quarta-feira, 25 de julho de 2012

Por um triz


Por Liz
ou por um triz
não me matei.
Liz passará
sei tudo passa
e eu passarei.
Mas ora e agora
a dor é tanta
tão turva é a hora
e Liz não passa
não vai embora.

E já nem sei
se é isso amor
anúncio de
ou certo gosto
de me iludir.
Liz, perto de
Liz, certo de
de que o quê?
E eu tanto quero
tanto eu queria
te Liz querer.
Amor é isso
um certo modo
de noutro achar-me
pra me perder.

Liz nada diz
e por um triz
vivo a viver.
Mas eu queria
e só queria
por um momento
por um só dia
por Liz morrer.
Pois que morrer
é um outro modo
sutil embora
de em Liz viver.

Liz nada diz
sorrindo passa
ri, acha graça
e até desdiz
o que seu corpo
teima em dizer.


Liz de Paris
Liz de Genebra
ou Igarapeba.
Liz doutro mundo
doutro invisível
que eu viajante
de rasos mares
não viajei.

Liz que me chama
me ensina um passo
toma o meu braço
pra uma dança.
Liz que não cansa
que dança e dança
que vive tonta
para dançar.
Liz que me ensina
astrologia.
Liz, que és de Peixes
Liz, não me deixes
tão vago assim.

Liz, por um triz
é que vivemos
cá deste lado.
E por um triz
porque a vida
ou porque Liz
não quis, não diz
por tudo isso
que é tão pouco
que é por um triz
por tudo isso
tão-só por isso
não fui feliz.

Recife, 28 outubro 1983.

Um comentário:

  1. Que lindo!
    Tô com saudade de ti e tu nem aí.
    Ex-Mulher do papiso.

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