer razão pessoal, apenas por serem de natureza maldosa e destrutiva. Já que algumas são inevitáveis, evito a comida que me oferecem e temo o mero fato de existirem.

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